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Dia Internacional da Mulher: a luta diária das ‘Guerreiras da Ancestralidade’
“A mulher Indígena que vive em sociedade também quer ocupar cargos, alcançar níveis e escolaridade para obter o respeito e o espaço"(Reprodução/Arquivo Pessoal)
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08 de março de 2021
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
MANAUS- “Nós mulheres, somos água, banzeiro e correnteza. Somos as margens do rio, que às vezes seca e enche. Assim como nós que também mudamos e enfrentamos com coragem, todos os medos para reafirmar nossa importância e quem somos diante da sociedade. Mulheres de todos os rios, de todas as lutas, mulheres com histórias”, expõe a indígena Carina Souza, de 27 anos sobre o Dia Internacional da Mulher.
Em uma conversa especial com a REVISTA CENARIUM sobre o significado da data para as mulheres com descendência indígenas, Carina do povo Desana, etnia mais comum ao longo do alto e médio Rio Negro, divide uma pequena parte do cotidiano das mulheres do local, que percorreram um longo caminho à conscientização para o combate à toda e qualquer desigualdade de gênero em diversos âmbitos sociais.
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“A mulher indígena que vive em sociedade atualmente também quer ocupar cargos, alcançar níveis e escolaridade para obter o respeito e o espaço. Se posicionar, ter coragem e dizer de onde viemos pode ser difícil, mas, quando a ancestralidade pousa em nosso peito, refletimos a nossa história entre gerações’, pontua Carina.
Ocupação histórica e conquistas
Moradora do município de Novo Airão, distante 115 quilômetros de Manaus, a bisneta de seringueira, neta de piaçabeira e filha de professora e artesã, entende o Dia da Mulher como um dia para relembrar vitórias e batalhas do universo feminino.
“A cada trajetória de resistência e ocupações de mulheres guerreiras na minha família há uma jornada sagrada seja de minha bisavó Idalina, minha avó Laura ou minha Carina. O fato é que assim como aquelas mulheres fizeram revolução na Rússia, aqui também houve uma busca pelos direitos, melhoria de vida e condições econômicas”, explica Souza.
Para Carina, uma das principais conquistas das jovens desanas de Novo Airão é a educação. Ela faz parte do Projeto Pira-Yawara, um programa de formação de professores indígenas no Amazonas, que leva conhecimento às comunidades. Recentemente, professoras indígenas conquistaram duas escolas voltadas para Novo Airão, bem como a Organização de Professores Indígenas, que tem como objetivo priorizar a educação da comunidade.
“Para mim, essa é uma das conquistas mais lindas das mulheres atuantes em nossa comunidade e tem que ser comemorada todos os dias. Pois representa bem a união da força feminina em prol de uma conquista coletiva”, defende a indígena Dessana.
Dificuldades e preconceitos
Ainda há muitas mulheres em comunidades indígenas que, apesar do avanço, não têm acesso às ferramentas para desenvolver. Aliada às inúmeras dificuldades, há também o preconceito. Por ser indígena e mulher, em pleno 2021, diversos episódios preconceituosos ocorrem por conta de etnia, cor, religião como uma constante em um país estruturalmente machista e preconceituoso como o Brasil.
“Lembro que passei um ano estudando economia na capital e senti na pele a falta de sororidade. Por isso acabei desistindo, por não ter onde ficar e pela falta de empatia das pessoas ao ponto de não entenderem que a diferença existe e que há beleza nisso. Tenho orgulho de ser indígena, de ser mulher, de ser Desana e a data de hoje serve também para lembramos de exercermos a empatia e respeitar o lugar da outra”, enfatiza.
Alcançando sonhos e anseios
O artesanato, por hora, é a principal atividade e fonte de renda das mulheres da comunidade indígena de Novo Airão. A arte de criar peças únicas com as mãos é ensinada de mãe para filha e vista com vaidade e orgulho por suas criadoras.
Antes de enveredarem nos caminhos do conhecimento, as mulheres artesãs abriram portas para o empreendedorismo local, incentivando outras mulheres (donas de casa e ribeirinhas) a terem coragem para também investirem no mundo das artes. Elas são exemplo de mulheres que compõe a linha de frente daquelas que apostam em novas possibilidades e servem de inspiração e encorajamento para as irmãs de luta e de vida.
Quando questionada sobre seus anseios como mulher indígena e cidadã, Carine é enfática: “Minha maior vontade agora, assim como eu creio que foi também lá no passado é concretizar o significado da palavra respeito. Com todas as mulheres, mas principalmente para com as mulheres indígenas, com seu corpo, pintura, seu grafismo, seu povo. Pois, nascemos de uma mulher indígena, ela concebeu o Brasil, o povo que aqui existe”, enfatiza.
Carine, que aproveita a data para deixar um recado “Continuem lutando, seja a onde for e não desistam dos sonhos, de mostrarem suas identidades e suas culturas, de irem às ruas quando preciso for, pois somos guerreiras da ancestralidade. Eu sei que ainda há muito para conquistar, mas celebremos todas, cada uma a sua realidade, cada conquista é uma vitória. Viva nós! Viva às mulheres!”, finaliza.
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