Dos ‘manaós’ aos manauenses: simbologia escassa de uma história

Indígena com o rio no fundo da imagem. (Ricardo Oliveira/ Cenarium)

Náferson Cruz – Da Revista Cenarium

MANAUS – Há 351 anos, Manaus era apenas um forte feito de pedra e de barro, que os portugueses usavam para proteger o norte do Brasil das invasões espanholas. Em volta, moravam várias tribos de índios: os barés, os baniwas, os passés. Também havia uma tribo chamada “manaós”, que acabou dando nome à cidade.

Os manaós que primitivamente dominavam o vale do Rio Negro foram extintos com o passar do tempo, mas têm como descendentes os baniwas do Rio Negro, por meio do tronco linguístico Aruak. Eles caracterizavam-se pela mitologia marcante e na formação de estratégia de luta.

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Palco de muitos desses movimentos indígenas eram feitos nos aldeamentos (processo de reunião de índios em aldeias que geralmente ficavam próximas a povoações coloniais e igrejas), como na rua Bernardo Ramos, no Centro. Hoje, a área deu lugar a uma praça, institutos, bares e restaurantes, mas em meados do século XVII, segundo historiadores, havia no local a maior concentração dos manaós, que atuavam como reserva de trabalho para os camponeses e missionários.

Rua Bernardo Ramos concentrava os aldeamentos de Manaós no século XVII. (Foto: Reprodução/internet)

Diante das constantes repressões impostas pelos colonizadores e membros da catequese, os manaós, liderados por Ajuricaba, resolveram contrariar o domínio lusitano. Porém, Ajuricaba caiu prisioneiro, mas antes de ser levado à Corte, em Belém, o guerreiro índio atirou-se nas proximidades do encontro das águas. Preferiu morrer a viver como escravo. Mais tarde, seus feitos foram revestidos de grande heroísmo e atravessou o tempo e para os filhos do Amazonas.

Ajuricaba é considerado um dos grandes líderes do povo manaós (Reprodução/internet)

Simbologia escassa

Mesmo diante de pouco reconhecimento pela sua bravura, Ajuricaba tornou-se um símbolo. Apesar da escassa referência de sua história, seu nome é visto em uma avenida, no bairro da Cachoeirinha, Zona Sul, nada memorável ou simbólico para tal feito e em algumas ruas. Mesmo assim, a comerciante Maria Medeiros, 51 anos, que reside na avenida Ajuricaba, diz conhecer parcialmente a história. “Ele não aceitou a imposição dos colonizadores e das ações missionárias, então Ajuricaba se rebelou e, em seguida, se jogou no rio, tornando-se marco na história do Amazonas”, explicou a comerciante.

Há ainda uma Unidade Básica de Saúde (UBS), situada no bairro Alvorada, e o conjunto habitacional no mesmo bairro, na Zona Centro-Oeste, que levam o nome de Ajuricaba. Um dos moradores mais antigos, Amarildo Soares, 76 anos, disse que não conhece profundamente a história de Ajuricaba, que deu nome ao conjunto onde mora desde 1988. Entretanto, o pouco que sabe, descreve o indígena como um herói para o Estado. “Ele lutou contra o domínio dos portugueses que vieram para cá e anos depois o Estado se tornou independente”, contou o antigo morador.

‘Não há grandes referências’

O antropólogo Ademir Ramos destaca que, infelizmente não existe em Manaus, nos tempos atuais, nenhuma referência marcante desta história de um bravo guerreiro indígena, que preferiu se jogar ao rio acorrentado, a ser morto pelo inimigo.

“Os únicos vestígios e que ainda passam despercebidos são da ocupação indígena no Tarumã, e dos aldeamentos localizados no Centro, além disso, somente na região do Alto Rio Negro, onde há grandes pedras que registram o passado dos manaós, fora isso, a riqueza desse povo que deu origem ao nome a Manaus é tratada como lixo, não há grandes referências indicando o histórico passado dos manaós e de Ajuricaba que queiram ou não, também fazem parte da história de Manaus e do Amazonas”.

Ponto histórico

A praça Dom Pedro, no Centro, é um dos poucos espaços do Brasil que compreende períodos distintos da história local. É um lugar privilegiado, próximo das residências 69 e 77, na rua Bernardo Ramos, que dizem ter sido as primeiras casas de Manaus. E embaixo da praça tem um cemitério indígena cercado de urnas funerárias, o pouco que restou está em exposição no Paço da Liberdade.

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