Diretora da COP30 diz que é ainda cedo para avaliar resultados da conferência em Belém
Por: Ana Cláudia Leocádio
24 de novembro de 2025
BRASÍLIA (DF) – A diretora-executiva da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada de 10 a 22 de novembro, em Belém (PA), Ana Toni, afirmou que ainda é muito cedo para entender todo o balanço da primeira conferência climática realizada na Amazônia, que deixou de fora a proposta brasileira de definir um mapa do caminho para o fim gradativo dos combustíveis fósseis. Conforme a CENARIUM antecipou, no primeiro dia da última semana de negociações, a presidência brasileira já sabia que seria difícil conseguir o consenso para inserir o mapa no documento final, mas plantou a semente que já angariou apoio de mais de 80 países e vai trabalhar até a COP31, na Turquia, para avançar nas tratativas.
No total, foram 29 documentos aprovados por consenso no que foi chamado de “Pacote de Belém”. “A gente teve ganhos formais na negociação, ganhos políticos e ganhos de ação mesmo. Não resta dúvida que o tema de combustível fóssil teve um ganho absurdamente político. O debate na sociedade, na imprensa, dentro das negociações. Acho que a gente sai daqui muito fortalecido para pegar esse tema do mapa do caminho e agora endereçar, de uma maneira coletiva, por enquanto fora das negociações, através de um formato, que é o mapa do caminho, através da presidência e, talvez, um pouco mais tarde, colocar dentro das negociações”, ressaltou Ana Toni, em vídeo publicado nesta segunda-feira, 24, nas redes sociais.
A saída gradativa do uso de combustíveis fósseis é vista como única alternativa para cumprir os compromissos firmados pelo Acordo de Paris, em 2015, de manter a temperatura global abaixo dos 2ºC e limitar em até 1,5ºC, para se evitar o aquecimento rápido do planeta, que traz consequências catastróficas, principalmente aos países em desenvolvimento.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, chegou a declarar, no último sábado, 22, que o “mapa do caminho já não é mais uma proposta apresentada pelo Brasil, pelo presidente Lula, mas por dezenas de países e por milhares e milhares de pessoas em todo o mundo, chancelada pela comunidade científica”. Para a ministra, cada país deverá ter o seu próprio mapa do caminho, assim como ocorre com as metas climáticas: cada país deverá construir seu próprio plano para se afastar dos combustíveis fósseis.
Sem o mapa do caminho, a COP30 avançou em pontos-chave, sem ainda deixar muito claro como serão implementados. Foi aprovada a proposta de triplicar o financiamento da adaptação climática, que na COP29, em Baku, ficou definido em USD 300 bilhões anuais a serem providos pelos países desenvolvidos. Também foi aprovada a chamada Meta Global de Adaptação (GGA), com uma lista menor de indicadores para acompanhar se os países estão preparados para a crise climática. A lista começou com 150 pontos, caiu para 100 e a COP30 aprovou 59, o que desagradou, sobretudo, os países do Sul Global.
“Nos ganhos formais, acho que eles são muito, muito importantes: agenda de adaptação, financiamento da adaptação sendo triplicado, isso era uma coisa que era muito, muito difícil e foi conseguido. O mecanismo de transição justa, uma coisa que toda a sociedade, principalmente os países em desenvolvimento, queria muito”, avaliou Toni.

No tópico de transição justa, em que devem considerar a justiça climática na adoção de políticas contra o aquecimento global, os documentos aprovados reconhecem que esse processo deve dar atenção às pessoas, principalmente às mais vulneráveis. Nesse contexto, pela primeira vez, os afrodescendentes foram citados nos documentos formais da conferência, assim como os povos indígenas, que no Brasil fizeram uma campanha maciça para serem considerados como parte da política climática.
As partes também aprovaram no Pacote de Belém um Plano de Ação de Gênero, que amplia o orçamento e financiamento nessa área e destaca a liderança de mulheres indígenas, afrodescendentes e rurais. Ana Toni também destacou a aprovação dessa agenda, que foi colocada pela presidência brasileira no pacote para ser aprovada no documento final.

“Todo o reconhecimento na agenda de mulheres, o plano de trabalho muitíssimo importante para todos nós, o reconhecimento dos afrodescendentes, o vulto que também receberam o oceano, em termos de priorização dos governos subnacionais. Então, novos atores entraram formalmente agora, de uma maneira muito forte dentro das negociações”, afirmou a diretora-executiva.
A COP30 também deixou patente a baixa ambição dos 122 países que apresentaram suas metas climáticas nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que ficaram muito aquém da necessidade de baixar as emissões em pelo menos 60% até 2035.
Por iniciativa da presidência da COP30 e COP31, foram lançados dois mecanismos de implementação ao longo do tempo: o Acelerador Global de Implementação, para apoiar os países na execução de NDCs e Planos Nacionais de Adaptação; e a “Missão Belém para 1,5°C”, uma plataforma voltada para a ação liderada desde a COP29 até a COP31, capaz de motivar mais ambição e cooperação internacional em mitigação, adaptação e investimento.
Na avaliação da presidência da COP30, a Agenda de Ação foi a maior conquista desta conferência na Amazônia, porque foi capaz de apresentar vários mecanismos de implementação para enfrentar as mudanças climáticas. O destaque foi justamente a proposta do Brasil de criar um fundo misto, com recursos públicos e privados, para recompensar quem mantém as florestas de pé. O Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), lançado oficialmente em Belém, já conseguiu arrecadar 6 bilhões de dólares, que equivale a cerca de R$ 32 bilhões.

“Acho que na Agenda de Ação é onde a gente teve imensos ganhos, mostrando aí quase 140 planos de aceleração sobre indústria, sobre o TFFF como a gente viu, reflorestamento, energia renovável, tantos outros. Mas agora a gente também fez um link com as negociações, que é o acelerador que foi ali colocado para dar também uma robustez, que essa COP é uma COP de implementação”, reiterou Ana Toni.
Cientista saiu frustrado
O climatologista Carlos Nobre, que defendia ser a COP30 a mais importante de todas as COPs, saiu frustrado com o resultado de Belém. “Esses dois mapas do caminho de zerar todos os desmatamentos e regenerar os biomas, principalmente as florestas tropicais, e especialmente ter uma meta muito clara de zerar o uso de combustíveis fósseis não constou do documento final. Portanto, infelizmente, essa COP não será a mais importante das 30, ainda que tenham feito vários progressos”, declarou o cientista em entrevista à CBN.
Agora, Nobre disse que irá se dedicar à elaboração de um relatório a ser lançado na COP31, na Turquia, que deverá mostrar a possibilidade real para acelerar a transição energética e zerar o uso de combustíveis fósseis. Os relatórios entregues na COP30, ressaltou Nobre, deixaram claro que o ideal é zerar o uso dos fósseis até 2040 e não ultrapassar 2045, se quiserem limitar a temperatura a 1,5ºC.
