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EDITORIAL – ‘Parque das Tribos’: direito de ser, por Márcia Guimarães
Moradora da comunidade "Parque das Tribos", Zona Oeste de Manaus (Foto: Suamy Beydoun.)
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11 de maio de 2024
Chegamos a 2024, a mais um abril dos indígenas, ainda muito em dívida com nossos povos originários. Há recentes avanços, como os espaços sendo ocupados, aos poucos, nos palcos de poder, no Executivo, Legislativo e Judiciário, nos bancos das universidades, no cenário artístico e intelectual. Avanços conquistados à base de muita luta. Mas, ao mesmo tempo, há ainda barreiras que já poderiam ter ficado no passado, como as adversidades enfrentadas pelos indígenas em contexto urbano.
Em Manaus, cidade do Brasil onde há maior concentração de indígenas em números absolutos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a comunidade “Parque das Tribos”, localizada no bairro Tarumã, é um microcosmo que representa a conjuntura geral enfrentada por esses brasileiros de diversos povos. Muitos indígenas que lá vivem tiveram necessidade de deixar suas terras de origem no interior do Estado, onde há pouco ou quase nada de oportunidades em educação, saúde e trabalhos, para buscá-las na capital.
Mas, na cidade grande, não encontraram outro espaço de moradia que não fosse a ocupação da comunidade, onde, ainda hoje, lutam por acesso a serviços básicos como fornecimento de água, saneamento, transporte, energia elétrica, ruas asfaltadas, entre outros. O acesso a tais serviços é direito básico de qualquer cidadão e um dos fatores que pode conferir um pouco mais de dignidade à vida. Esse é o tema da nossa reportagem de capa desta edição.
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Na cidade grande, os indígenas em contexto urbano também precisam lidar com racismo, discriminação e questionamentos sobre suas origens, que insinuam que deixaram de ser quem são por estarem fora da aldeia ou Terra Indígena, sem cocar, ou com celular nas mãos. Antropólogos e sociólogos ouvidos pela reportagem analisam o contexto e afirmam: “ninguém inventa que é indígena”, nem deixa de sê-lo porque mudou de lugar. Nem tão pouco os costumes tradicionais e o vínculo sagrado com a natureza eximem o poder público de oferecer a esta população os serviços essenciais que têm obrigação de ofertar a todos.
Seja por necessidade ou vontade de mudanças, vale ressaltar que os indígenas que ocupam as cidades são cidadãos livres, como todos nós. E, como tais, têm direito de estar e ser quem são em quaisquer espaços onde queiram estar, sendo respeitados e podendo usufruir de tudo o que o poder público tem por obrigação oferecer.
Quem sabe um dia o Brasil, de fato, entenda e respeite os povos originários como livres. Talvez, assim, comece a pagar a dívida histórica.
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