Do Norte ao Sul, pagamento em dinheiro continua a desafiar sistema financeiro
26 de outubro de 2023
Saque de dinheiro em um caixa eletrônico do Banco24Horas - Divulgação
Da Revista Cenarium Amazônia*
MANAUS – Sacar dinheiro não é coisa do passado. A dependência das cédulas resiste pelo país e impõe desafios a empresas do sistema financeiro para fazer as notas chegarem às mãos da população.
Empresas do setor têm implementado soluções financeiras do Norte ao Sul do Brasil. A busca por cédulas não é um caso isolado de uma única região do país, mas o estado do Maranhão se destaca.
Mesmo na era do Pix, o pagamento em dinheiro faz parte do dia a dia do comércio e de prestadores de serviços do estado. Na capital, São Luís, os motoristas de aplicativo preferem cédulas, por exemplo.
Ainda que o estado tenha uma taxa média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) superior à do Nordeste e do Brasil, dados públicos ajudam a entender o porquê desse fenômeno.
Segundo levantamento feito pela Folha com base em dados do Banco Central e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Maranhão é o segundo estado com menos agências bancárias proporcionalmente ao número de habitantes, atrás apenas de Roraima.
Para cada 22.434 habitantes, há um ponto de atendimento. Em São Paulo, a proporção é de um para cada 9.072.
Pesquisa do IBGE feita em 2021 mostra ainda que o Maranhão é o estado com a menor taxa de acesso à internet: 28,2% das pessoas com 10 anos ou mais não tinham usado internet nos três meses anteriores. Em São Paulo, a taxa era de 9% naquele ano.
Essa situação dificulta o uso de aplicativos, hoje o maior canal de acesso para a realização de transações bancárias, segundo dados do BC. Nem os correspondentes bancários são suficientes.
Além disso, taxas cobradas por cartões ou maquininhas pesam no bolso dos comerciantes, e o dinheiro é a saída.
A TecBan, dona do Banco24Horas —conhecido pelos caixas eletrônicos com cofres— e parceira de 150 instituições financeiras, lançou o Atmo, um dispositivo que permite saques em máquinas sem armazenamento de dinheiro no local.
Com um pequeno dispositivo em estabelecimentos comerciais de menor porte, a população consegue sacar dinheiro com ou sem cartão do banco. Basta inserir o valor a ser sacado, passar o cartão ou digitar agência e conta, e o valor cai na conta do proprietário do comércio, que entrega o dinheiro do caixa nas mãos do cliente.
Além de não pagar taxa, com o dispositivo os estabelecimentos que aceitam instalar a máquina ganham uma bonificação a cada transação e clientes ainda optam por usar parte do dinheiro sacado com compras ali mesmo.
“O Atmo foi instalado aqui há cinco meses. Desde então, o faturamento aumentou de 20% a 25%”, disse Kaliel Matias, 27, proprietário do Mix Atacarejo. Segundo ele, em média, os clientes sacam R$ 2.000 por dia no local.
O plano da TecBan é alcançar 90% das cidades maranhenses em 2024. Hoje, a empresa está presente em 27% dos municípios do estado do Nordeste.
Existem desafios operacionais e logísticos no Maranhão e na região Norte e Nordeste. Então, nossa forte presença nesses locais reflete a própria demanda da região Rodrigo Maranini
coordenador de canais de distribuição e de trade marketing do Banco24Horas
Com o Atmo e outros dispositivos, 30% do total de máquinas do Banco24Horas de todo o país está hoje no Norte e Nordeste.
“Existem desafios operacionais e logísticos no Maranhão e nas regiões Norte e Nordeste. Então, nossa forte presença nesses locais reflete a própria demanda da região”, diz Rodrigo Maranini, coordenador de canais de distribuição e de trade marketing do Banco24Horas.
A partir de novembro, os clientes poderão começar a pagar contas pelo Atmo e, em janeiro, fazer recargas de celular.
A TecBan também oferece no Nordeste uma tecnologia chamada +Varejo. Com ela, pontos comerciais de porte maior depositam o dinheiro acumulado no caixa em uma máquina de autoatendimento, na qual clientes também podem fazer saques.
Atmo, dispositivo para saques do Banco24Horas, estimula a economia circular e é uma solução para cidades pouco bancarizadas – Fabiano Araújo/Divulgação
O equipamento diminui a movimentação de carro-forte e aumenta a segurança no local, já que reduz a quantidade de cédulas nos caixas. “Com essas soluções, o sistema financeiro do Brasil economiza R$ 5 bilhões por ano”, afirma Maranini.
O principal cliente do Banco24Horas no +Varejo é o Grupo Mateus, a maior rede de supermercados do Nordeste, com sede no Maranhão.
Controlada por cinco dos maiores bancos do país —Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil—, a TecBan é líder no setor e, segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), não tem nenhum concorrente direto reconhecido.
No entanto, uma empresa do Sul oferece uma solução similar ao +Varejo.
A Saque e Pague está presente hoje em mais de 300 cidades do país, sendo que em muitas delas não há nenhuma outra alternativa de serviços bancários, como Santa Margarida do Sul (RS), Santa Isabel do Ivaí (PR), Pacatuba (SE) e Barrocas (BA).
Com sede em Porto Alegre, 30% da operação da empresa está concentrada no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, segundo o CEO da companhia, Givanildo Luz.
Classificada por ele como “recicladora de dinheiro”, a Saque e Pague oferece uma solução na qual os pequenos comerciantes podem depositar o dinheiro do caixa na máquina, por onde os clientes também realizam saques.
Com isso, a empresa também estimula a economia circular, ao instalar máquinas de autoatendimento em postos de combustíveis, farmácias e supermercados.
Quando escutamos que as cédulas de dinheiro estão acabando, percebemos que a realidade é muito diferente. O Brasil é um país continental, com realidades muito distintas dos centros financeiros, como a Faria LimaGivanildo Paz
CEO da Saque e Pague
À Folha, Givanildo destaca a relevância do dinheiro como forma de pagamento no país, ao destacar que há espaço no mercado para cartões e Pix.
“Quando escutamos que as cédulas de dinheiro estão acabando, percebemos que a realidade é muito diferente. O Brasil é um país continental, com realidades muito distintas dos centros financeiros, como a Faria Lima”, diz.
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