Desmatamento cresce pela 1ª vez em áreas de floresta primária da Amazônia


Por: Ana Cláudia Leocádio

06 de junho de 2025
Desmatamento cresce pela 1ª vez em áreas de floresta primária da Amazônia
Área desmatada após incêndio florestal no sul do Amazonas (Ana Jaguatirica/Arquivo/CENARIUM)

BRASÍLIA (DF) – O aumento de 92% no desmatamento na Amazônia, registrado no mês de maio deste ano, é considerado dramático porque, pela primeira vez, mais da metade da área desmatada corresponde a florestas primárias, consequência dos incêndios que ocorreram no segundo semestre de 2024, avaliou o ministro substituto do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco. Os dados fazem parte do monitoramento diário do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do IInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta sexta-feira, 6, em Brasília.

Em maio de 2025, foram detectados 960 quilômetros quadrados (km²) de desmatamento na Amazônia, enquanto em 2024 foram detectados 500 km², resultado que assustou as autoridades do MMA e do Ministério da Ciência e Tecnologia, principalmente por revelar um percentual elevado de supressão de florestas primárias, que alcançou 51% de todo o desmatamento registrado. Na comparação de agosto de 2024 a maio deste ano, o aumento foi de 9,1%, com a perda de 3.502 km², contra 3.186 km² do mesmo período do ano passado.

Desmatamento na Amazônia tem alta de 92%, aponta Inpe (Reprodução/Deter-Inpe)

Segundo Capobianco, de 2016 a 2023, a taxa de desmate de florestas primárias variou de 11% a 32%, com certa estabilidade, mas agora esse resultado acende um alerta. Ele explicou que o Inpe considera três índices para avaliar os impactos no desmatamento: a mineração, considerando também a ação do garimpo ilegal; o corte raso, com remoção total da floresta; e o desmatamento com vegetação, ocasionado por incêndios, que não chegam a colapsar toda a floresta, a qual ainda tem chances de se regenerar.

Índices de avaliação do desmatamento no Brasil (Reprodução/Deter-Inpe)

Geralmente, o maior impacto no desmatamento ocorre no chamado corte raso, o que já é esperado pelas autoridades do Meio Ambiente, porque envolve vários fatores, inclusive áreas de desmate autorizado. Esse índice ficou em 48% em maio de 2025, enquanto em maio de 2024 foi de 76%. O impacto da mineração foi de 1% no mês passado.

Capobianco explicou que o aumento dramático sobre as florestas primárias reflete as queimadas registradas no segundo semestre de 2024, na Amazônia, e que começam a aparecer agora com o início do período seco no bioma, com menos nuvens, dando mais possibilidades para a identificação pelos satélites do Deter/Inpe. “Isso não é um desmatamento ocorrido em maio; é uma floresta incendiada, a tal ponto que ela chega agora como uma floresta colapsada e, portanto, não é mais floresta, passando a entrar como desmatamento”, explicou o ministro substituto.

Ministro substituto do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco (Fernando Donasci/MMA)

O Deter avaliou, ainda, o impacto dos incêndios nas florestas, no período de agosto de 2024 a maio deste ano, e também identificou aumento substancial sobre as florestas nativas: 23,7%, contra 13,5% no período anterior. Por outro lado, caiu o índice de incêndios em áreas já consolidadas, de 45,9% para 38,4%.

Mas o dado mais assustador é o da área queimada que, nos últimos dez meses, atingiu 47,95% de vegetação natural primária e 7,91% de vegetação secundária, ou seja, mais da metade das florestas naturais.

Nos outros biomas, ao contrário, os resultados são positivos, com queda de 15% no desmatamento do Cerrado em maio, com a perda de 885 km², contra 1.040 km² em maio de 2024. No acumulado de dez meses, a queda foi de 22%.

No Pantanal, que no ano passado enfrentou uma crise com os incêndios florestais, a queda das queimadas foi de 99% em maio deste ano, enquanto a supressão florestal caiu de 51 km² para 18 km², o que corresponde a 65%.

Todos os países precisam colaborar

Segundo o ministro substituto João Paulo Capobianco, esse novo quadro é reflexo das mudanças climáticas, que têm causado secas frequentes na Amazônia, o que contribui para o desmatamento no bioma. Essa nova realidade exige — disse ele — que seja entendida como responsabilidade comum de todos os países signatários da Convenção do Clima, porque não é uma realidade apenas do Brasil, mas do mundo como um todo.

No Brasil, cerca de 40% das emissões dos gases do efeito estufa são provenientes do desmatamento, daí a preocupação com as medidas de prevenção e mitigação, porque o país tem a meta de desmatamento zero até 2030, além dos compromissos climáticos firmados para a 30ª Conferência das Nações Unidas para a Mudança do Clima (COP30), que ocorre em novembro, em Belém.

Com o agravamento das mudanças climáticas, com a maior fragilidade da cobertura florestal — primária, inclusive — estamos começando a assistir a uma mudança de cenário que comprova os alertas que vinham sendo feitos pela ciência: de que a floresta tropical, que é naturalmente imune a grandes incêndios pela sua umidade, está sofrendo impacto muito grande das mudanças climáticas, reduzindo a sua resistência a incêndios e tornando-se mais vulnerável”, ressaltou Capobianco.

O diretor para Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência e Tecnologia, Osvaldo Moraes, alerta para os impactos dessas alterações climáticas na vida dos seres humanos, porque somente neste século a Amazônia já passou por pelo menos cinco grandes secas — a primeira em 2005 e as piores em 2023 e 2024.

“Se nós formos comparar as últimas secas na Amazônia, vamos ver uma aceleração impressionante desse fenômeno, com impacto em um número surpreendente de pessoas”, afirmou. Moraes lembra que, em 2005, nenhum município teve o decreto de emergência reconhecido pelo governo federal, ao passo que, em 2024, 70% de todas as cidades da região entraram em emergência, o que corresponde a pelo menos 10 milhões de pessoas.

O diretor para Clima e Sustentabilidade do Ministério de Ciência e Tecnologia, Osvaldo Moraes, durante pronunciamento (Rogério Cassimiro/MMA)
Medidas do governo federal

Capobianco reiterou todas as medidas já planejadas pelo governo federal para a prevenção e combate aos incêndios em todos os biomas, sobretudo na Amazônia, onde o alerta exige um aprofundamento das ações. Isso também exige o fortalecimento do pacto federativo com Estados e municípios, segundo ele, que precisam trabalhar juntos para melhorar esse quadro.

Dentre as medidas estão a aprovação da Lei 14.944/2024, que instituiu a Política Nacional do Manejo Integrado do Fogo, atualmente em fase de implementação. Foi aprovado, este ano, o repasse de R$ 825 milhões para o fortalecimento institucional do Ibama no combate ao desmatamento e incêndios, além da destinação de R$ 405 milhões para as unidades federativas da Amazônia investirem no fortalecimento dos corpos de bombeiros voltados à prevenção e controle de incêndios florestais.

Também foi lançado um edital do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) e do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD), no valor de R$ 30 milhões, para apoio ao fortalecimento das ações de controle de incêndios florestais em municípios críticos da Amazônia e do Pantanal. Há ainda o Programa União com Municípios, que destinará R$ 780 milhões para os 60 municípios prioritários que aderiram às ações de regularização ambiental.

Paralelamente a isso, o Ibama segue com as ações de fiscalização, que consistem nas verificações in loco, autos de infração, embargos de áreas irregulares e promoção de ações civis públicas na Justiça contra os degradadores.

Leia mais: Dados integrados ajudam a combater desmatamento ilegal na Amazônia
Editado por Adrisa De Góes

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