Desmatamento na Amazônia cai 11%; três Estados concentram quase 80% da área destruída


Por: Ana Cláudia Leocádio

30 de outubro de 2025
Desmatamento na Amazônia cai 11%; três Estados concentram quase 80% da área destruída
Entre os nove Estados que compõem a Amazônia Legal, o Pará lidera em área desmatada, com 2.098 km² de florestas derrubadas (Alex Ribeiro/Agência Pará)

BRASÍLIA (DF) – A taxa de desmatamento na Amazônia registrou uma queda de 11,08%, no período de um ano, com quase 80% do desmate concentrado nos Estados do Pará, Mato Grosso e Amazonas. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 30, pelos ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em Brasília (DF). A taxa é considerada a menor registrada em 11 anos e a quarta ano consecutivo de redução, após oito anos de alta.

O resultado faz parte do monitoramento realizado anualmente pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que detecta corte raso e desmatamento por degradação progressiva, com precisão de imagens de satélite entre 10 e 30 metros. A análise abrange o período de 1º de agosto de 2024 a 31 de julho de 2025.

Segundo o coordenador do Programa BiomasBR-Inpe, Cláudio Almeida, no período analisado foram suprimidos 5.796 km² de florestas na Amazônia Legal, ante 6.518 km² registrados em 2024, uma queda de 11,08%, pelo quarto ano consecutivo de redução da taxa de desmatamento, após oito anos de alta. Se comparada a 2022, quando foram suprimidos 13.038 quilômetros quadrados do bioma, a queda supera os 50%, segundo Almeida.

Os incêndios florestais registrados em 2024, sobretudo entre agosto e novembro, conforme o especialista, contribuíram para redução menor da taxa de desmatamento em 2025, se comparada com a anterior, que foi de 30,6%. O Secretário Extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento. Ambiental Territorial do MMA, André Lima, disse que, este ano, a redução do número de incêndios já supera os 50%, se comparado à média dos últimos sete anos, o que traz alívio para os biomas.

De acordo com Cláudio Almeida, chama a atenção do monitoramento o incremento da área desmatada com degradação progressiva, que em 2025 atingiu 38% da área total, contra 7% em 2022. Esse avanço dragou 2.203 km² de florestas somente neste período analisado.

O secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, lamentou a ocorrência dos incêndios no ano passado, que foram influenciados pelas condições climáticas atípicas de seca, aliados às ações criminosas. Sem as queimadas, o secretário estima que a queda na taxa de desmatamento do Brasil seria a menor desde 1988, ou seja, superior a 30%.

O secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco (Rogério Cassimiro/MMA)

No Cerrado, a queda foi de 11,49%, saindo de 8.174,17 km², ano passado, para 7.235,27 km², em 2025, a segunda redução consecutiva no bioma.

Pará lidera área desmatada

Entre os nove Estados que compõem a Amazônia Legal, o Pará lidera em área desmatada, com 2.098 km² de florestas derrubadas, ou 36,2% do total do bioma. Anfitrião da 30ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima (COP30), que começa em novembro em Belém (PA), o Estado também registrou a menor queda na taxa de desmatamento de 2024 para 2025, com 12,4% de redução, resultado considerado positivo pelo MMA porque mantém a tendência de redução ativa.

Mato Grosso aparece na segunda posição de áreas mais desmatadas, com 1.572 km², o que corresponde a 27,12%. O Estado foi o único entre os nove a registrar aumento de desmatamento, no período de um ano, com uma elevação de 25.05%, causados na maior parte pelos incêndios ocorridos ano passado em seu território.

O Amazonas figura em terceiro no ranking de maior área desmatada com a supressão de 1.016 km², o que corresponde a 17,53% do bioma. Depois do Pará, foi também o Estado a registrar a menor taxa de redução (16,93%), mas os técnicos destacam a curva descendente do Estado que, desde 2023, vem conseguindo reduzir o desmate em seu território. Os demais Estados têm uma participação que varia entre 5% a 0,21% na área global desmatada na Amazônia.

A maior queda na taxa de desmatamento foi registrada em Tocantins, de 62,5%, seguida do Estado de reduziu em 48,15%, depois de ter registrado alta em 2024. Roraima também apresentou queda de 37,39% em um ano, depois da alta do ano passado.

Vista aérea de área desmatada na Amazônia (Marizilda Cruppe/Greenpeace)

Desde 2021, o Estado de Rondônia vem registrando quedas sucessivas no desmatamento, com uma redução de 33,61% em 2025. O Acre também segue o exemplo do estado vizinho, e registra uma curva descendente desde 2021, atingindo uma queda de 27,62%, em 2025. Por último está o Maranhão, após dois anos sem registrar queda significativa na taxa de desmatamento, em 2025, conseguiu reduzir em 26,06%.

