EDITORIAL – Davi e Golias na Amazônia, por Márcia Guimarães
06 de novembro de 2024
Ela compara "Davis" – as pequenas comunidades, famílias e grupos tradicionais – aos "Golias" das grandes corporações e multinacionais que exploram as riquezas naturais da região (Composição: Weslley Santos/Cenarium)
Davi era um jovem pastor que venceu o gigante Golias armado com sua fé, uma pedra e uma funda – um tipo de arma de arremesso. Esta história bíblica foi a primeira que me veio à mente ao refletir sobre este editorial, não pelo teor religioso, mas pelo simbolismo. O confronto entre Davi e Golias representa a luta dos pequenos contra os grandes, dos aparentemente mais frágeis contra os mais fortes. E é disso que trata a reportagem de capa desta edição: a batalha de pequenas comunidades frente a gigantescas empresas.
Na Amazônia, todos os dias ocorrem embates entre “Davis” e “Golias”. São batalhas em que pequenas famílias ou grupos de povos tradicionais enfrentam grandes multinacionais ou corporações poderosas para garantir o respeito aos seus direitos diante de interesses exploratórios, voltados a obter lucros bilionários com a comercialização das riquezas da floresta, das águas e das terras da região.
Há sempre a promessa de desenvolvimento econômico e social e de tirar os povos amazônicos do isolamento. Diante dessas promessas, nossos pequenos lutam para serem ouvidos e para que suas necessidades sejam consideradas. Eles exigem compensações pelos inevitáveis danos ao meio ambiente em que vivem, controle sobre esses impactos para evitar a degradação completa da terra e, por que não, também colher parte dos frutos financeiros.
Assim foi com a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Assim é com a questão do Ferrogrão, que afeta áreas no Pará e em Mato Grosso; com o conflito em torno da exploração de potássio em Autazes, no Amazonas; e também com a extração de gás na região entre os municípios amazonenses de Silves e Itapiranga, este último sendo o tema central de nossa reportagem de capa.
Em um recente capítulo da batalha judicial entre indígenas que lutam pelo reconhecimento de seus territórios na área de exploração de gás, um novo personagem surgiu: povos isolados habitando a mesma região, que inclui áreas de manejo de madeira. Sem contato com o mundo exterior e vivendo de forma autossuficiente no meio da floresta, esses povos são ainda mais vulneráveis. A proteção deles exige uma ação rápida dos órgãos indigenistas e da Justiça.
Afinal, ao contrário da história bíblica, em que o jovem Davi vence o gigante sozinho, na Amazônia de hoje, a união entre órgãos de defesa e a sociedade é essencial para que os pequenos da floresta possam enfrentar os grandes em prol da preservação da Amazônia. E, mesmo assim, a dúvida persiste: sairá Davi vitorioso?
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