Dia do Professor: Profissionais destacam desafios e defendem mudanças no futuro


Por: Bianca Diniz

15 de outubro de 2024
Dia do Professor: Profissionais destacam desafios e defendem mudanças no futuro
Da esquerda para a direita: Walmir Albuquerque, Iraildes Caldas e Ygor Cavalcante (Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

MANAUS (AM) – O Brasil celebra o Dia do Professor em 15 de outubro, data que coloca em evidência a importância da educação e o papel dos profissionais da área na formação de milhões de brasileiros. Apesar do sistema educacional passar por transformações, ainda enfrenta desafios como a precarização da profissão e a necessidade de maior valorização social e financeira dos docentes.

À CENARIUM, o professor doutor Walmir de Albuquerque Barbosa destacou a centralidade dos professores no sistema educacional, mesmo em meio aos crescentes desafios da profissão no País. Para o Professor Emérito da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a figura do docente é insubstituível. “O professor e a professora serão sempre necessários. Tão necessários que ainda não encontraram para eles uma nova denominação: professores não são tios ou tias, esses apelidos tolos; professor é professor; professora é professora”, ressalta.

Walmir de Alburquerque destaca a insubstituibilidade dos professores (Reprodução/Redes Sociais)

Barbosa também aponta para as mudanças que têm precarizado o trabalho docente ao longo dos anos. O especialista critica a crescente contratação de professores como temporários, horistas e assalariados precarizados, um reflexo da desvalorização da categoria. “Em muitas escolas particulares, o professor virou um faz-tudo, acumulando funções para manter o emprego”, lamentou.

Ofício divino

Para a professora Iraildes Caldas Torres, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a docência vai muito além da simples transmissão de conhecimento. “A docência é um ofício divino. Não é somente ministrar aulas ou disseminar conteúdos. É, acima de tudo, uma arte de tocar a alma, uma forma de despertar os espíritos para construir os grandes caminhos da história”, refletiu Iraildes.

Iraildes Caldas ressalta o ofício do professor que vai além do ensino (Reprodução/Redes Sociais)

A educação é o alicerce de uma sociedade mais justa, e os professores, como frisou Iraildes Caldas Torres, são os agentes dessa mudança. Com investimentos adequados, reconhecimento social e um esforço contínuo para melhorar as condições de trabalho, o Brasil poderá finalmente trilhar o caminho de uma educação que acolha e valorize todos os seus cidadãos, independentemente de suas origens ou condições econômicas.

“Fantasia”

Já o professor de História Ygor Olinto Rocha Cavalcante criticou a maneira como o Dia dos Professores é celebrado no País, apontando um contraste entre a comemoração e a situação enfrentada pelos profissionais da educação. Para ele, a data é marcada por uma “fantasia da ideologia brasileira”, que oculta as dificuldades enfrentadas no cotidiano escolar.

“Espera-se que todos nós adotemos um distanciamento cínico da triste realidade vivida pela educação municipal, estadual e superior no país, para que os professores recebam algum tipo de recompensa moral pelo serviço prestado em um contexto de precariedade — mas não para todos”, afirmou o professor.

Invisibilidade

Cavalcante destacou que, enquanto há celebrações pontuais, as condições de trabalho dos professores continuam comprometidas por baixos salários, infraestrutura precária e falta de apoio governamental. Segundo ele, essa desconexão reforça um cenário de invisibilidade para as reais demandas da categoria.

Professor critica a data devido às dificuldades enfrentadas pelos profissionais da área (Reprodução/Redes Sociais)

O professor também reforçou a crítica de Darcy Ribeiro, afirmando que Darcy tinha razão quando dizia que “a educação nacional era ruim não por acaso, mas por projeto. A maneira pela qual esse país se faz perverso, injusto e desigual.” Para ele, o dia deveria ser um momento de reflexão sobre a necessidade de abandonar esse modelo de exclusão.

“Hoje é dia de deixar cair esse projeto de uma vez e passar a cultivar uma cultura educacional indígena e empretecida para continuar mudando esse duro passado que nos faz ainda ser uma nação que escraviza seu povo, só que com outros nomes”, defende Olinto.

Desafios

De acordo com o Censo Escolar 2022, o Brasil possui mais de 2,3 milhões de professores atuando na educação básica, mas enfrenta um déficit preocupante, principalmente nas áreas de exatas e ciências. Além disso, as condições de trabalho e os baixos salários tornam a profissão menos atraente para os jovens, resultando em uma queda no número de novos docentes. Entre 2009 e 2021, o ingresso em licenciaturas caiu 42,4%, aumentando a escassez de professores no futuro.

Segundo o relatório Education at a Glance, os professores brasileiros enfrentam mais adversidades em comparação com seus colegas de Países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O salário inicial dos docentes de ensino médio no Brasil, por exemplo, é 47% inferior à média dos países membros da OCDE. Enquanto nesses países há, em média, 13 a 14 alunos por professor nas salas de aula da educação básica, no Brasil esse número é significativamente maior, chegando a 22 ou 23 estudantes por docente.


A organização apontou que o Brasil recebe menos investimentos em educação. Em 2021, o País destinou menos de um terço do valor médio investido pelas economias mais desenvolvidas da OCDE. O documento também mostrou que o financiamento brasileiro na educação, tanto básica quanto superior, sofreu uma queda média de 2,5% ao ano entre 2015 e 2021, enquanto os países da OCDE aumentaram seus investimentos em uma média de 2,1% ao ano no mesmo período.

Adversidades da profissão

De acordo com o relatório Education at a Glance, os professores brasileiros enfrentaram mais adversidades em comparação com seus colegas de países da OCDE. O salário inicial dos docentes de ensino médio no Brasil, por exemplo, é 47% inferior à média dos países membros da OCDE. Enquanto nesses países há, em média, 13 a 14 alunos por professor nas salas de aula da educação básica, no Brasil esse número é significativamente maior, chegando a 22 ou 23 estudantes por docente.

A organização apontou que o Brasil recebe menos investimentos em educação. Em 2021, o País destinou menos de um terço do valor médio investido pelas economias mais desenvolvidas da OCDE. O documento também mostrou que o financiamento brasileiro na educação, tanto básica quanto superior, sofreu uma queda média de 2,5% ao ano entre 2015 e 2021, enquanto os países da OCDE aumentaram seus investimentos em uma média de 2,1% ao ano no mesmo período.

Avanços

Alguns progressos foram listados pelo estudo entre 2015 e 2021, os investimentos na educação infantil (crianças de 0 a 3 anos) aumentaram 29%, etapa em que o Brasil tem expandido o atendimento. Apesar disso, 57% das crianças nessa faixa etária estão matriculadas em instituições de ensino, índice ainda inferior à média da OCDE, que é de 70%.

A diminuição da quantidade de jovens de 18 a 24 anos que não estudam nem trabalham diminuiu de 29,4% em 2016 para 24% em 2023. Esse grupo inclui jovens que trabalham informalmente ou que abandonam os estudos para cuidar de irmãos mais novos. Nos países da OCDE, essa taxa foi reduzida de 15,8% para 13,8% no mesmo período.

Leia mais: Mais de 50% dos professores já testemunharam racismo em sala de aula
Editado por Jadson Lima

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