Destaque na luta pelos direitos indígenas no Brasil, deputada Joênia Wapichana confirma presença na COP 26

A deputada Joênia Wapichana é a presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Povos Indígenas. Crédito da foto: Tiago Miotto/MNI (Reprodução: CIMI)
Gabriella Lira – Da Cenarium

MANAUS – Um dos nomes de destaque na luta pelos direitos dos povos indígenas no Brasil, a deputada Joênia Wapichana (Rede/RR) confirmou, nesse sábado, 30, presença na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 26), em Glasgow, na Escócia. A participação da primeira mulher indígena eleita deputada federal do País no evento era incerta, já que ela havia feito um pedido à comissão responsável pela participação dos representantes do Brasil no evento, mas não tinha obtido resposta.

Joênia participará da primeira semana da conferência mundial, no período de 3 a 7 de novembro. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), informou aos deputados que pretende conduzir a comitiva à COP 26. Segundo ele, ao menos dez parlamentares estavam autorizados para a viagem. O nome de Joênia não constava na lista, mas, entre os selecionados, estava a deputada federal Carla Zambelli, que não cumpre a regra principal do evento para entrar no Reino Unido: estar vacinada.

Wapichana foi eleita deputada federal em 2018 com 8.491 votos, em Roraima, após 190 anos de parlamento no Brasil. A deputada ocupa hoje uma das oito cadeiras do Estado na Câmara dos Deputados. Para celebrar a conquista, a parlamentar realizou, na quinta-feira, 28, a live “1.000 Dias de Mandato Indígena”.

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“É um dia muito importante para a nossa vida, para a minha, particularmente. Ser a única representante indígena nunca me deixou com o sentimento de que eu estaria sozinha, mas com o povo indígena, seja com o meu povo de Roraima ou o de Brasília”, destacou a deputada Joênia Wapichana.

A parlamentar salientou que o propósito da candidatura dela é dar voz aos povos tradicionais no Congresso Nacional, em defesa dos interesses e direitos indígenas. “É um mandato que veio furar essa ‘bolha’ que não nos deixava entrar numa representação que é tão importante para todos do Brasil, uma representação política. Eu sempre pensei que o verdadeiro sentido da política é construir propostas para melhorar a condição de vida das pessoas. É nesse sentido que trabalhamos em prol dos direitos coletivos indígenas”, reforçou a parlamentar.

A deputada federal Joênia Wapichana (Câmara dos Deputados)

Primeira deputada indígena

Natural da comunidade indígena Truaru da Cabeceira, região do Murupu, município de Boa Vista, Joênia Wapichana, de 47 anos, pertence ao povo indígena Wapichana, o segundo maior povo do Estado de Roraima. Ela também é primeira mulher indígena a se formar em Direito no Brasil, em 1997, pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). Em 2008, também foi a primeira advogada indígena da história a se pronunciar no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). O discurso ocorreu na homologação que definiu os limites contínuos da Reserva Raposa Serra do Sol.

Além de advogada e deputada federal, Joência Wapichana é mestre pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Com uma atuação pautada na defesa dos direitos dos povos indígenas, do meio ambiente e sustentabilidade, a roraimense conquistou espaços internacionais. Entre 2001 a 2006, Joênia participou das discussões sobre a Declaração dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), de onde recebeu, em 2018, o Prêmio de Direitos Humanos, um dos mais importantes do mundo.

No Congresso Nacional, a deputada federal tem sido protagonista ao levantar pautas que tratam sobre os direitos indígenas de todo o País, abordando temas como importância de consulta prévia a povos indígenas e comunidades tradicionais, o enfrentamento da Covid-19, além de ir contra projetos de leis e propostas de emenda à constituição do governo Bolsonaro, como a PEC da Reforma Administrativa, apelidada de “PEC da Rachadinha”, e a Tese do Marco Temporal.

A COP 26

A COP é a principal cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU), que debate questões que tratam da ação humana ao meio ambiente. Um dos alvos principais do cronograma de debates é o efeito negativo das políticas energéticas atuais, que incluem a queima de fontes de energia fóssil e emissões de gases que provocam o efeito estufa, contribuindo diretamente no aquecimento global.

O evento engloba várias conferências, com muitas reuniões paralelas que atraem pessoas do setor empresarial, empresas de combustíveis fósseis, ativistas do clima e outros grupos com interesse na crise climática. Os líderes mundiais devem comparecer ao evento, mas muitas das discussões acontecem entre ministros e outras autoridades de alto nível que trabalham com questões climáticas.

Leia também: CENARIUM na cobertura da COP 26; conheça a importância ambiental do evento para o mundo

Desmatamento e queimadas ilegais são principais influências para as mudanças climáticas (Christian Braga/Greenpeace)
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