Diretora indígena mostra cultura e espiritualidade dos povos da floresta em filme lançado no Teatro Amazonas

Priscila Tapajowara dirige o filme Ãgawaraitá: Nancy (PA), que será lançado no 4º Olhar do Norte Festival, no Teatro Amazonas (Divulgação)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS — “Representatividade amazônida”, assim definiu a produtora e diretora Adrielle Priscila (ou Priscila Tapajowara), indígena do povo Tapajó, no Pará, sobre o filme ‘Ãgawaraitá: Nancy (PA)’, que será lançado no 4º Olhar do Norte Festival, realizado entre esta sexta-feira, 21, e segunda-feira, 24, no Teatro Amazonas. O longa foi gravado em aldeias e comunidades no assentamento Pae Lago Grande, na região do Baixo Amazonas e Baixo Tapajós, em Santarém, mostrando a cultura e a espiritualidade dos povos da floresta.

“Mostrar um pouco da nossa cultura por meio das telas é de grande responsabilidade e importância, pois estamos sendo protagonistas de nossas histórias e nesse trabalho pode se ver o protagonismo amazônico de indígenas e o outros jovens locais. A maior parte da equipe é composta por indígenas, tanto na equipe de gravação quanto na do elenco. É lindo você se ver na tela e ver os seus, isso é representatividade amazônida, e estou contado nossas histórias de uma forma correta, não fortalecendo estereótipos, mas sim mostrando a realidade dos povos da floresta”, destacou Priscila Tapajowara.

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Priscila conta que a maior parte das gravações do filme foram no Território Kumaruara, na aldeia Muruari (Divulgação)

Nascida nas margens do Rio Tapajós, na cidade de Santarém, Priscila é formada em Produção de Audiovisual pela Faculdade Paulus de Comunicação, de São Paulo, e atua como fotógrafa, diretora, diretora de fotografia, produtora e também como co-coordenadora do Mídia Índia, além de ser apresentadora dos canais de YouTube no Catraca Livre e ‘Canal Reload’. Por meio do trabalho audiovisual, a indígena busca mostrar um pouco de seu dia a dia, as tradições, histórias, lutas e resistência.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, a indígena falou sobre a expectativa de participar do festival sendo a diretora de um dos 47 filmes que compõem a programação. O evento é gratuito e conta com produções audiovisuais de todo o País, entre curtas, médias e longas-metragens, que serão apresentados em sessões presenciais.

“A expectativa está grande pela equipe, estamos felizes em participar do festival e mostrar nosso trabalho para mais gente, principalmente no festival amazônico. É muito importante fortalecermos obras regionais”, comentou a diretora do filme Ãgawaraitá, que dignifica Encantados.

Espiritualidade

O filme narra a história de Encantada Nancy e o pajé Nató Tupinambá. Após o primeiro encontro dos personagens, o pajé começou a entender sobre seu dom de cura e a conexão com os seres sagrados da floresta. Segundo Priscila Tapajowara, o longa deixa uma mensagem importante sobre respeito e os cuidados com a natureza.

Filme fala sobre a espiritualidade e o sagrado dos povos da floresta (Divulgação)

“Ãgawaraitá fala sobre a espiritualidade, o sagrado dos povos da Floresta Amazônica e a nossa mensagem é mostrar para as pessoas que o nosso sagrado precisa ser respeitado e não visto como lendas, que eles estão em todos os lugares cuidando de nossa floresta e rios. [Eles] são os donos desses lugares e a partir do momento em que as pessoas entendem e respeitam isso, elas não destroem, assim como nós, filhos da floresta, que vivemos em harmonia com ela”, frisou Priscila Papajowara.

Desconstrução

As inspirações para direção do filme surgiram da percepção de outras produções audiovisuais do mundo do cinema e da literatura, lembra a diretora de Ãgawaraitá: Nancy (PA). Para Priscila, existem filmes e livros que distorcem a espiritualidade dos povos tradicionais; motivo que a fez querer ir contra esses trabalhos.

Priscila Tapajowara conta que as inspirações do filme surgiram da percepção de outras produções audiovisuais do mundo do cinema e da literatura (Divulgação)

“Posso dizer que a minha inspiração foi ir contra os filmes e livros que estão espalhados por aí falando de uma forma distorcida da nossa espiritualidade, dos nossos encantados. [Além de] mostrar para o povo o nosso olhar, nossas histórias”, salientou.

Conhecimento

Para Priscila Tapajowara, estar à frente de projetos audiovisuais e produções cinematográficas ajuda a levar conhecimento para os mais jovens, principalmente, para torná-los em porta-vozes dos seus territórios. Isso porque os trabalhos artísticos contribuem com a construção de um olhar crítico sobre a cultura e as tradições dos Territórios Indígenas (TI).

Líderes indígenas e anciãos contribuem para difundir o conhecimento ancestral dos povos tradicionais (Divulgação)

“Atuo em várias vertentes no campo do audiovisual, além de produções cinematográficas, tem as oficinas que são realizadas nos territórios com os jovens, porque acreditamos que precisamos levar um pouco dos nossos conhecimentos para outros jovens para que eles se tornem porta-vozes dos seus territórios”, ponderou.

Além de Ãgawaraitá: Nancy (PA), Priscila Tapojowara também dirigiu a websérie Ãgawaraitá, produzido Nató Audiovisual, uma produtora que conta com a gestão de mulheres indígenas que acreditam na importância do protagonismo dos povos tradicionais nas telas de cinema.

O festival

O 4º Olhar do Norte Festival começou nesta sexta-feira, 21, e conta, além das sessões presenciais, com oficinas, rodas de conversas e mostra online. A programação completa do evento pode ser conferida no site www.festivalolhardonorte.com. O filme Ãgawaraitá: Nancy (PA) será exibido neste sábado, 22, no segundo dia de festival, a partir das 16h.

No evento também será exibido a Mostra Norte com 17 produções dos Estados da Região Norte concorrendo em nove categorias. Para participar da programação no Teatro Amazonas é necessário fazer uma inscrição no Portal da Cultura (www.cultura.am.gov.br), da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC).

Ao final do processo, será gerado um bilhete de ingresso com o QR Code. No dia do evento, o espectador deverá apresentar, na entrada do Teatro Amazonas, o bilhete de ingresso com o CR Code (pode ser no celular), documento de identificação com foto e a carteira de vacinação com, no mínimo, as duas doses da vacina.

Para participar das oficinas, é necessário realizar a inscrição no site do festival www.festivalolhardonorte.com. Não serão necessárias as inscrições no site para as rodas de conversa. Apesar da programação ser gratuita, para todas as atividades presenciais é necessário o uso de máscaras e a apresentação da carteira de vacinação. Segundo a coordenação do evento, as vagas são limitadas e seguem a lotação máxima de 200 pessoas, conforme protocolo governamental.

Realizado pela Artrupe Produções, com parceria do Cine Set, o 4º Olhar do Norte Festival foi contemplado pelo Programa Cultura Criativa – 2021 /AM – Prêmio Amazonas Cultura em Rede, realizado pelo Governo do Amazonas por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa.

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