Desmatamento recua no Brasil, mas avança no Acre e Roraima


Por: Ana Cláudia Leocádio

15 de maio de 2025
Desmatamento recua no Brasil, mas avança no Acre e Roraima
Área desmatada em Lábrea, no sul do Amazonas, Estado da Amazônia Legal (Ana Jaguatirica/CENARIUM)

BRASÍLIA (DF) – Enquanto o desmatamento em todo o Brasil registrou queda de 32,4%, Acre e Roraima, dois dos nove Estados que compõem o bioma Amazônia, apresentaram crescimento. É o que mostra o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil 2024, divulgado nesta quinta-feira, 15, pelo MapBiomas Alerta, em Brasília.

Foram analisados dados referentes aos seis biomas que compõem o território brasileiro, de 2019 a 2024, com dados validados por imagens de satélite de alta resolução: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampa e Mata Atlântica. O MapBiomas explicou que não é possível asseverar o que é legal ou ilegal na validação dos dados, porque há supressões de floresta que são autorizadas pelos órgãos de controle.

Cerrado e Amazônia são responsáveis por mais de 83% da área desmatada no País, segundo o relatório. O Cerrado apresentou queda de 41% nas áreas desmatadas em 2024, comparada a 2023, ainda assim, lidera o ranking, pois concentra 52,5% do desmatamento total. A pressão maior ocorre na área conhecida com MATOPIBA, formada por áreas nos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde estão 75% do desmatamento do bioma.

Mapa mostra áreas críticas de desmatamento (Reprodução/Mapbiomas Alerta)

Em segundo está a Amazônia, que teve uma queda de quase 17% no desmatamento, no ano passado, mas concentrou 30% de toda a área desmatada no Brasil, dos quais 88% apresentam indícios de ilegalidade. Em seis anos, o bioma amazônico perdeu 6.647.146 hectares de florestas. Em 2024, foram 700.063 hectares, uma redução de 28% em relação a 2023.

A maioria dos Estados amazônicos apresentaram queda nos índices de desmatamento, em 2024, mas o MapBiomas detectou aumento no Acre (31%) e Roraima (8%). As maiores quedas nos índices de desmatamento foram registradas no Amapá (56%), Rondônia (50%) e Mato Grosso (43%). Em seguida estão Maranhão (34%), Tocantins (33%), Pará (15%) e Amazonas (9%).

Relatório mostra Estados que mais e menos desmataram (Reprodução/Mapbiomas Alerta)

Ainda que tenha registrado queda de 2023 para 2024, o Pará é o estado com maior área desmatada no acumulado de 2019 a 2024, com cerca de 2 milhões de hectares desmatados, uma participação de 12,6% no desmatamento no período de seis anos.

Pelo segundo ano consecutivo, o Estado do Maranhão lidera o ranking do desmatamento, mesmo com redução de 34,3% na área desmatada, totalizando 218.298,4 de hectares de vegetação nativa perdida em 2024. O MapBiomas esclareceu que os quatro Estados do MATOPIBA estão presentes entre as cinco unidades da federação que mais desmataram em 2024. Junto com o Pará, representam mais de 65% da área desmatada no Brasil.

Vetor de pressão

Os analistas identificaram, ainda, os vetores de pressão ao desmatamento, com a pecuária respondendo por mais de 97% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos seis anos. Em seguida, está o garimpo que pressiona sobretudo as florestas na Amazônia.

O terceiro vetor de pressão para o desmate é uma contradição para os pesquisadores, porque envolve as estratégias de desenvolvimento de energia limpa no esforço de reduzir o uso de combustíveis fósseis, como placas solares e estruturas eólicas. “Dos desmatamentos associados aos empreendimentos de energia renovável desde 2019, 93% estão concentrados na Caatinga”, informa o relatório.

Situação dos municípios

O levantamento mostra que, dos 5.572 municípios brasileiros, 2.990 (54%) tiveram pelo menos um evento de desmatamento detectado e validado em 2024. Os dez que mais desmataram, ano passado, responderam por 10,2% do total de desmate validado no País.

Dos dez municípios que mais desmataram, seis estão na Amazônia: Lábrea, Novo Aripuanã e Apuí, no Amazonas; Paranã (TO); Portel (PA) e Colniza (MT). O município de São Desidério (BA) lidera o ranking como o que mais desmata, seguido de Balsas, no Maranhão. Completam a lista Sebastião Leal (MA) e Corumbá (MS).

Ranking mostra dez municípios que mais desmatam no País (Reprodução/Mapbiomas Alerta)

Conforme o MapBiomas Alerta, o município de Lábrea, localizado a 702 quilômetros de Manaus, no sul do Amazonas, ocupava em 2023 a 22ª posição no ranking dos municípios que mais desmatam. Agora, aparece em terceiro, um aumento de 19,1% em relação a 2023. Os quatro municípios com maiores aumentos proporcionais estão no Piauí: Canto do Buriti, Jerumenha, Currais e Sebastião Leal.

Analista do Imazon, parceiro do MapBiomas, Larissa Amorim afirma que o maior alerta de desmatamento foi registrado em Novo Aripuanã, com 1.807 hectares, que corresponde à área administrativa do Distrito Federal Riacho Fundo, onde moram 50 mil pessoas.

