Economistas apontam que BNDES deve ter uma atuação reforçada durante Governo Lula


05 de novembro de 2022
Economistas apontam que BNDES deve ter uma atuação reforçada durante Governo Lula
Prédio do BNDES no Rio de Janeiro (Lucas Tavares/23.out.19/Folhapress)
Da Revista Cenarium (*)

MANAUS – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve ter uma atuação reforçada durante o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), projetam economistas.

Eles, porém, não enxergam por ora a volta do banco público a políticas adotadas –e bastante criticadas– em gestões petistas anteriores, como a de crédito farto e subsidiado para grandes empresas, as chamadas campeãs nacionais.

“No plano de governo, Lula indicou que iria reforçar a importância e o peso do BNDES na economia. Há uma sinalização de que o banco vai ter uma ação mais intensa”, avalia a economista Carla Beni, professora da FGV (Fundação Getulio Vargas).

“Mas a gente tem de lembrar que quem ganhou a eleição não foi o PT sozinho. Foi uma coalizão. Acredito que esse movimento vá impedir o governo de cair no mesmo modelo de antes, até para não errar de novo”, acrescenta.

Em uma entrevista em abril, Lula falou em “transformar o BNDES em um grande banco de investimentos para pequenas e médias empresas”. Essa associação voltou a ser feita ao longo da campanha.

“Vamos incentivar o microempreendedorismo, e o BNDES vai agora financiar pequenas e médias empresas, o micronegócio, o empreendedorismo”, afirmou Lula em agosto.

Já às vésperas do segundo turno, a campanha petista divulgou uma carta na qual indicou que bancos públicos, “especialmente o BNDES”, além de companhias como a Petrobras, “terão papel fundamental neste novo ciclo”. O programa de governo também fala em fortalecer os bancos públicos.

“A gente tende a ver um BNDES mais atuante, mais reforçado. O que se espera é que haja uma posição mais estratégica agora”, diz o economista Rafael Cagnin, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

“Não estamos falando daqueles empréstimos do passado, quando o banco cresceu com transferências do Tesouro. O banco não precisa se alavancar naquela magnitude. Ele precisa ser mais efetivo, mais estratégico”, diz.

Criado há 70 anos, o BNDES ampliou sua atuação durante a era petista, com crédito a baixo custo para grandes empresas.

No governo Dilma Rousseff (PT), os desembolsos chegaram a R$ 190,4 bilhões apenas em 2013, conforme dados disponíveis no site da instituição.

Os recursos encolheram a partir de mudanças adotadas nos mandatos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL). O banco, então, passou a concentrar mais esforços na estruturação de projetos em áreas como a de infraestrutura e a de privatizações.

Em 2021, os desembolsos caíram para R$ 64,3 bilhões. Neste ano, de janeiro a junho, a quantia ficou em R$ 33,2 bilhões.

“Existe um arco de alianças políticas [com Lula], e também se espera um aprendizado em relação a experiências anteriores. Assim, a atuação do BNDES não deve ser vista apenas como um resgate do passado”, aponta Cagnin.

A bolsa de apostas para a presidência do banco foi aberta logo após a definição do segundo turno das eleições.

Um dos cotados é o economista Gabriel Galípolo, ex-presidente do banco Fator. Ele atuou na campanha petista como conselheiro econômico de Lula, buscando aproximar o então candidato do mercado financeiro.

Também não está totalmente afastada a hipótese de o ex-ministro Aloizio Mercadante ocupar a presidência do BNDES.

Na visão de Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, ainda é preciso aguardar as primeiras confirmações do novo governo para entender o papel do banco a partir de 2023.

Ele vê um quadro “mais restrito” para as fontes de recursos da instituição (funding), se comparado às gestões petistas anteriores.

Assim, o caminho para o BNDES, avalia, seria concentrar esforços no financiamento de projetos que despertam menos interesse no setor privado, incluindo iniciativas de pequenas empresas e no setor de saneamento básico.

“Tentar competir com o setor privado, com taxas subsidiadas, como no passado, seria um erro colossal”, afirma Vale. “Uma estratégia como a das campeãs nacionais tem de ser evitada a todo custo.”

Segundo dados disponíveis no site do BNDES, o Tesouro Nacional representava 40% das fontes de recursos do banco em 2018. Em 30 de junho de 2022, a fatia estava em 15%.

“O país precisa investir nas pequenas e médias empresas, nas startups. São esses os negócios com mais dificuldade para tomar crédito, e não as grandes campeãs nacionais, que podem ir ao mercado de capitais”, diz Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama e professor do Ibmec-RJ.

Ele avalia que Lula assumirá a Presidência em meio a um cenário externo “mais desafiador” do que nos mandatos anteriores, o que também reforça a necessidade de preocupação com o quadro fiscal.

Desde 2018, os contratos de empréstimos do BNDES são atrelados à TLP (Taxa de Longo Prazo), mais associada a taxas de mercado.

Essa modalidade substituiu a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que era menor por uma decisão de governo e acabava impondo custos não explícitos à política de crédito do banco.

(*) Com informações do Estadão

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