Dono de mineradora, Amazonino está em lista de candidatos que pretendem explorar terras indígenas na Amazônia

De acordo com projeto Amazônia Minada, o político está incluso na lista de candidatos nas eleições 2020 que têm requerimentos de exploração mineral em terras indígenas (Divulgação)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O candidato à Prefeitura de Manaus mais votado no primeiro turno das eleições 2020, Amazonino Mendes (Podemos) é um dos 13 postulantes que buscaram voto no domingo, 15, que têm requerimentos de exploração mineral em terras indígenas. De acordo o levantamento do projeto Amazônia Minada, iniciativa do InfoAmazonia lançada em 2019, dez desses políticos são da Amazônia Legal.

De acordo com a entidade, que já analisou mais de 3 mil requerimentos minerários protocolados na Agência Nacional de Mineração (ANM) que estão sobrepostos a terras indígenas, o número de políticos é o maior desde o pleito de 2014.

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No total, desde 2014, são 38 candidaturas em todo o País ligadas à mineração nessas áreas, sendo que 32 são de políticos da própria região amazônica.

“Um dos nomes mais conhecidos é o de Amazonino Mendes, candidato a prefeito de Manaus pelo Podemos. Ex-governador do Amazonas, Mendes é sócio majoritário da mineradora SMD Recursos Naturais Ltda, empresa responsável por seis pedidos de pesquisa de minério de estanho em áreas dos povos Waimiri Atroari, no Amazonas, e Yanomami, em Roraima”, diz a organização.

Em novembro de 2019, o projeto Amazônia Minada mostrou que a companhia quer extrair minério de ferro no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Amapá. O caso foi tema de reportagem do site The Intercept Brasil.

Conforme a InfoAmazônia, a empresa SMD Recursos Naturais também tem em seu quadro societário Samuel Assayag Hanan, ex-vice-governador do Amazonas e ex-secretário estadual da Fazenda. A organização destacou que em 2018, o então governador Amazonino Mendes indicou o sócio Hanan para o Conselho de Administração da Companhia de Gás do Estado (Cigás) e , em agosto do mesmo ano, o Tribunal de Contas do Estado aprovou a sua convocação para explicar indícios de irregularidades na Cigás.

“Entre as pessoas que querem minerar a Amazônia e que ocuparam cargos relevantes no governo de Amazonino Mendes está o geólogo e empresário João Orestes Schneider Santos – ex-secretário de Planejamento, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do estado”, revelou a organização.

De acordo com o levantamento, Schneider Santos é sócio ou administrador de três empresas que, juntas, têm 17 requerimentos na ANM para explorar minérios em Terras Indígenas. Os pedidos são para extração de bauxita em áreas dos povos Munduruku, Mura e Arapiun – no Amazonas e no Pará.

Ainda em 2018, quando foi nomeado secretário do Amazonas, Schneider recebeu o seguinte “elogio” do então governador, lembrou a entidade: “É inadmissível como um Estado como o Amazonas, com uma riqueza mineral gigantesca, não tenha uma política mineral. Para tanto, nós estamos nos socorrendo de um dos maiores expoentes do setor, de toda a nação brasileira, o doutor Schneider”.

Preocupante

Ao InfoAmazônia, o ambientalista Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, explicou que os requerimentos feitos por políticos são preocupantes e já deveriam servir de alerta para os eleitores nestas eleições.

“Eles [os políticos] estão propondo realizar uma atividade ilegal, e isso é preocupante. Acho que as pessoas, na hora votar, deveriam considerar isso: um candidato que propõe realizar uma atividade econômica ilegal numa área. Ou eles estão, realmente, esperando que essas sinalizações do governo de abrir, de passar por cima da Constituição, se configurem”, afirmou à organização, o ambientalista.

Governo Bolsonaro

Segundo o levantamento do Amazônia Minada, no governo Bolsonaro houve um aumento recorde de requerimentos minerários em Terras Indígenas (TI).

A pesquisa também mostra que o PSL, MDB e DEM lideram a lista de candidaturas em 2020, com dois candidatos em cada sigla. Além disso, quase todos disputam cargos em cidades das regiões Norte e Centro-Oeste, com exceção do bolsonarista Arthur da Silva Correa, que concorre à Câmara municipal do Rio de Janeiro pelo PSL.

Correa foi o candidato a vereador no Rio que mais recebeu recursos da sigla: R$ 400 mil. Nas eleições 2020, o postulante recebeu apenas 5.620 votos e não foi eleito. Conforme o InfoAmazônia, o bolsonarista é sócio da Mineração Gold do Água Azul Ltda., que está inapta na Receita Federal desde dezembro de 2018, mas até outubro daquele ano tinha autorização para explorar minério de ouro na TI Munduruku, em Jacareacanga, sudoeste do Pará. O requerimento continua tramitando na ANM.

A REVISTA CENARIUM entrou em contato por telefone com a assessoria de Amazonino Mendes e aguarda resposta.

Confira a lista dos candidatos mineradores:

Amazonio Mendes (Podemos) – candidato a prefeito de Manaus (AM)

Evandro Cruz (MDB) – candidato a vereador em Humaitá (AM)

Esacheu Nascimento (PP) – candidato a prefeito de Campo Grande (MS)

Nemias Moraes (DEM) – candidato a vice-prefeito em Guaraíta (GO)

José Sampaio Leite (DEM) – candidato a prefeito de Espigão do Oeste (RO)

Gilson Ferreira da Silva (MDB) – candidato a vereador em Marabá (PA)

Wilson Carlos Araújo (PCdoB) – candidato a vereador em Bom Jesus do Tocantins (PA)

Janes Gomes (PPS) – candidato a vereador em São Félix do Xingu (PA)

Sirney Nascimento Paulo (PSD) – candidato a vereador em Peixoto de Azevedo (MT)

Zeneide Peres de Sousa (PSDB) – candidata a vereadora em Pacaraima (RR)

Manoel Ferreira Filho (PSL) – candidato a vereador em Itaituba (PA)

Arthur da Silva Correa (PSL) – candidato a vereador no Rio de Janeiro (RJ)

Marcio Rodrigo Martins (PTB) – candidato a vereador Campo Novo de Rondônia (RO)

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