Em 2022, número de crianças e adolescentes desaparecidos é seis vezes maior que 2021; maioria são meninas entre 12 e 17 anos

A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), por meio da Delegacia Especializada em Ordem Política e Social (Deops), é a responsável por apurar os casos de desaparecimento na capital e no interior (Foto: Revista Cenarium)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – 25 de maio é o dia de conscientização e alerta para o desaparecimento de crianças. Neste ano, em Manaus, o número de crianças e adolescentes desaparecidos teve um crescimento seis vezes maior em relação ao ano passado. Segundo dados disponíveis no site da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), em 2021, eram seis meninas desaparecidas, neste ano, o número cresceu para 23, com idade entre 12 e 17 anos.

No quantitativo geral, eram 55 pessoas desaparecidas, no ano passado, enquanto que no mesmo período de 2022 os registros saltaram para 114. O quantitativo baixo do ano de 2021 é reflexo do isolamento social causado pela pandemia de Covid-19.

No período de janeiro e fevereiro de 2021, o Amazonas estava enfrentando a crise do oxigênio e boa parte da população não saía de casa. Se comparar o mesmo período dos anos anteriores, o total era de 114 pessoas desaparecidas em 2020 e 130 em 2019.

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Dentre os maiores números de desaparecidos, os homens saem na frente. De janeiro de 2020 a fevereiro de 2022, foram 777 homens desaparecidos contra 283 mulheres. No registro por idade, os maiores números, em 2020, foram de 50 mulheres com idade entre 18 e 24 anos e 134 homens entre 35 e 64 anos. Em 2021, foram 63 desaparecidas entre 12 e 17 anos e 114 desaparecidos entre 35 e 64 anos.

A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), por meio da Delegacia Especializada em Ordem Política e Social (Deops), é a responsável por apurar os casos de desaparecimento na capital e no interior. A delegada titular da Deops, Catarina Torres, desmente a crença de que deve-se esperar horas, antes de registrar o Boletim de Ocorrência do desaparecimento.

“Não existe um tempo mínimo para registro, como é comumente informado por populares. Na maioria das vezes, os familiares ou amigos já procuraram em lugares que a pessoa, geralmente, frequenta, como, por exemplo, casa de amigos, parentes ou em seu local de trabalho. Assim, sendo notada a irregularidade na rotina, independentemente do tempo, já pode se direcionar à delegacia”, explicou a delegada por meio da assessoria de imprensa.

Imagens do banco de dados de desaparecidos da Polícia Civil (Foto: Revista Cenarium)

Agilidade

Segundo a delegada, a agilidade na investigação depende da rapidez com que a pessoa vai até a delegacia e a quantidade de informações que levam na denúncia, principalmente, em casos que envolvem particularidades, ou seja, com crianças ou pessoas com deficiência.

“Quando são crianças e adolescentes, de até 17 anos, os casos são de competência da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca)”, esclarece Catarina.

Dentre as principais motivações no desaparecimento de crianças, a delegada afirma que apesar da família não informar, muitas vezes as crianças fogem de casa, seja por LGBTfobia, por não quererem conviver com os pais por divergências familiares ou até envolvimento em crimes.

“Infelizmente, tem acontecido bastante casos de desaparecidos por questões criminosas. Atualmente, percebemos o aumento da participação de muitos jovens em grupos criminosos e envolvimento com o tráfico, isso causa um número considerável de desaparecidos”, contou.

Vivendo na pele

“Na minha opinião, quando chegar nessa fase de adolescente ou pré-adolescente, devemos ter mais sabedoria. Hoje, a Kayla não tem celular, ela estuda comigo, pois, ajudo ela nas atividades da escola”, conta Simara Marialva dos Santos, 31, mãe de Kayla Micaele dos Santos, 12, que desapareceu no dia 2 de janeiro de 2022 e foi encontrada 10 dias depois.

Na época, Kayla estava em casa e saiu sem avisar para onde ía, por volta das 22h do dia 2 de janeiro de 2022, foram 10 dias de sofrimento para Simara, que atribui a culpa do sumiço da filha à influência de outros jovens na internet.

“Minhas filhas não iriam ter celular, mas por conta da pandemia tiver que comprar para aulas online da escola, e isso foi a porta de entrada para os jogos online. Ela arrumou amizades que não conhecia e que incentivaram ela a sair de casa, e vieram buscá-la sem meu consentimento”, relembra.

Foto atual de Kayla com a mãe e a irmã (Foto: Acervo Pessoal)

Ela conta que mesmo com o apoio da polícia, o desdobramento do caso só teve repercussão depois que ela decidiu realizar uma manifestação com outros familiares e vizinhos. “Logo no começo não tive resposta, mas depois algo tocou no meu coração para fazer a manifestação e, logo, minha filha estava nos meus braços. Hoje em dia, estamos bem, a Kayla está estudando normal, treinando futebol na escolinha. Acho que a mãe nunca deve desistir de seus filhos, nas noites de buscas eu vi muitas jovens ‘perdidas’ na vida”, relata.

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