Despejo de lixo em rio afeta pesca nas ilhas de Belém
Por: Fabyo Cruz
04 de junho de 2025
BELÉM (PA) – Pescadores e moradores das comunidades ribeirinhas das ilhas de Cotijuba e Arapiranga, em Belém (PA), denunciaram o despejo ilegal de lixo e lama no rio por embarcações que operam na região. Em vídeos e relatos gravados por moradores, redes de pesca aparecem cobertas por resíduos como sacolas plásticas, copos descartáveis e embalagens diversas. Segundo os denunciantes, o material é despejado por um navio responsável por obras de dragagem, que vem operando nas proximidades da ilha.
Veja o vídeo:
“Aqui na minha praia apareceu muito lixo. Papel de menta, saco plástico, copo descartável… Todo tipo de sacola. Disseram que é desse navio que está cavando pra ir pra Belém”, relata um pescador, que vive à beira do Rio Cotijuba, em áudio compartilhado no WhatsApp. “Eles estão derramando essa lama aqui na ponta da Ilha do Arapiranga, próximo ao estancamento”, completa.
A embarcação denunciada seria uma draga que, segundo os moradores, passa diariamente entre as praias de Cotijuba e Mosqueiro, indo em direção da capital Belém. O trajeto do navio incluiria despejos nas proximidades do Igarapé do Jandiaquara, em uma área usada tradicionalmente para pesca artesanal.
“Ele fazia o percurso e jogava esse lixo lá. A maré traz esse lixo pra cá, pras nossas praias. Antes era raro ver garrafa pet aqui na beira. Agora é muito lixo boiando. Enrola na hélice do motor da rabeta e para tudo”, reclama o ribeirinho.
O impacto ambiental é visível e atinge diretamente a subsistência da população local. Em um vídeo enviado por moradores, um pescador mostra sua rede completamente tomada por resíduos.
“Olha a situação da rede: cheia de lixo. Muito saco, muito descartável. Fica difícil assim, né? Podia jogar isso na casa do governador [do Pará, Helder Barbalho], porque ele não depende do rio. Quem depende somos nós. A gente tira nosso sustento daqui, mas assim fica impossível”, desabafa.
Reação
O caso gerou indignação entre ativistas ambientais. João do Clima criticou, à Cenarium, o que chamou de “repetição de agressões” aos povos das ilhas.
“Tivemos, recentemente, o vazamento de óleo, e agora mais esse derramamento de lixo e lama. As ilhas de Belém continuam sendo atingidas por grandes empresas e embarcações que utilizam nossos rios, nossas terras, e nos prejudicam. Essa é a cidade da COP30, que se propõe a discutir o clima e o meio ambiente, mas que abandona e marginaliza o povo insular”, afirmou.

Para o ativista, o caso escancara as contradições entre os discursos de preservação ambiental e a realidade enfrentada pelas populações ribeirinhas da Amazônia, que continuam sendo as mais afetadas por atividades predatórias em seus territórios.
Até o momento, não houve manifestação oficial das autoridades ambientais ou da empresa responsável pela draga mencionada nas denúncias. Os moradores afirmam que pretendem organizar um dossiê com vídeos, fotos e coordenadas dos pontos afetados para apresentar ao Ministério Público e a órgãos de fiscalização ambiental.
A reportagem solicitou posicionamentos à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) sobre o caso. A pasta informno que: “não foi notificada sobre o caso, mas irá apurar a denúncia”.
Também foi solicitada nota à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), mas ainda não obtevemos retorno. A CENARIUM segue à disposição para esclarecimentos.