EDITORIAL – O veneno que escorre nos rios


Por: Eduardo Figueiredo

16 de maio de 2025
EDITORIAL – O veneno que escorre nos rios
Indígenas Muduruku em protesto contra garimpo (Tuane Fernandes/Greenpeace)

A Amazônia sangra em silêncio. Os rios, antes fontes de vida e abundância, hoje carregam um veneno invisível que ameaça culturas milenares, ecossistemas inteiros e o futuro dos povos tradicionais. O mercúrio, um elemento químico metálico utilizado em larga escala no garimpo ilegal, percorre as artérias da floresta, contaminando os rios e peixes da região, atingindo em cheio os povos originários, principalmente os Yanomami e os Munduruku.

Assim como aconteceu no Japão, na década de 1950, onde a Doença de Minamata devastou comunidades pesqueiras após o despejo de resíduos industriais nos rios pela empresa Chisso Corporation, hoje vemos o cenário se repetir. À época, centenas de pessoas adoeceram com sintomas neurológicos severos, causados pela contaminação por metilmercúrio, uma toxina que se acumula nos peixes e, por consequência, em quem se alimenta deles. O que foi considerado um dos maiores desastres ambientais da história agora ecoa, décadas depois, no coração da Amazônia.

Nesta edição, a REVISTA CENARIUM aborda o drama dos Yanomami e dos Munduruku, que enfrentam uma tragédia semelhante, porém silenciosa. Estudos recentes confirmam altos níveis de mercúrio no sangue de adultos e crianças, com impactos que vão desde perdas cognitivas até malformações congênitas. Em algumas regiões, 100% das amostras coletadas entre indígenas apresentaram níveis de mercúrio acima do limite seguro estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso não é apenas um problema de saúde pública, é um crime ambiental e humanitário.

O garimpo ilegal tem transformado os rios em canais de morte. A destruição vai além da contaminação: envolve violência, invasões territoriais, tráfico de pessoas e desintegração cultural.

Hoje, a Amazônia vive sua própria Minamata. Não podemos assistir passivamente à repetição de uma tragédia anunciada. É urgente reconhecer que proteger os povos indígenas é proteger a própria floresta e, portanto, proteger a todos nós. O tempo de agir é agora.

O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.

(Reprodução/Cenarium)
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