Dia de Iemanjá: conheça a divindade associada às águas, à maternidade e à fertilidade das mulheres

Karol Rocha — Da Revista Cenarium

MANAUS — Associada às águas, à fertilidade das mulheres, à maternidade e ao processo de criação do mundo, Iemanjá é uma divindade feminina, uma orixá, ou seja, uma deusa do candomblé e da umbanda – duas religiões originárias da África. O nome, de origem no idioma africano Yorubá, “Yèyé omo ejá”, significa “mãe cujos filhos são como peixes”.

Nesta quarta-feira, 2 de fevereiro, o dia da orixá é celebrado em todo Brasil. Diante disso, o coordenador-geral da Articulação Amazônica de Povos Tradicionais de Matriz Africana (Aratrama), pai Alberto Jorge, lembra que Iemanjá é a divindade das águas, não apenas dos mares.

“É uma divindade feminina que tem uma importância muito grande, por ser das mais antigas e, por ser mãe de outras divindades. Ela é ligada ao elemento água independente de ser salgada ou doce”, explica.

“Pelo fato da publicidade em torno do mar criou-se, então, o costume e pensamento de que Iemanjá é rainha do mar, quando na realidade o mar tem outra divindade, mas ficou o senso comum. Na verdade, Iemanjá é mãe das águas dos rios de água doce. Ela não só é provedora dos peixes, mas ela é mãe que dá água doce para matar a sede”.

O Dia de Iemanjá coincide com a festa de Nossa Senhora ao Templo, da Igreja Católica, que também é venerada com os títulos de Nossa Senhora da Luz, da Candelária, das Candeias, dos Navegantes, protetora dos marinheiros e pescadores, dentre outros. Os devotos da orixá costumam, geralmente, ofertar à divindade flores, bijuterias, vidros de perfumes, sabonetes, espelhos e comidas. As cores das vestimentas de Iemanjá são azul e branco, mesma cor do manto da mãe de Jesus.

“Ser um orixá é ser, acima de tudo, uma força divina da natureza: vento, água, fogo, ar, raio, rio, floresta. São partes de um Deus maior, são elementos divinos da natureza e essas forças estão dentro de nós”. E as pessoas guiadas por Iemanjá costumam ter características de acolhedoras, segundo pai Alberto Jorge.

“Seguindo a proposta junguiana, as pessoas que nascem sobre essa força têm características muito específicas, que cria a ligação com essa divindade. Iemanjá é a grande mãe que acolhe. Então, aquelas pessoas que são regidas por essa divindade têm essa característica materna do acolhimento. Já pelo lado negativo, costuma-se dizer que as pessoas regidas por Iemanjá gostam muito de fofoca, confusão e disse-me-disse. Mas não existe só uma força de expressão, então, há muitas outras formas”.

Intolerância Religiosa

A Festa de Iemanjá traz em questão a luta contra a intolerância religiosa. O sociólogo Marcelo Seráfico levanta a questão de que o problema ainda é uma realidade presente na sociedade em geral. A questão que se coloca é saber por que e como essa conduta se mantém.

“Dificilmente, responderemos a essa questão sem avaliar o modo pelo qual as camadas política, econômica e culturalmente dominantes, na sociedade, ao longo do tempo, mantiveram as condições objetivas de exploração dos herdeiros da escravidão”, destaca.

“Precisamos entender como, depois de mais de um século, visões de mundo e relações enraizadas no século 19 permanecem como algo que estrutura a conduta, a ação, dos estratos superiores da sociedade, com repercussões sobre outros estratos, camadas e classes sociais”, complementou ainda.

Diversidade

Para comemorar a data, a Articulação gravou um programa especial de duas horas de duração, que vai ao ar dia 2 de fevereiro, no YouTube da Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé. “Iemanjá também é mãe da diversidade”, esse foi o tema do diálogo realizado no sábado, 29, e que foi gravado pela Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé e Aratrama, com apoio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa do Amazonas.