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‘Elas nos fortalecem’, diz indígena Kiriri sobre participação massiva de mulheres contra PL 490
Mulheres indígenas no protesto, em Brasília (Alass Derivas/Derivas Jornalismo)
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26 de agosto de 2021
Priscilla Peixoto – Da Cenarium
MANAUS (AM) – A movimentação dos povos indígenas em Brasília para protestar contra a votação do marco temporal, nessa quinta-feira, 25, no Supremo Tribunal Federal (STF), mobiliza em média 6 mil indígenas na Praça dos Três Poderes. Durante os protestos que repercutem de forma internacional, é possível ver a presença massiva de mulheres frente à luta e às reinvindicações realizadas desde o último domingo, 22.
São mulheres de 165 diferentes etnias que se unem para somar e alcançar o mesmo propósito: protestar contra a aprovação do PL 490, que determina como terras indígenas aquelas que estariam ocupadas pelos povos originários em 5 de outubro de 1988, o que significa a necessidade de uma comprovação da posse da terra no dia da promulgação da Constituição da República Federativa Brasileira (CRFB).
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Para a indígena do povo Kiriri – indígenas brasileiros que habitam o Nordeste do Estado da Bahia – e comunicadora do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), Fabiana Kiriri, a presença das mulheres traz representatividade e força para a causa que, se aprovada, significa “atestado de morte” para mulheres, homens e crianças indígenas.
“Aprovar esse projeto é assinar a morte de nossos povos. A ida em massa dessas mulheres, inclusive, com suas crianças, mostra o quão urgente e grave é o assunto. Um protesto legítimo, não é fácil sair das aldeias e ir para estes movimentos lutar de frente, porém, a representatividade é importante e mostra o quanto a mulher indígena está na luta pelos direitos de seus irmãos e de seu povo”, ressalta Kiriri.
“Dão força ao movimento”
Fabiana Kiriri ressalta que a participação e, por vezes, o protagonismo das mulheres em movimentos indígenas não têm a intenção de se sobressair aos homens, mas vêm justamente para ecoar com mais força o pedido de respeito e garantir os direitos dos povos originários.
“O protagonismo da mulher indígena soma de forma extremamente positiva para todos, pois incentiva outras mulheres, jovens e homens para representar suas comunidades. Fortalece a nossa vontade de um dia ter aquilo que, na verdade, já é nosso. Merecemos respeito, o direito à terra, o direito à liberdade de ser quem somos, de cuidar de nossas crianças nas aldeias livres”, dispara Fabiana.
Ela relembra ainda nomes femininos que endossam e representam de frente diversos movimentos já realizados e voltados para as causas indígenas. A líder e ativista Sônia Guajajara, a advogada Sâmara Pataxó, a também advogada e deputada Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena a exercer a profissão no Brasil, e a vice-coordenadora do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), Patrícia Atikum, são algumas das figuras femininas citadas por Fabiana.
“Elas levam nossa demanda, estabelecem diálogos e nos ajudam a conquistar espaços com nossas vozes. Antes mesmo de estarem fisicamente ao lado de outras mulheres e homens nessas movimentações, há toda uma articulação de suma relevância para nós”, explica.
“Mulheres de todos o rios”
Na leitura de Carina Souza, de 27 anos, pertencente ao povo Dessana, a presença das mulheres firma, além da representatividade, a força da vida e da ancestralidade. A jovem Dessana, moradora do município de Novo Airão, distante 115 quilômetros de Manaus, acompanha atenta a movimentação em Brasília por meio das mídias.
“Não estou lá, mas sinto como se fosse parte de mim. Elas me representam, afirmam o que querem e sabem que este chão é também territórios delas. Elas representam gerações e gerações, abrigam em sua essência uma ancestralidade ímpar. Espero que Tupã abençoe nossas irmãs”, afirma Carina.
Apoio
Nessa terça-feira, 24, a recém-eleita e primeira presidente negra nortista da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, realizou uma postagem em uma rede social parabenizando e ressaltando a participação e força da mulher nas manifestações frente às causas dos povos originários. Ela destacou a atuação da líder Sônia Guajajara. “Como é fortalecedor encontrar mulheres como Sonia Guajajara, um abraço que nos dá força e inspiração para seguirmos em luta na defesa pelos povos originários”, postou Bruna.
A indígena Itocovoty Pataxó, presente em Brasília desde o início das movimentações contra a aprovação do PL 490, também usou as redes sociais para manifestar o repúdio contra o projeto e pedir apoio dos que estão acompanhando de longe o que ela classifica como “momento crítico e retrocesso”. “Estou aqui no terceiro dia de acampamento junto aos irmãos, peço que vocês acompanhem e reconheçam que a causa não é só nossa, ela é de todos. Precisamos dar as mãos nesse momento difícil, a luta é pela vida
“A cura da terra”
No final da manhã desta quarta-feira, 25, a Deriva Jornalismo e Fotografia, página voltada para informações e registros de lutas e resistências, também ressaltou a movimentação das mulheres indígenas antes mesmo da grande marcha realizada em direção ao Supremo Tribunal Federal (STF). Uma pausa para fortalecer a união de integrantes de povos diversos.
O momento antes da marcha iniciou com a participação das mulheres kayapó e das originárias Laklaño-Xokleng, povo diretamente prejudicado se aprovado o marco temporal defendido por garimpeiros, ruralistas, latifundiários e exploradores de terras indígenas. “Nossas mulheres dizem não a tudo que nos dizima e rouba nossos direitos”, disse Fabiana Kiriri.
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