Dia dos Povos Indígenas: em meio à pandemia, histórias de sobrevivência e resistência
19 de abril de 2021

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium
MANAUS – Os povos indígenas celebram nesta segunda-feira, 19, o Dia dos Povos Indígenas – popularmente conhecido como Dia do Índio – a data foi criada em 19 de abril de 1940, quando foi realizado o 1º Congresso Indigenista Interamericano, no município de Pátzcuaro, no Estado de Michoacán, no México. E para celebrar este acontecimento, o dia 19 de abril foi a data escolhida durante o governo de Getúlio Vargas, por meio do Decreto-Lei nº 5.540, de 1943. Os indígenas são parte fundamental e importante na formação da cultura brasileira e durante a pandemia da Covid-19 ficaram bem vulneráveis os que sobreviveram e resistiram aos impactos causados pela doença.
A influência dos povos tradicionais podem ser notadas diariamente no cotidiano da população e se revela nos costumes, no artesanato, na alimentação, na língua e na mistura étnica do povo brasileiro. No Amazonas são 65 povos indígenas. Algumas publicações citam até 72 etnias – sendo muitos deles clãs do mesmo povo – além de 29 línguas faladas.

Resistência
Para o designer de moda João Paulino, de 25 anos, mais conhecido como Siodohi, da etnia Piratapuya, falar do dia dos povos indígenas é sempre recordar das singularidades de todos os povos do Pindorama (Brasil), conforme suas cosmovisões, língua, vivências e tons. Lembrar que a identidade indígena é imutável independente da época ou do lugar, seja na aldeia ou em centros urbanos.

“Saber que estamos em processos de descolonização e resistindo em coletivo, em uma época que falaram que não estaríamos mais vivos, tão pouco falando da nossa cultura também é um dos passos que temos dado. Ainda temos um longo caminho a percorrer, em País que nega sua origem e questiona a nossa identidade, utiliza termos colonialistas e genocidas, hoje estamos desafiando uma estrutura secular e um dos reflexos desta estrutura é a “cartilha do colonizador” impondo no que podemos ser, fazer, ter e estar”, destacou Sioduhi.
Sobrevivência
Em setembro do ano passado, o indígena Rucian da Silva Vilacio, da etnia Sateré-mawé relatou durante a 14ª edição do Fórum Internacional de Turismo do Iguassu como a pandemia de Covid-19 afetou a Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (Amism). Relatos sobre experiência da associação duramente afetada pela pandemia de Covid-19, se tornaram tema de trabalho do universitário do curso de engenharia de produção da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Por conta da pandemia, o setor de turismo foi o mais afetado o que acabou prejudicando as vendas dos artesanatos, foi quando apareceu a oportunidade de fazer da pandemia uma fórmula de ganhar dinheiro vendendo máscaras e banhos de ervas.
“Como resultado, percebemos que a associação se reinventou no planejamento e organização, confeccionando máscaras de proteção e produtos oriundos da floresta, como preparo de álcool e de banhos com ervas com os saberes e aromas da floresta, pautados nos conhecimentos da ancestralidade, se apropriando das redes sociais Facebook e Instagram para divulgar e vender os produtos aos turistas”, explicou Rucian, que mora na cidade grande em local cedido por uma associação a qual faz parte.
Programação
A Fundação Estadual do Índio (FEI) lança a Semana dos Povos Indígenas, com programação que inicia nesta segunda-feira, 19, e vai até a sexta-feira, 23, nas redes sociais do órgão, com vídeos de lideranças das mais diversas etnias.
Com o intuito de promover o etnodesenvolvimento sustentável e a preservação dos valores étnicos, culturais e históricos no Amazonas, a fundação selecionou três temas para serem trabalhados durante a semana: culinária indígena, medicina tradicional indígena e lideranças.
De acordo com o diretor-presidente da FEI, Edivaldo Munduruku, a ação nas redes sociais visa evitar aglomerações, fortalecendo os movimentos indígenas e enaltecendo a causa, a cultura e a história dos povos originários.
“A FEI busca o etnodesenvolvimento, a divulgação da cultura indígena, com as redes sociais e, como ferramenta de divulgação, criamos esta série com três episódios que irá abordar os segmentos de culinária, medicina e liderança indígena. Estamos orgulhosos do trabalho que está sendo desenvolvido para espalhar o que é ser indígena nesta data comemorativa”, disse.
“Como não podemos estar celebrando essa data de forma presencial por conta da pandemia de Covid-19, nos resta usar os meios digitais. O importante é que a data será lembrada e celebrada”, acrescentou Munduruku.