EDITORIAL – A suspeita psicose do vice-governador do Amazonas

Paula Litaiff – Da Revista Cenarium

MANAUS – A psicose é um transtorno psicológico que altera o estado mental de uma pessoa, fazendo-a viver em dois mundos paralelos: o real e o imaginário, além de poder gerar síndrome de perseguição. Literaturas sobre o assunto apontam que há tipos de psicoses e períodos de duração. O “breve distúrbio psicótico”, chamado também de “surto psicótico”, pode durar um mês ou um dia.

Ao fazer a mudança na titularidade da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), valendo-se da ausência do governador do Estado, Wilson Lima (PSC), nessa quinta-feira, 22, o seu vice, Carlos Almeida, viveu uma realidade paralela, na qual não há ritos processuais na gestão pública e com a ausência definitiva do governador no cargo. Não é a primeira vez que Almeida tem pensamentos desorganizados.

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Com pesquisas apontando menos de 5% de intenção de votos, em 2019, para a eleição à Prefeitura de Manaus, Carlos Almeida rompeu, politicamente, com o então presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), Josué Neto, ao “imaginar” que ele seria um concorrente na predileção de Wilson Lima. A conduta gerou uma ruptura entre Legislativo e Executivo, já que Almeida era o representante do governo na Casa.

Em 2020, em meio à primeira onda da pandemia do coronavírus, na qual o Amazonas passava por sua pior crise na história da rede pública de Saúde, o vice-governador do Amazonas fez ruir a relação pessoal e institucional com o governador. O motivo: exigências pessoais, entre elas a de manutenção de cargos de assessores. A cobrança tomou conta do Judiciário em Manaus e seguiu a Brasília, onde foi arquivada.

Neste ano, Carlos Almeida surpreendeu o meio político do Amazonas ao filiar-se ao PSDB, um partido que sempre o criticou e, cujos líderes o chamavam, dois anos antes, de “traficante”. Na legenda tucana, e dentro da “nova realidade” que o vice-governador construiu, ele planeja ser o “01” do governo na eleição do ano que vem.

Psicótico ou/e conspirador

Há quase 60 anos, o presidente da República, Jânio Quadros, renunciava ao cargo em 25 de agosto de 1961, após alegar pressão de “forças ocultas”, com sete meses de gestão. Apesar da justificativa estranha, a renúncia de Jânio foi, na verdade, uma tentativa de golpe que não deu certo, segundo historiadores.   

De acordo com eles, Jânio planejava obter amplos poderes, enfraquecer o Congresso e governar como um ditador. Há um consenso entre pesquisadores de que a saída de Jânio era um pretexto para que a população fosse às ruas e pedisse a sua permanência. Supôs-se que o apoio popular lhe daria forças para obrigar o Parlamento a ser-lhe submisso. A especulação não ocorreu.

No Amazonas, o efeito

O episódio envolvendo o vice-governador do Amazonas nessa quinta-feira, 22, com a mudança na gestão da Secretaria de Segurança Pública – sem um entendimento com o governador – atenderia, em tese, o pedido populista da oposição na Assembleia Legislativa, mas gerou efeito contrário. O governo classificou a conduta de “fraudulenta” e Carlos Almeida recebeu críticas da imprensa nacional.

Reprodução/Folha de S.Paulo

História e características

O ex-presidente da República Jânio Quadros ficou conhecido, na história, por suas movimentações políticas fora da normalidade. Na eleição, distribuiu vassouras aos eleitores, como símbolo do marketing que criou para combater a corrupção.

Ex-presidente da República, Jânio Quadros segura uma vassoura, símbolo de sua propaganda eleitoral (Senado)

No governo, Jânio teve características “marcantes” com a publicação de decretos relacionados à moralidade. Ele proibiu o uso de biquínis em concursos de beleza. O ex-presidente faleceu em 1990, e nunca se soube, comprovadamente, se possuía algum tipo de psicose.

As psicoses não têm cura, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Elas podem ser tratadas e entrar em remissão, mas o risco de afetar o paciente sempre estará presente.  

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(*)Graduada em Jornalismo, Paula Litaiff é diretora executiva da Revista Cenarium e Agência Amazônia, além de compor a bancada do programa de Rádio/TV “Boa Noite, Amazônia!”. Há 17 anos, atua no Jornalismo de Dados, em Reportagens Investigativas e debate de temas sociais. Escreveu para veículos de comunicação nacional, como Jornal Estado de S. Paulo e Jornal O Globo com pautas sobre Amazônia. Seu trabalho jornalístico contribuiu na produção do documentário Killer Ratings da Netflix.

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