Direita bolsonarista avança em eleições nas capitais da Região Norte
Por: Letícia Misna e Marcela Leiros
09 de outubro de 2024
MANAUS (AM) – Os resultados das eleições às prefeituras das capitais da Região Norte do Brasil indicaram a força de candidatos alinhados com a direita e a extrema direita, e as relações diretas com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nas sete capitais da região, esses políticos garantiram a vitória no primeiro turno ou avançaram para o segundo turno.
Em capitais como Manaus (AM), Belém (PA) e Porto Velho (RO), nomes com conexões com o ex-presidente ou que defendem pautas da direita radical obtiveram destaque nas urnas. O fenômeno reflete a continuidade da influência política do ex-mandatário e o fortalecimento de propostas de segurança pública rígida, assim como o conservadorismo nos costumes e redução do poder do Estado, pautas centrais da agenda bolsonarista.
Veja, abaixo, como ficou a configuração das eleições na Região Norte:
Manaus (AM)
Em Manaus, capital do Amazonas, o atual prefeito, David Almeida, do Avante, disputará o 2° turno contra o deputado federal Alberto Neto, do Partido Liberal (PL). Os dois tiveram, respectivamente, 32,16% (354.596) e 24,94% (275.063) dos votos válidos.

Alberto Neto tem como principal pauta a “luta contra a violência”, e seu apoiador de maior peso é Jair Bolsonaro, que chegou a vir a Manaus, em setembro, para participar da campanha do candidato. Após a apuração de domingo, Alberto afirmou que o segundo turno será equiparado às eleições presidenciais de 2022, com “Lula x Bolsonaro”.

David Almeida, por sua vez, rebateu a fala de Alberto Neto, ressaltando que o deputado “não é mais de direita que ele”. “Porque do jeito que ele apoia o Bolsonaro, eu também apoiei”, disse o atual prefeito. De fato, em 2022, Almeida declarou publicamente seu apoio à candidatura de Bolsonaro, indo a Brasília firmar a aliança.
“É com alegria que aqui compareço para reiterar o meu total e irrestrito apoio à reeleição do presidente Bolsonaro. Eu já caminho com o presidente Bolsonaro desde 2015. Eu comungo dos pensamentos dele. Sou cristão evangélico desde que nasci e defendo todos os princípios”, afirmou David, na época.

Quanto ao desempenho da esquerda no último domingo, os dois candidatos que representavam o lado político em Manaus, Marcelo Ramos (PT) e Gilberto Vasconcelos (PSTU), terminaram o pleito em quinto e sétimo lugares, respectivamente.
Belém (PA)
Belém, capital do Pará, também terá segundo turno no dia 27 de outubro. A disputa será entre Igor Normando (MDB), o candidato mais votado, com 44,89% (359.904) dos votos válidos, e o Delegado Eder Mauro (PL), que terminou a apuração com 31,48% (252.455).

Apoiado por Bolsonaro, Mauro, que é deputado federal, defende a implantação de escolas cívico-militares e guarda municipal armada. O ex-presidente também esteve na capital para participar da campanha do delegado, que é um de seus fortes defensores em Brasília (DF).

Já o adversário Igor Normando, do centro, é primo de Helder Barbalho (MDB), governador do Estado e seu principal aliado. No próximo fim de semana, o presidente Lula (PT) desembarca na capital Belém para acompanhar o Círio de Nazaré, e, de acordo com a mídia paraense, a expectativa é que Lula apoie a campanha de Normando.
Quanto à esquerda, os candidatos Edmilson Rodrigues (Psol) — atual prefeito de Belém —, Raquel Brício (UP) e Well (PSTU) terminaram em terceiro, sétimo e nono lugares, respectivamente.
Porto Velho (RO)
Em Porto Velho, capital de Rondônia, Mariana Carvalho (União Brasil) foi a mais votada, com 44,53% (111.329), e vai ao segundo turno com Léo Moraes (Podemos), que teve 25,65% (64.125) dos votos válidos.

Mariana Carvalho, que já foi deputada federal, é conhecida por defender o bolsonarismo, além de ter tido o apoio do ex-presidente durante a campanha. Ele, que foi seu colega de Câmara Federal durante os mandatos, e Michelle Bolsonaro estiveram na cidade em setembro para participar de um comício da candidata. Mariana também é a candidata do atual prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves (União Brasil).

