EDITORIAL – Espiral da exclusão no Centro de Manaus


Por: Paula Litaiff

02 de setembro de 2025
EDITORIAL – Espiral da exclusão no Centro de Manaus
Imigrantes foram retirados à força de depósito no Centro de Manaus (Ricardo Oliveira/Cenarium)

As cenas de imigrantes haitianos sendo arrastados, empurrados e humilhados por guardas municipais, no Centro de Manaus, em agosto, revelam um projeto político que insiste em transformar a cidade em vitrine às custas da exclusão dos mais pobres. Sob a justificativa de “revitalização urbana”, a Prefeitura de Manaus evoca uma lógica de “higienização social” que, como nos lembra o sociólogo Luiz Antônio Nascimento, reproduz práticas de regimes autoritários que buscavam “limpar” a sociedade de seus indesejáveis. A pedido dos leitores da REVISTA CENARIUM, o caso tornou-se o especial desta edição.

O alvo, mais uma vez, não são os grandes sonegadores ou empresários que acumulam dívidas milionárias, mas trabalhadores informais, mulheres negras, imigrantes e refugiados que encontram no comércio ambulante a única alternativa de sobrevivência. A escritora Lélia Gonzalez, em sua obra “Lugar de Negro”, denuncia como o racismo estrutural molda as hierarquias sociais e urbanas, relegando negros e imigrantes aos espaços da precariedade. 

EDITORIAL – Manaus da truculência e incompetência

O que assistimos em Manaus é a atualização desse mecanismo: corpos negros e estrangeiros expulsos do Centro da cidade, invisibilizados em nome de uma estética urbana que serve ao turismo e ao espetáculo, mas não à vida real. Gonzalez já advertia que a marginalização não é efeito colateral, mas produto intencional de um sistema que insiste em determinar onde é, ou não, o “lugar do negro” e do pobre.

No lugar de enfrentar a desigualdade estrutural, o poder público opta por maquiar a cidade, retirando da visão aquilo que incomoda: a presença de trabalhadores informais que, diariamente, sustentam suas famílias com dignidade, apesar da ausência de políticas públicas de inclusão. Esse higienismo social, travestido de ordenamento, escancara a perversidade de uma gestão que criminaliza a pobreza e terceiriza responsabilidades.  

Manaus não precisa de um projeto higienista, mas de uma política pública que reconheça e valorize seus trabalhadores invisibilizados. Capacitação, microcrédito, espaços adequados e regularização simplificada são caminhos possíveis. Enquanto o prefeito de Manaus, David Almeida [oriundo da periferia] insistir em enxergar na pobreza um “problema” a ser retirado das ruas, seguirá alimentando a espiral de exclusão que sustenta a desigualdade. A cidade que expulsa seus pobres nega sua própria essência amazônica: diversa, plural, marcada pela luta de sobrevivência. 

O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.

(Reprodução/Revista Cenarium)

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