Desmatamento da Amazônia causa perdas bilionárias à economia brasileira, diz estudo
Por: Fred Santana
23 de outubro de 2025
MANAUS (AM) — O desmatamento da Amazônia já provoca perdas bilionárias à economia brasileira, com impactos diretos sobre a geração de energia, a agropecuária, o abastecimento de água e as hidrovias. Relatório divulgado pelo Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio) e pelo projeto Amazônia 2030 mostra que o desmatamento do bioma afeta os chamados rios voadores — correntes de umidade formadas pela evapotranspiração da floresta —, reduzindo as chuvas em várias regiões do País e comprometendo a base hídrica de setores estratégicos.
As consequências já são mensuráveis: as hidrelétricas Itaipu e Belo Monte deixaram de gerar, juntas, cerca de 3.700 GWh por ano, volume equivalente ao consumo anual de todo o Estado de Rondônia. O prejuízo financeiro ultrapassa R$ 1 bilhão por ano.
“A floresta é um ativo econômico essencial para o Brasil. O desmatamento não é apenas uma questão ambiental, mas uma ameaça concreta à segurança energética e à estabilidade climática do País”, afirmam os pesquisadores Gustavo Pinto e João Pedro Arbache, autores do estudo.
Abastecimento, lavoura e indústria em risco
Os efeitos da derrubada da floresta se estendem muito além da energia elétrica. O relatório aponta que o sistema Cantareira, responsável por abastecer cerca de nove milhões de pessoas em São Paulo, pode ter sua oferta comprometida com a redução das chuvas trazidas pelos rios voadores.
No campo, as consequências também são graves. O setor agropecuário, que responde por 24% do PIB do agronegócio nacional, é altamente dependente da chuva — apenas 13% das áreas agrícolas brasileiras contam com irrigação.
Entre 2013 e 2022, a seca causou perdas de R$ 186 bilhões na agricultura e R$ 64 bilhões na pecuária. “A Amazônia regula o regime de chuvas que sustenta a produção agrícola. Quando a floresta cai, a produtividade despenca”, reforçam os autores.
A escassez de água também alimenta o avanço das queimadas: em 2024, mais de 30 milhões de hectares foram atingidos por incêndios, um aumento de 79% em relação ao ano anterior. O prejuízo total ultrapassou R$ 14 bilhões, incluindo R$ 8 bilhões em perdas na pecuária e pastagens.

Hidrovias e economia sob pressão
As secas extremas vêm prejudicando também as hidrovias brasileiras, responsáveis por escoar grãos e insumos. Em 2024, o Rio Madeira atingiu profundidade histórica mínima de 25 centímetros, interrompendo o transporte em Porto Velho (RO).
O impacto financeiro chegou a R$ 622 milhões apenas para a empresa Hidrovias do Brasil. “O desmatamento ameaça o sistema logístico nacional, reduz a navegabilidade dos rios e encarece a exportação de commodities”, destaca o relatório.

Até 2050, entre 10% e 47% da floresta podem sofrer distúrbios que comprometeriam, de forma irreversível, a oferta de serviços ecossistêmicos, como a regulação climática e a distribuição de chuvas. Os pesquisadores defendem a continuidade e o fortalecimento de políticas públicas como o PPCDAm, que, entre 2004 e 2014, reduziu o desmatamento em cinco vezes.
“A proteção da Amazônia é um imperativo estratégico nacional. Manter a floresta em pé é garantir água, energia e estabilidade econômica para o Brasil”, concluem Pinto e Arbache.