Eleições 2022: inexperiência de Moro prejudica Amazônia e preocupa especialistas

Sergio Moro a frente de uma bandeira brasileira. (Divulgação)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – As articulações em torno da disputa presidencial para a eleição de 2022 começam a movimentar a política nacional, e a Amazônia deverá estar na pauta dos candidatos. Um deles é o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que retornou ao Brasil na segunda-feira, 1º, para, segundo a imprensa nacional, dar início à movimentação política de pré-campanha. A CENARIUM conversou com especialistas em economia e política sobre o que esperar do candidato sobre temas relacionados a maior região do País, pois a falta de experiência de Moro na gestão pública preocupa.

Moro foi ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (Sem partido). Deixou o cargo em abril do ano passado, após acusar Bolsonaro de tentativa de interferência na direção da Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). O ex-juiz foi trabalhar como consultor em uma empresa nos Estados Unidos, vínculo que encerrou no final de outubro deste ano. No Brasil, a previsão é que se filie ao Podemos, na quarta-feira, 10.

O cientista político Carlos Santiago analisa que os futuros candidatos não parecem ter respostas sólidas para os problemas do Brasil, tanto na esfera socioeconômica (com a alta da inflação e o aumento da insegurança alimentar, por exemplo) quanto no desenvolvimento sustentável. Para ele, o perfil de Moro é de alguém sem experiência em gestão pública e que, portanto, poderá enfrentar dificuldades “enormes para entender e dar à Amazônia a sua devida importância”.

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“É um absurdo que em pleno processo eleitoral, a Amazônia não tenha destaque na agenda do governo federal e dos pré-candidatos. É muito mais fácil encontrar, fora do Brasil, debates sobre a importância da Amazônia. Candidatos como Sergio Moro e outros, com o perfil burocrático, insensível, dificilmente vai entender a Amazônia”, destaca o especialista.

O Brasil tem se tornado destaque internacional pela falta de governança no enfrentamento a crimes ambientais, como o desmatamento ilegal dos biomas, principalmente, da Amazônia. Recordes históricos da perda da vegetação natural são alcançados quase mensalmente, um problema ambiental que precisa de política nacional e efetiva para a região. Esses são alguns dos problemas que deverão ser enfrentados pelo futuro presidente da República.

“O, atualmente, presidente da República e nem seus opositores indicaram caminhos ou propostas para resolver os grandes dilemas e conflitos da Amazônia, que envolvem comunidades tradicionais, a questão indígena, as fronteiras, a posse de terras, queimadas e a busca de um desenvolvimento sustentável que respeite a diversidade cultural e ambiental da região”, destaca Santiago.

Leia também: ‘Se o desmatamento continuar, os efeitos serão drásticos’, diz pesquisador sobre emissões de gases

O cientista político Carlos Santiago (Reprodução/Internet)

Combate à corrupção

O professor coordenador do Núcleo de Cultura Política – Ciências Sociais, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ademir Ramos, destaca que a bandeira de Moro é pautada no combate à corrupção, mas que essa “velha bandeira” já foi levantada em governos anteriores, como o do ex-presidente Fernando Collor de Mello – com a “caça aos marajás” – e do próprio Bolsonaro.

“Isso é uma postura antiga que, na verdade, não prospera, porque quem combate a corrupção não é o Executivo, mas o Judiciário e o Executivo. Se ele vier com esse discurso do combate à corrupção, será esvaziado, não prosperará, com absoluta certeza, porque, na verdade, ele não é do ramo (político), ele é do campo jurídico, o que ele fez foi, exatamente, isso com a questão da Lava Jato”, destaca o professor.

Referente à formulação de propostas relacionadas à Amazônia, o professor reitera a análise do cientista Carlos Santiago sobre não haver “nenhuma possibilidade” de Moro dar atenção especial à Amazônia, mas que a disputa do ex-juiz, no pleito, é importante para se tornar mais uma opção aos brasileiros.

“Sobre a Amazônia é uma proposta inócua, nem sei se tem proposta. Não se alimenta muita esperança dessa perspectiva. Eu acho importante a presença dele na disputa política, porque faz com que o eleitor tenha mais alternativa para escolher”, destaca.

O professor Ademir Ramos (Reprodução/Câmara Municipal de Manaus)

Economia amazônica

A economia da região também é vista com preocupação por parte dos especialistas, já que o desenvolvimento econômico se relaciona, diretamente, com o desenvolvimento sustentável, valorização da cultura e atenção aos povos tradicionais e à biodiversidade. Uma “boa assessoria” nas áreas científicas e ambientais são opções para que Moro se destaque na campanha eleitoral.

“O desafio consistirá em como conciliar a ocupação já feita, da região, com as necessidades recentes, ambiental e reinserção nas cadeias globais de valor”, destaca o professor do Departamento de Economia e Análise da Ufam, Mauro Thury de Vieira Sá. “Se ele se mostrar disposto a recompor o aparato relativo ao meio ambiente, dentro de um caráter constitucional, talvez transmita maior segurança sob o prisma internacional. Resta saber como, internacionalmente, o mesmo será visto, devido ao ‘Vaza Jato'”.

O professor do Departamento de Economia e Análise da Ufam, Mauro Thury de Vieira Sá. (Reprodução/Arquivo Pessoal)

A CENARIUM tentou contato com o Podemos, por intermédio do presidente regional da sigla, deputado Abdala Fraxe, sobre quais expectativas podem ser esperadas da candidatura de Sergio Moro ao partido. No entanto, não obteve retorno até a publicação desta matéria.

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