Os municípios que formam a área de desenvolvimento conhecida como AMACRO, integrada pelos Estados do Amazonas, Acre e Rondônia, apresentaram queda pelo segundo ano consecutivo. Em 2024, houve uma redução de 13% no desmatamento, comparado a 2023.

Áreas protegidas

O levantamento também identificou qu, 43,9% da área desmatada em Unidades de Conservação (UCs) no Brasil aconteceram na Amazônia, com 25.424 hectares. Desse total, 45% estão localizados em Áreas de Proteção Ambiental (APAs). Nas UCs de Proteção Integral, a redução foi de 57,9%, com supressão de 4.577 hectares em 2024. A maior área afetada ocorreu na APA Triunfo do Xingu (PA), localizada entre os municípios de Altamira e São Félix do Xingu, no Pará, ainda que tenha registrado redução de 31,7% em relação a 2023.

Um dado, porém, ligou o alerta dos pesquisadores porque pela o desmatamento em terras indígenas (TIs) chegou a 1,3%, enquanto em 2023 esse índice era de 1,1%. Segundo o relatório, 33% das TIs no Brasil tiveram ao menos um evento de desmatamento detectado em 2024.

Objetivo do levantamento

Realizado desde 2019 pelo MapBiomas, o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil 2024 é uma ferramenta elaborada e tornada pública para orientar governos, sociedade civil e setor privado nos planejamentos e estratégias para prevenir e combater o desmatamento.

O Brasil tem a meta de taxa zero até 2030. Na semana passada, após detectar aumento de 55% nos alertas no mês de abril, o governo federal realizou uma reunião com diversos ministérios da cadeia de comando controle e reativou a sala de situação instalada na Casa Civil, para acompanhar a situação nos próximos meses.

O representante da Coalizão Floresta, Clima e Agricultura, Fernando Sampaio, que representa a Associação das Indústrias dos Exportadores de Carne, disse que a concentração do desmatamento em algumas regiões, como o MATOPIBA, preocupa e traz um desafio em saber separar o que é legal do ilegal, e definir os produtores que podem ser regularizados e reinseridos na cadeia produtiva. Cobrou ainda providências sobre a especulação fundiária, que também pressiona o desmatamento no Brasil.

O secretário Extraordinário do Controle do Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima (MMA), André Lima, afirmou que atualmente os seis biomas têm seus planos de combate ao desmatamento, que podem ser acompanhados e cobrados.

Desmatamento no Campo do Azulão, em Silves, no Amazonas (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

Além de destacar o papel dos agentes públicos no trabalho de combate ao desmatamento, Lima também destacou a contribuição da Justiça com o cumprimento de ações impetradas para obrigar o Estado a agir, como diversas Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPFs), que foram ajuizadas no Supremo Tribunal Federal (STF) e estão em execução.

Ele também falou da importância do trabalho conjunto com os estados que, pelas legislações vigentes, têm a responsabilidade de liberar as autorizações de supressão de floresta nativa. “Quanto menos a gente depender das ações do governo federal, maior é o indicador de sucesso de que o País está realmente avançando”, ressaltou.

Outros destaques do Relatório
  • Redução na área de desmatamento para todos os biomas do País, com exceção da Mata Atlântica, que se manteve estável após queda relevante no ano anterior;
  • No Pantanal, houve a maior redução proporcional na área desmatada, uma queda de 59% em relação a 2023;
  • Nos últimos 6 anos, o Brasil perdeu cerca de 9.880.551 hectares de vegetação nativa, área equivalente à Coreia do Sul;
  • Pelo segundo ano consecutivo, as formações savânicas foram as áreas mais desmatadas, 52,4% no Brasil, seguidas das formações florestais (43,7%);
  • Entre abril e maio de 2024, eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul resultaram em grandes perdas da vegetação nativa no Estado, aumento de 70%;
  • Goiás registrou queda de 71% na área desmatada, passando de 69.388 hectares em 2023 para 19.467 hectares em 2024;
  • Entre os cinco Estados com maior área desmatada em 2024, a Bahia, que ocupa a quinta posição, registrou a maior queda, 54,2%;
  • Dos 50 municípios que mais perderam vegetação nativa em 2024, 18 estão presentes na Lista dos municípios prioritários na Amazônia;
  • O dia com maior área desmatada no Brasil em 2024 foi 21 de junho. Em um único dia, foi desmatada uma área equivalente a 3.542 campos de futebol;
  • Somente no Cerrado, foram perdidos 1.786 hectares por dia de vegetação nativa;
  • Na Amazônia, foram perdidos 1.035 hectares por dia, o que equivale a cerca de sete árvores por segundo;
  • Do total de 62.508 imóveis cadastrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) com desmatamento validado em 2024, 46,3% foram reincidentes, ou seja, já tiveram registro de desmatamento em anos anteriores, e 38,8% dos imóveis no CAR com alerta de desmatamento estão concentrados na Amazônia;
  • Para o ano de 2024, foram identificados 4.481 alertas (7% do total) sem indícios de irregularidade ou ilegalidade no Brasil, o que indica que 93% dos alertas tiveram algum indício de irregularidade.

Fonte: MapBiomas Alerta

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Editado por Adrisa De Góes

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