A ecoansiedade é o medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental (Composição: Hugo Moura/CENARIUM)
Era da ebulição global, calor extremo, frio congelante, furacões avassaladores, seca histórica na Amazônia, enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul, ar seco espalhando queimadas fora de controle, nuvens de fumaça encobrindo países inteiros. É difícil escapar mental e emocionalmente ileso sob a enxurrada de desastres provocados pelo desequilíbrio climático. Estamos em crise ambiental e em tempos de ecoansiedade.
Descrita como um sentimento de angústia e medo crônico de um cataclismo ambiental, a ecoansiedade – também chamada de ansiedade climática ou ansiedade ambiental – se manifesta com sintomas semelhantes aos da ansiedade generalizada. Esse transtorno está se tornando cada vez mais comum em todo o mundo e, no Brasil, principalmente entre as populações mais vulneráveis, como aquelas que moram em locais de infraestrutura precária e os povos tradicionais, indígenas, ribeirinhos e quilombolas, que dependem do meio ambiente para sua sobrevivência.
Diante das catástrofes ambientais, muitos de nós sentimos aquele aperto no peito ou uma certa falta de ar. A descrença no futuro das próximas gerações sufoca os pensamentos. É quase impossível não sentir desconforto emocional ao se deparar com notícias sobre desastres, a destruição da natureza e as vidas humanas e animais que se perdem. Mas, se assistir ao noticiário já nos impacta, imagine viver à beira de um rio que seca, vendo os peixes que são seu alimento morrerem sem oxigênio, e a floresta que o abriga ser devorada pelo fogo. Desesperador.
É o que trazemos nos relatos e análises da reportagem de capa desta edição. Na Amazônia, uma das regiões do planeta mais sensíveis aos efeitos da crise climática, as populações que vivem em meio à floresta estão sentindo, à flor da pele, os impactos ambientais, o que tem feito aumentar os atendimentos psicológicos. Nas grandes cidades, o cenário não é muito diferente. Mesmo nas capitais, onde há mais estrutura de suporte, muitas pessoas relatam sintomas de ecoansiedade.
A palavra, que é relativamente nova – mencionada pela primeira vez há cerca de 20 anos –, vem ganhando espaço nos consultórios e já se tornou verbete de dicionário. No Brasil, um país de ansiosos, “ansiedade” foi eleita a palavra do ano, certamente influenciada também pelas preocupações ambientais 2024, ano de emergência climática e de crise de saúde mental.
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