‘Ele nunca me orientou a fazer algo diferente do que eu estava fazendo’, afirma Pazuello sobre Bolsonaro

Na ocasião, ao lado do presidente da CPI, Pazuello afirmou que "um manda, outro obedece" (Reprodução/O Globo)

Com informações do O Globo

BRASÍLIA – Em depoimento à CPI da Pandemia na manhã desta quarta-feira, 19, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que nunca recebeu ordens do presidente Jair Bolsonaro para fazer algo diferente da conduta adotada em sua gestão. A declaração, no entanto, contradiz um vídeo gravado pelo próprio Pazuello em outubro de 2020, após o então ministro ser desautorizado por Bolsonaro em relação à compra da vacina Coronavac. Na ocasião, ao lado do presidente, Pazuello afirmou que “um manda, outro obedece”.

O ex-ministro disse que o governo nunca cogitou, na sua gestão, medidas restritivas em âmbito nacional, apenas distribuição de equipamentos e insumos. Pazuello relatou ainda que Bolsonaro nunca teria pedido ao ministério que se abstivesse de medidas de distanciamento em larga escala, e que havia convergência entre posicionamentos dele e do presidente. “Em momento nenhum o presidente me deu ordem para fazer diferente do que eu já estava fazendo”, afirmou Pazuello.

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Pazuello também declarou à CPI que o Brasil não é obrigado a seguir orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) durante a pandemia. Segundo o ex-ministro, ele teve “100% de autonomia” para montar sua equipe, e lembrou que foi convidado diretamente por Bolsonaro, em abril do ano passado, para integrar o Ministério da Saúde ainda como secretário-executivo da pasta.

Ao tomar o depoimento de Pazuello, o relator da CPI da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL), perguntou se Bolsonaro tinha uma aconselhamento paralelo, ou seja, fora do Ministério da Saúde, para orientá-lo na política de enfrentamento à pandemia. Pazuello disse que chegou a ter uma reunião com médicos, proposta pelo empresário Carlos Wizard, para um aconselhamento independente. Contudo, de acordo com ele, na primeira reunião o ex-ministro ficou incomodado com o formato proposto por Wizard e o grupo não se reuniu mais.

“Eu não aceitei o formato de aconselhamento que ele tinha pensado”, afirmou o ex-ministro.

Segundo Pazuello, ele é amigo de Wizard e os dois ainda mantêm contato informal. O ex-ministro também disse que acredita que não foi esse grupo o responsável pela adoção da cloroquina no tratamento da Covid-19. O general relatou que o próprio Bolsonaro disse que cabia a ele, Pazuello, cuidar da saúde.

“Não quero dizer com isso que qualquer pessoa, e principalmente o presidente a República, não ouça, ou não levante dados, ou não procure avaliar o que está acontecendo em volta dele”, ponderou.

Questionado especificamente sobre o deputado Osmar Terra (MDB-RS), que chegou a ser cotado para o Ministério da Saúde e minimizou o impacto da pandemia, Pazuello disse ele “não tinha papel nenhum no ministério”. Pazuello também negou influência dos filhos de Bolsonaro — o senador Flávio Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro — e até lamentou não falar mais com eles.

Cloroquina

Perguntado sobre ordens de Bolsonaro em relação à cloroquina, remédio que, mesmo sem eficácia no tratamento da Covid-19, era a aposta do presidente contra a pandemia, Pazuello respondeu. “Em hipótese alguma. O presidente nunca me deu ordens diretas para nada”, afirmou.

Ainda sobre as orientações de Bolsonaro, Pazuello afirmou que foi orientado a executar ações do ministério o mais rapidamente possível.

Pazuello disse que 29 países têm algum protocolo para uso da cloroquina, incluindo China, Índia, México, República Tcheca, Cuba e Venezuela. Segundo ele, era válido tentar o uso “off label”, ou seja, fora da bula, conforme uma orientação do próprio Ministério da Saúde antes da chegada dele à pasta.

Pazuello argumentou à CPI que o ministério se amparou numa norma do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre autonomia médica para redigir uma nota informativa, com orientações sobre a dosagem de cloroquina e alertas para não utilização na “fase final” da doença.

Sobre as orientações de entidades internacionais, inicialmente Pazuello afirmou que a OMS “não impõe nada”. A OMS vem desaconselhando o uso de cloroquina em pacientes da Covid-19 desde julho de 2020.

“A OMS e a Opas não impõem nada para nós, nossa decisão é plena, o Brasil é soberano para tomar suas decisões em qualquer área, inclusive saúde, não somos obrigados a seguir nenhum tipo de orientação de OMS, ONU, de lugar nenhum. Somos soberanos”, declarou o ex-ministro.

Depois, diante da insistência para saber se o Ministério da Saúde seguia orientações da OMS ou tinha outras, Pazuello mudou o tom e disse que as posições da entidade “não eram contínuas pela própria incerteza da situação”, mas que “amparavam o nosso processo decisório”. Ainda assim, o ex-ministro reiterou que as orientações para combate à pandemia no País “eram do ministério, não da OMS”.

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