‘Deveria ser estuprada e morta’, disse membro de grupo neonazista ao incitar crime contra jornalista

Edmar Alteff Xavier, de 25 anos, admitiu em depoimento que participou de grupo neonazista — Foto: Reprodução/Redes sociais
Com informações do Infoglobo

RIO DE JANEIRO – Identificado pela Polícia Civil de Minas Gerais como membro de um grupo de WhatsApp com temática neonazista, Edmar Alteff Xavier, de 25 anos, fez apologia ao crime contra uma jornalista, nas redes sociais. Em junho de 2019, o mineiro afirmou que a vítima – que pediu anonimato – deveria ser estuprada e morta.

Alteff admitiu a autoria da mensagem, conforme consta no termo do depoimento prestado por ele na Delegacia de Uberlândia, em 25 de fevereiro. No documento, a que O Globo teve acesso, o investigado confirmou ter escrito que a jornalista “merecia ser estuprada para sentir o gosto quando um homem no presídio é violentado quando é falsamente acusado”.

A vítima foi atacada após publicar um comentário sobre a investigação na qual o jogador de futebol Neymar constava como suspeito de estupro. Após a postagem, Alteff passou a enviar mensagens privadas para a jornalista.

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“Seu lixo imundo”, escreveu. “Mulher que nem tu que deveria ser jogada aos presos para ser estuprada e morta”, acrescentou. “Verme”, finalizou Alteff.

Jornalista foi atacada por Edmar Alteff no Twitter — Foto: Reprodução
Jornalista foi atacada por Edmar Alteff, no Twitter (Foto: Reprodução)

No depoimento, Alteff declarou que segue a ideologia MGTOW (men going their own way, que significa “homens seguindo seu próprio caminho”, em tradução livre). Seus adeptos defendem que os homens abram mão de ter relacionamentos com mulheres e sustentam que há “privilégio feminino” na sociedade.

Questionado por O Globo, Alteff afirmou ter cometido “um erro em 2019”, quando enviou as primeiras mensagens para a jornalista, e que fez “de tudo para reparar”, porém, sem sucesso.

A jornalista fez print da mensagem de Alteff. Com o registro, a vítima denunciou o agressor nas redes sociais. Mas a reação fez com que Alteff passasse a enviar insistentes mensagens.

“Ninguém tá nem aí só ver a quantidade de comentários”, escreveu Alteff após a jornalista expôr as ofensas que recebia. Ele insistia para que a vítima deletasse a postagem na qual mostrava o agressor defendendo o crime de estupro. “Só tu apagar o Twitter que tu não ver nem rastro meu mais no seu perfil”, acrescentou.

Terror psicológico

De acordo com a vítima, o investigado criou contas falsas nas redes sociais e de e-mail para insultá-la e ameaçá-la. A jornalista conta que bloqueava os perfis, mas outros eram criados e voltavam para constrangê-la. Até o endereço da vítima e sua mãe, acompanhados por dados pessoais, como o número de CPF delas, foram obtidos pelo suspeito e enviados em mensagens ameaçadoras, segundo a jornalista.

“É um terror psicológico puro. Desde julho de 2019 ele não para. É como se eu ganhasse um tapa psicológico o tempo todo e sem saber de onde está vindo. Eu fico com medo de ir até a esquina. É alguém que você não está vendo, não conhece, são ameaças apenas no digital, mas que mexem com a gente” afirmou a vítima.

Vítima registrou os reiterados ataques feitos Edmar Alteff em suas redes sociais — Foto: Reprodução
Vítima registrou os reiterados ataques feitos Edmar Alteff em suas redes sociais — Foto: Reprodução

“Já tive crises de ansiedade, desenvolvi muitas coisas neste período, tive ataques de pânico, desenvolvi bruxismo e uso aparelho por isso. Tenho laudos de psicólogos dizendo que a causa é emocional”, relata a jornalista.

Processo judicial

Alteff tentou contratar o perito de crimes de internet Wanderson Castilho para remover quatro postagens no Twitter e no Instagram, entre elas a da jornalista. Em todas havia prints das ofensas que o agressor fez contra as vítimas.

Vítima relatou nas redes sociais que vinha sendo perseguida por Edmar Alteff — Foto: Reprodução
Vítima relatou nas redes sociais que vinha sendo perseguida por Edmar Alteff — Foto: Reprodução

Castilho negou o serviço. Ele afirmou que “não são aceitos trabalhos que envolvam acobertamento de ilícitos contra terceiros”. O investigado então entrou com uma ação contra a jornalista na Comarca de Uberlândia, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, pedindo que ela remova a publicação.

“Ela [a jornalista] que é a vítima e precisa de uma proteção estatal. Nós vamos pedir medidas restritivas, inclusive em meios digitais, e-mail e WhatsApp, para que ele [Alteff] seja proibido de entrar em contato por meio de meios eletrônicos”, afirmou a advogada Tanila Savoy, representante da jornalista. A defensora integra a Associação Nacional das Vítimas de Internet (Anvint) e realiza o trabalho sem custos.

“Ele é um ofensor sem limites, que agride pessoas que não conhece, que não tem relações anteriores com ele. Vítimas desse tipo de comportamento não podem ficar desamparadas pela Justiça”, acrescentou a advogada Iolanda Garay, também da Anvint.

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