Resultado é comemorado

Ao iniciar a fala durante a apresentação dos resultados do Prodes, a ministra do MMA, Marina Silva, agradeceu duplamente a Deus. Primeiro por estar na sala da entrevista coletiva e, segundo, pela queda registrada na taxa do desmatamento. Depois dos incêndios de 2024, que revelaram um avanço do desmatamento em áreas de florestas naturais, havia o receio de aumento na taxa.

Para a ministra, mais que alívio pelas melhores condições climáticas deste ano, o resultado positivo também é fruto de toda a reestruturação pelo que passou a pauta ambiental no Brasil, desde 2023, e o incremento das políticas públicas, tanto na fiscalização quanto na implantação de novos projetos voltados para as pessoas que habitam a floresta.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rogério Cassimiro/MMA)

É um esforço, segundo ela, para que o Brasil consiga alcançar a meta de desmatamento zero até 2030. Os presidentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, e  Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires, apresentaram a evolução do trabalho nesses três anos dos órgãos, que ajudaram o País a derrubar as taxas pelo quarto ano seguido.

“A redução do desmatamento na Amazônia pelo terceiro ano consecutivo nesta gestão e no Cerrado pelo segundo ciclo seguido é a confirmação de que a agenda ambiental é prioritária e transversal no governo do presidente Lula. Isso é fundamental para que o País contribua ao enfrentamento à mudança do clima a nível global, o que beneficia diretamente a vida dos brasileiros e brasileiras, que já enfrentam, em diferentes medidas, os impactos crescentes do aquecimento global em forma de eventos extremos, por exemplo”, afirmou Marina.

Marina lembrou que o MMA é acusado de ser um ministério ideológico, por conta das políticas que tem implementado no sentido de propor um novo ciclo de prosperidade, que considere a proteção ao meio ambiente. “Pode ter certeza: nunca teve tanta ciência para poder alcançar esses resultados”, disse.

O secretário André Lima destacou a importância da “mudança de chave” no tratamento das áreas prioritárias na Amazônia, como a região conhecida como Amacro, que compreende os Estados do Amazonas, Acre e Rondônia, onde o MMA mudou o foco com a adoção de novas políticas públicas voltadas para os produtores rurais e não apenas a intensificação da fiscalização. Em um ano, 70 municípios prioritários, que mais desmatavam, já registraram queda de 50% na taxa, segundo Lima.

Organizações avaliam resultado

Para o Greenpeace, o resultado na queda da taxa de desmatamento é positivo, mas ainda há espaço para avanços. “É fundamental estabelecer salvaguardas permanentes e institucionalizadas, que não dependam de ciclos ou disposição governamental, além de assegurar a implementação de planos de ação robustos para períodos de maior vulnerabilidade climática”, disse a porta-voz da frente de Desmatamento Zero do Greenpeace Brasil, Ana Clis Ferreira.

Segundo a organização, essa é também oportunidade única para o Brasil liderar um plano de ação global visando o fim do desmatamento e da degradação florestal até 2030, aproveitando sua experiência e legitimidade na agenda de conservação de florestas. “Esse é um momento chave para a liderança ambiental do Brasil. Exemplo internacional no combate ao desmatamento e presidente da COP30, o Brasil tem nas mãos a chance de fazer história”, afirmou a especialista em política internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim.

Na avaliação do Observatório do Clima, o resultado é uma conquista da sociedade brasileira, merece ser comemorada e ensina duas lições e lança dois alertas.

A primeira lição é que o desmatamento zero está ao alcance e só depende de o governo e a sociedade quererem chegar lá. A organização lembra que o governo Lula assumiu com uma alta de 50% nos alertas de desmatamento no último semestre de 2022, após quatro anos de descontrole deliberado, e devolveu a devastação aos mesmos patamares da redução do período 2011-2014, mesmo após o recorde de queimadas de 2024. “É uma prova de que a cesta de políticas públicas de repressão ao crime ambiental criadas sob a batuta de Marina Silva a partir do primeiro governo Lula ainda funciona”, declarou em nota.

A segunda lição destaca que o papel do Ibama, afinal, não é “contra o governo”, como chegou a declarar Lula quando tentava pressionar o instituto a liberar a licença para petróleo na Foz do Amazonas. “O mesmo Ibama pressionado e criticado por Lula entregou um dos melhores resultados de seu terceiro mandato”, reitera a nota.

Quanto aos alertas, o primeiro ressalta que as reduções ficarão mais difíceis daqui para a frente e mais dependentes de alternativas econômicas que ainda faltam para a região. E os setores que lucram com a destruição, acuados, ficarão mais perigosos.

O segundo alerta é que o controle de emissões de gases de efeito estufa precisará cada vez mais ser feito em outros setores. O Observatório cita como exemplo a expansão da produção do petróleo, que contraria a ciência e sabota a COP30. “A redução do desmatamento não pode servir como justificativa para o Brasil virar um petroestado”, afirma o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.

Leia mais: Amazônia registra menor desmatamento em agosto desde 2017
Editado por Jadson Lima

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