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Dia do Artesão: da imensa e intrincada Amazônia, conheça artistas surpreendentes
O artesanato é um dos primeiros ofícios manuais criados pelo homem há milênios e está presente em todos os povos e culturas da terra (Reprodução/Tucum Brasil)
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19 de março de 2021
Mencius Melo – Da Revista Cenarium
MANAUS – Nesta sexta-feira, 19 de março, é o Dia do Artesão, data que homenageia homens e mulheres que usam o talento de criar com as próprias mãos. A REVISTA CENARIUM apresenta personagens que vivem do ofício na Amazônia. Gente do povo que faz a arte de pintar, esculpir, colar, montar, reciclar, tecer, modelar e o que mais for possível criar com a habilidade manual.
Adenilson Ribeiro é um desses personagens. Hábil e um nome consolidado no mercado de acessórios, o artista faz do ofício de tecer colares, montar acessórios como cocares, tiaras e outros seu meio de sustento. “Vivo disso há muito tempo. Sou um exímio tecelão e essa é uma das minhas melhores habilidades como artesão”, confessou o artista.
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Orgulhoso, ele conta que já produziu peças que foram usadas por grandes nomes da cena artística brasileira, entre elas a cantora baiana Ivete Sangalo e a rainha de bateria da Mangueira, Evelyn Bastos. “Ivete Sangalo usou um cocar meu em um show e a Evelyn Bastos usou uma indumentária inteira no desfile de uma escola de samba do Carnaval paulista”, destacou.
No ferro
Natural de uma cidade que é apontada como celeiro de mestres artesãos, o parintinense Sorin Sena é artista de arena no aclamado Festival Folclórico de Parintins. Mas, com a pandemia, o evento não foi realizado no ano passado e, ao que parece, pode não acontecer também em 2021. Por isso, o artista partiu para criar peças e tentar se manter no mercado.
Sorin está ‘esculpindo’ no ferro, ou seja, o artesão está montando peças que são obras de arte. “Eu sempre fiz essas esculturas, só que não divulgava, elas eram para presentear amigos”, destacou. Por trabalhar no Carnaval no eixo Rio/São Paulo, Sorin passa temporadas longe do Amazonas. “As esculturas sempre foram uma terapia para mim. É muito tempo longe da família, dos amigos”, avaliou.
Solidariedade artesã
Acostumando a criar grandes alegorias, Sorin aperfeiçoou a habilidade para esculturar no ferro com a chegada da pandemia. “A perda de muitos amigos para essa doença desgraçada mexeu muito com minha cabeça”, lamentou. “Por isso fiz o projeto ‘Midas e a Arte de Metamorfosear’. Cada obra dessa representa um amigo que perdi para a Covid-19”, revelou.
Contemplado pela Lei Aldir Blanc, Sena adiantou que, por isso, cada peça ao homenageado será entregue à família, como forma de manter viva a lembrança ou mesmo para gerar algum dividendo. “Elas serão entregues para a família ou vendidas para que o dinheiro ajude de alguma forma”, explicou.
Mestre dos mestres
Outro filho de Parintins que é uma lenda viva é o artista plástico Jair Mendes. Jair é reverenciado como o maior artesão de alegorias da Amazônia. Foram suas mãos criativas que introduziram a alegoria no festival de Parintins ainda nos anos 1970. De lá para cá sua fama cresceu a ponto de, nos anos 1990, ser o primeiro artesão de alegorias do Norte a confeccionar trabalhos no Carnaval do Rio de Janeiro.
“Sou muito feliz e realizado por ter mudado a cara do festival de Parintins. Como artesão fiz do boi a grandes alegorias”, comentou o artista do alto de seus mais de 70 anos. Uma de suas criações artesanais é o movimento que faz do boi de pano, quase que um boi real. “Eu criei os primeiros movimentos do boi Garantido nos anos 1980. O boi era um brinquedo duro, aí eu decidi mudar isso e o resultado está aí para todos verem”, relembrou com orgulho.
Arte indígena
O Amazonas é o Estado brasileiro com a maior população indígena do Brasil. Por essa característica, a produção de artesanato é diversificada é muito presente. Por isso, organizações como a Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Fundação Estadual do Índio (FEI), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), entre outras, dedicam atenção a esse legado cultural.
Em Manaus existe o Centro do Empreendedor Indígena Yandé Muraki mantido pela FEI. Lá os artesãos estão usando recursos de tecnologia para driblar os obstáculos causados pela pandemia. A internet é a grande aliada. O artesão Yuri Magno, da etnia Apurinã, acredita que é válido comercializar via web.
“Antigamente nós tínhamos uma alta demanda de pessoas que procuravam por nossos produtos. Quando a primeira onda de Covid-19 nos atingiu, ficamos de mãos atadas e depois de um tempo começamos a divulgar nossas vendas de produtos naturais e artesanato nas redes sociais, na modalidade delivery, obedecendo a orientação governamental. Agora, nós estamos intensificando essa venda online, que é como estamos nos mantendo”, relatou.
Quem quiser conhecer mais, o Yandé Muraki fica na Monsenhor Coutinho, 259, Centro, zona Sul de Manaus. Os artesãos estão atendendo pedidos somente pelo telefone (92) 99365-3051, pelo e-mail ou ainda pelas redes sociais Instagram e Facebook, disponíveis também para informações adicionais.
Feirinha parada
Um dos points do artesanato na capital do Amazonas é a Feira de Artesanato da Eduardo Ribeiro, no Centro da cidade. A feira acontece sempre aos domingos. Por conta da pandemia, está suspensa. “É um dos meus lugares preferidos em Manaus. Tanto pela diversidade do artesanato quanto pela circulação dos saberes que gente talentosa expõe lá”, observou a servidora Christiane Silva.
“Fico imaginando a falta que faz a feira da Eduardo Ribeiro e a luta dessas pessoas diante da pandemia. O fato de não poderem comercializar sua produção deve ser algo desesperador. Acredito que o governo e a classe política poderiam criar alguma solução para amparar esses trabalhadores preciosos”, finalizou.
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