Desmatamento na Amazônia pode atingir 20 vezes o tamanho de SP até 2025


24 de novembro de 2023
Agropecuária é uma das principais responsáveis pela devastação florestal na Amazônia (Bruno Kelly/Greenpeace)
Agropecuária é uma das principais responsáveis pela devastação florestal na Amazônia (Bruno Kelly/Greenpeace)

João Felipe Serrão – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – Entre 2023 e 2025, a Amazônia pode perder três milhões de hectares de vegetação nativa, caso medidas mais efetivas de fiscalização não sejam tomadas. A área que pode ser derrubada é maior que o Estado de Alagoas e corresponde a 20 vezes o tamanho da cidade de São Paulo. A projeção é do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

A análise faz parte de uma pesquisa que calculou, pela primeira vez, a ameaça de destruição da floresta com base nas zonas potenciais de compra dos frigoríficos ativos na região.

Segundo a pesquisa, a ameaça de destruição futura foi estimada levando em conta variáveis como a inclinação do terreno; distância para rios, estradas e frigoríficos; classe territorial (como Terras Indígenas (TIs), Unidades de Conservação (UCs)) e proximidade de derrubadas recentes e antigas.

Devastação

Para o ambientalista e ecólogo Carlos Durigan, o País tem uma legislação satisfatória em defesa do bioma, mas, para evitar a devastação, é fundamental fortalecer as instituições responsáveis pelas políticas públicas socioambientais.

“O Brasil possui um bom arcabouço legal e normativo para respaldar ações de conservação e proteção de nosso patrimônio natural, mas, infelizmente, nossa estrutura de gestão ambiental, que inclui ações de controle e fiscalização, não dão conta do tamanho dos desafios que enfrentamos atualmente”, afirmou o especialista.

O geógrafo e ambientalista Carlos Durigan (Divulgação/WCS)

A estimativa é um dos três indicadores que o estudo usa para mostrar o quanto os frigoríficos estão ligados aos riscos de desmatamento da Amazônia, que inclui também informações sobre a derrubada ocorrida e o quanto foi embargado pela devastação ilegal. Ambas são referentes ao que ocorreu dentro das áreas de provável aquisição de animais no período de 2008 a 2021.

O trabalho do Imazon apontou que a relação dos frigoríficos com a destruição da floresta passou de 6,8 milhões de hectares, em 2016, para 14,2 milhões de hectares em 2022. Um crescimento de 108% em seis anos.

Abate ilegal

A Amazônia Legal teve um aumento de 14% no número de plantas frigoríficas ativas entre 2016 e 2022. Também houve um crescimento de 5% na capacidade de abate de animais. O estudo afirma que apesar dos aumentos, as empresas adotaram poucas medidas para barrar a entrada de carne ilegal no mercado. 

Em 2016, apenas 35 empreendimentos haviam assinado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público Federal (MPF) para não comprar animais oriundos da derrubada irregular da Amazônia, enquanto 63 ignoraram o acordo. Em 2022, o número de empresas signatárias passou para 47, 34% a mais.

O estudo do Imazon também afirmou que, ainda assim, as empresas que assinaram o TAC não conseguem garantir que seus produtos sejam isentos da devastação ilegal, já que não há controle dos fornecedores indiretos.

Os frigoríficos prestam contas ao MPF, mas apesar de estarem legalizados, podem ter adquirido animais de fazendas irregulares. A prática é conhecida como “lavagem de gado”.

Algumas empresas já sinalizaram medidas para combater a prática, por meio da exigência da rastreabilidade de todos os bovinos desde o nascimento, mas apenas para depois de 2025. Um dos autores do estudo, o pesquisador Paulo Barreto, classificou o prazo como “inaceitável”, principalmente, por representar o desmatamento de uma área do tamanho de Alagoas.

Pesquisador Paulo Barreto do Imazon (Mauro Lazaro/Imazon)

“Isso aumentará significativamente as emissões brasileiras de gases de efeito estufa em um momento de emergência climática que traz consequências como as secas no Norte e as chuvaradas no Sul. Se forem tomadas medidas urgentes focadas nas principais zonas de compra, já será possível evitar grande parte da derrubada prevista”, explicou o pesquisador.

Editado por Yana Lima
Revisado por Adriana Gonzaga

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