Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais: desafios e superações da comunidade

O dia 24 de abril foi escolhido pois foi nessa data em 2002, que a Lei nº 10.436, que dispõe sobre a língua brasileira de sinais, foi publicada (Reprodução internet)

Matheus Pereira – Da Revista Cenarium

MANAUS – A comunidade de deficientes auditivos comemora neste sábado, 24, o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais, data criada para comemorar a regulamentação da Libras, a linguagem que permite a comunicação de pessoas surdas e mais acessibilidade aos mesmos. O dia 24 de abril foi escolhido, pois foi criada e publicada neste dia em 2002 a Lei nº 10.436, que dispõe sobre a língua brasileira de sinais.

A data comemorativa foi instituída em 2009, por meio de um projeto de lei do deputado Eduardo Barbosa, que atendeu reivindicação da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis). Também em abril, mas no dia 23 de abril é comemorado o Dia Nacional de Educação de Surdos.

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Desafios

No Brasil, a comunidade surda vive desafios diários em busca de igualdade, já que mesmo com a evolução relacionada à acessibilidade nos últimos anos, muitas dificuldades ainda são encontradas no dia a dia. Para o professor de Libras, Raimundo Macedo, ainda existem muitos lugares onde não há intérpretes e que apesar de os deficientes auditivos terem o amparo da lei, muitas vezes “fica só no papel”.

O professor assinala ainda que a maioria das políticas públicas de inclusão ficam só no discurso, mas que a comunidade segue esperançosa para novos avanços, entre eles a construção da “tão sonhada escola bilíngue”. “Estamos ansiosos e torcendo para que a lei que nos dá direito de sermos respeitados, de fato seja cumprida, pois somos pessoas capazes de construir, de reconstruir, desde que seja na nossa comunicação: Libras”.

Superações

Natural de Nova Olinda do Norte (município a 252 quilômetros de Manaus), Raimundo perdeu a audição aos três anos de idade e como no município onde morava não havia nenhuma escola com suporte para aluno com surdez, ele precisou estudar em uma escola regular e depois teve que se mudar para Manaus para concluir sua formação. “Encontramos a Escola Augusto Carneiro dos Santos, específica para surdos. Nessa escola terminei o ensino fundamental e dei seguimento a minha formação”, conta.

Raimundo conta ainda que atualmente é professor pós-graduado atuando na mesma escola que um dia foi aluno. “Tenho o maior orgulho de fazer parte do quadro de docentes dessa tão conceituada instituição”. O professor revela ainda que está escrevendo seu projeto de mestrado. Em 2021, ele também assumiu uma das secretarias da Associação dos Surdos de Manaus (Asman).

Surdo desde os três anos de idade, Raimundo Macedo é professor há onze anos (Reprodução/arquivo pessoal)

População com deficiência auditiva

Em 2010, o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 2 milhões de pessoas possuíam deficiência auditiva severa (em que a pessoa tem grande dificuldade para ouvir ou é totalmente surda) e cerca de 9,7 milhões possuíam alguma deficiência auditiva, o que aquela altura representava 5,1% da população.

Já em 2020, um estudo feito em conjunto pelo Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda apontou para um número de 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva, em que desse total, 2,3 milhões possuem deficiência severa.

Evento

A Associação dos Surdos de Manaus (Asman) realiza neste sábado, 24, a palestra do Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais e terá como convidados o professor mestre pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Hamilton Rodrigues, e o ex-aluno do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), Clóvis Albuquerque. O evento terá transmissão no canal da Asman no Youtube.

Hamilton Rodrigues foi o primeiro professor surdo concursado da Ufam e, em 2018, se tornou o primeiro aluno surdo a conquistar o título de mestre no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura da Amazônia (PPGSCA). Rodrigues é ainda coordenador do curso de Letras (Libras) da universidade.

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