Léo Moraes, que também é ex-deputado federal, por sua vez, não tem um grande nome o apoiando publicamente. Nas redes sociais, afirma que não se ampara em polos políticos, mas já fez publicações defendendo Pablo Marçal (PRTB) e repudiando a depredação do Congresso Nacional, ocorrida no dia 8 de janeiro de 2023.
Entre os demais candidatos, os únicos que se aproximavam da esquerda eram Célio Lopes (PDT) e Samuel Costa (Rede), de partidos de centro-esquerda, que terminaram em terceiro e sétimo lugares.
Palmas (TO)
Palmas, capital de Tocantins, é mais uma que terá o segundo turno disputado por uma candidata bolsonarista e um filiado do Podemos. Janad Valcari, deputada estadual, foi a mais votada na primeira etapa da eleição, com 39,22% (62.126) dos votos válidos, e concorrerá contra Eduardo Siqueira Campos (Podemos), ex-deputado estadual, que teve 32,42% (51.344).

Em junho, Jair Bolsonaro esteve em Palmas para participar de eventos de campanha de Janad, além de gravar vídeos pedindo votos à candidata, em que se referia ao povo tocantinense como “pessoas de direita, conservadores, cristãos, patriotas e respeitadores”.

O concorrente, Eduardo Siqueira Campos, já fez parte do União Brasil e, ao filiar-se no Podemos, em 2023, declarou: “[O Podemos] é um partido que, para ser de direita, sendo de direita, não precisa falar nomes. Não precisamos nem ‘fazer o L’, nem ter relação com o 8 de janeiro. O Podemos não é esquerda ou direita, é centro caminhando para a frente”.
Única na corrida representando a esquerda, Lucia Viana (PSol) terminou a apuração em último.
Rio Branco (AC)
Em Rio Branco, Tião Bocalom (PL) foi reeleito prefeito no primeiro turno, com 54,82% (108.605) dos votos válidos. Anteriormente, ele já havia assumido a Prefeitura de Acrelândia, interior do Estado, por três vezes.

No início do ano, Jair Bolsonaro esteve em Rio Branco para receber o título de cidadão rio-branquense e participar da filiação de Tião, que fazia parte do Partido Progressistas (PP), ao PL. Durante a campanha, Bocalom também usou a imagem de Bolsonaro em propagandas.

“A minha identificação com Jair Bolsonaro foi logo de cara, porque ele teve uma postura como presidente da República muito parecida com aquilo que eu sempre sonhei. Venho da iniciativa privada, e na iniciativa privada também se trabalha com verdade, não se trabalha com mentira e nem com balcão de negócio. Eu acho que isso é que me fez chegar na Prefeitura de Rio Branco”, declarou durante uma entrevista após a apuração.
Dr. Jenilson, do PSB, único partido de centro-esquerda na disputa, terminou o pleito em último lugar.
Boa Vista (RR)
Na capital roraimense, Arthur Henrique (MDB) foi reeleito com expressivos 75,18% (133.180) dos votos válidos, com apoio de Bolsonaro durante a campanha, uma vez que o vice, Marcelo Zeitoune, faz parte do PL.

“Aqui em Roraima nós temos uma população realmente de direita, a gente acaba trabalhando mais nesse sentido, por isso foi importante essa construção com o PL. É óbvio que é cedo a gente definir quais são as articulações que vão acontecer em 2026, mas nós temos hoje um vice do PL, foi uma construção direta com o ex-presidente Bolsonaro”, disse Arthur, em entrevista após a reeleição.

Os representantes da esquerda, Mauro Nakashima (PV) e Lincoln Freire (Psol) terminaram nas duas últimas colocações.
Macapá (AP)
Macapá reelegeu no primeiro turno um candidato do MDB, Dr. Furlan, com 85,08% (204.291) dos votos válidos, a maior porcentagem entre as capitais brasileiras. Apesar de não ter tido apoio direto de Bolsonaro, seja com presença em eventos ou em vídeos, o candidato teve apoio do PL, após uma articulação com o partido em julho deste ano.


Paulo Lemos (PSol), Gianfranco (PSTU) e Jairo Palheta (PCO), da esquerda, terminaram em segundo, sexto e oitavo lugares.