Dia da Criança Africana: data celebra vítimas de massacre que exigiram qualidade de ensino

Crianças assistem à aula embaixo de uma árvore e sentadas no chão (Reprodução/ BBC News)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Dia 16 de junho é o Dia Internacional das Crianças Africanas. A data é celebrada em homenagem às vítimas do massacre de Soweto, em Johannesburgo, na África do Sul, em 1976. Na ocasião, milhares de estudantes protestavam pacificamente nas ruas da cidade contra a má qualidade de ensino e contra a instrução do dialeto Afrikaans – usada apenas pela minoria branca – quando a repressão policial vitimou centenas de crianças e adolescentes.

A data costuma ser lembrada por organizações como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e foi instituída pela Organização da União Africana (OUA).

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Anos se passaram e alguns poucos avanços foram dados em relação à educação, como, por exemplo, o reconhecimento de 11 línguas oficiais no País. Porém, o estudo ainda é um direito não conquistado para a maioria, bem como a situação permanente de pobreza que implica diretamente na vida das crianças africanas.

Segundo um relatório “Trabalho infantil: estimativas globais para 2020, tendências e o caminho a seguir”, elaborado pela Unicef e pelo Save the Children e divulgado no ano passado, o continente africano ainda é um dos que abrigam o maior índice de crianças vivendo em extrema vulnerabilidade, com altos índices de pobreza. Com isso, a educação é afetada.

Mbuyisa Makhubo carregando o corpo do jovem de 13 anos, Hector Pieterson, morto no massacre de Soweto, em 1976 (Sam Nzima)

Pobreza, falta de ações e trabalho infantil

De acordo com relatório, 160 milhões de crianças estavam em situação de trabalho infantil até o ano passado em todo o mundo. Da África ao sul do Saara, por exemplo, o documento traz dados mostrando que fatores como crescimento populacional, crises constantes, pobreza extrema e falta de assistência e proteção social adequadas levaram ao alarmante número de 16,6 milhões de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil nos últimos quatro anos.

Em entrevista cedida nesta quarta-feira, 16, ao Jornal da Angola para falar sobre a data, o representante do Unicef em Angola, Ivan Yerovi, reforçou a afirmação de que o aumento da pobreza vivido pelas crianças, em especial na Angola, é determinado pela ausência de iniciativas de proteção e políticas que auxiliem as famílias nas dificuldades financeiras ampliadas pela pandemia.

De acordo com o representante, crianças e adolescentes correspondem ao grupo vulnerável de mais de 70% do continente. Ivan Yerovi ressaltou os dados do relatório da Unicef, que aponta cerca de 672 milhões de crianças se encontravam em situação de pobreza até o final do ano passado.

Fator preocupante

A falta de educação básica de qualidade, motivo do protesto que resultou no massacre, e políticas que assegurem direitos básicos, atualmente somam-se a outro fator preocupante: a necessidade de vacinação dessa população e acesso aos cuidados mínimos voltados à saúde.

“Os problemas que afetam as crianças variam de região para região. Mas uma coisa comum em muitas regiões é o déficit no acesso aos serviços básicos essenciais como os serviços de saúde primários, o acesso às vacinas, registro de nascimento e educação, cruciais para a sobrevivência e desenvolvimento da criança”, disse Ivan ao jornal angolano.

Anos se passaram e alguns poucos avanços foram dados em relação à educação (Reprodução/Ocha/Tommaso Ripani)

Educação e incentivo

Para o representante, a prosperidade, o avanço e crescimento do continente africano está diretamente ligado ao modo como as crianças serão priorizadas em meio às decisões. Segundo ele, o avanço na qualidade do ensino escolar só é possível desde que abrace toda a juventude.

“Estas crianças representam agora quase metade de toda a população de África e, em 2055, o continente será o lar de um bilhão de crianças. Até ao final do século projeta-se que a África seja o lar de quase metade das crianças do mundo. Logo, todas as políticas que forem tomadas a favor das crianças moldarão o futuro do próprio continente”, explicou Yerovi.

Ele lembra que em 2050 o continente Africano será o responsável por 42% de todos os nascimentos a nível global e que isto poderá significar uma chance real da África crescer e se reformular positivamente caso as políticas e os investimentos forem realizados atendendo a crescente população infantil.  

“África é um continente com uma grande diversidade social, política e até mesmo cultural. E cada um destes aspectos tem o seu peso na situação que a criança africana vive, algumas vezes de forma positiva, outras vezes nem tanto. O mundo não pode ignorar as crianças e jovens africanos. As crianças de hoje serão os jovens daqui a 10 anos. É necessário investir na criança hoje, para que esteja preparada para o amanhã”, disse.

Combate à exploração sexual infantil

Outro fator mencionado por Ivan, além da educação, políticas públicas e incentivo, foi o combate à violência contra a criança, especialmente contra as meninas africanas. Durante a pandemia foi possível perceber um aumento de gravidezes precoces e até mesmo de casamentos forçados.

“Outras duas áreas que consideramos relevantes são a educação das meninas e ainda o combate e a prevenção de todas as formas de violência contra a criança, em particular contra as meninas. É importante que as crianças e adolescentes sejam tidos como vozes ativas nas tomadas de decisão. Eles devem ser cidadãos ativos das suas próprias histórias. Não nos esqueçamos que as crianças de África devem determinar qual o estado das crianças em todo o mundo”, finaliza o representante.

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