Em 48 horas, povo Baniwa perde segunda liderança indígena por Covid-19 no interior do AM

Isaías Fontes (à esquerda) e Valdomiro Arara (à direita). Lideranças deixam legado de intensa dedicação à defesa dos direitos indígenas (Reprodução/FOIRN)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O povo Baniwa perdeu pela segunda vez uma importante liderança indígena por complicações da Covid-19. Nesta quarta-feira, 3, Valdomiro Arara endossa a triste lista de óbitos, que inclui a primeira morte de Isaías Pereira Fontes, em 1º de fevereiro deste ano. Ambos pertencem à Terra Indígena localizada no Alto Rio Negro, na região Norte do Amazonas.

Junto com os indígenas irmãos da etnia Koripako, os Baniwa ocupam toda a bacia do rio Içana, afluente do Alto Rio Negro, representando 86 comunidades. À REVISTA CENARIUM, o líder Baniwa, Bonifácio José, afirmou que as perdas já chegam a 16 mortes decorrentes do novo coronavírus.

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“Nós somos um povo muito unido e para nós é uma perda significativa, Valdomiro era sábio, sempre esteve presente. Até este período ele era pessoa ativa, não estava muito velho. Vivia no meio do grupo e com essa Covid-19, ele acaba indo”, lamentou Boni.

Veja também: Importante liderança indígena do AM, Isaías Fontes Baniwa morre por complicações da Covid-19

À esquerda, Boni Baniwa ao lado da líder indígena Alberto Awadzoro em assembleia, na comunidade Santa Rosa do Rio Içana em 2020. (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Segundo Boni, ao longo dos anos de 1970, Valdomiro foi um dos principais líderes que ajudou a fundar e mobilizar a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), além de articular os direitos dos povos do Rio Negro. “Ele sempre esteve presente desde lá, até a direção da Foirn, até em Brasília e no próprio Rio Negro”, contou o líder.

Hospital

Boni detalhou à CENARIUM que acredita que a “ida para o hospital piora a doença”. Ele afirma que o uso de ar-condicionado complica a respiração dos pacientes. “Todos que foram [para as unidades hospitalares] não conseguiram voltar. Dos Baniwa, apenas um voltou, mas porque a família o colocou no hospital particular”, revelou.

“Ele [Valdomiro] tinha superado a primeira onda e nesta segunda, acho que teve esse descuido, dele ir ao hospital. Pois a nossa recomendação é de não ir para o hospital, mas de tratar nosso povo com os remédios tradicionais”, declarou Boni Baniwa.

Pioneirismo

Em nota de pesar, a Foirn lamentou a morte de Valdomiro e salientou que ele está entre os fundadores da entidade, sendo um dos pioneiros na luta pela demarcação das terras indígenas do Rio Negro.

“Era um homem de grande sabedoria e, mesmo com pouco estudo formal, sempre soube expor seu conhecimento com falas sempre potentes. Seus amigos relembram o seu entusiasmo a cada conquista dos povos indígenas. Valdomiro Arara deixa um legado de intensa dedicação à defesa dos direitos indígenas. Sua história ficará para sempre na memória dos povos do Rio Negro”, diz a nota.

Tratamento com plantas

No Amazonas, o uso de remédios tradicionais, bem como o uso de plantas medicinais para o tratamento de doenças é como um costume para os povos da floresta. Por conta do novo coronavírus, a utilização da matéria-prima tem sido recorrente, isso porque as plantas podem ser utilizadas em chás, banhos, entre outras coisas.

Veja também: Comunidade ribeirinha do Amazonas recorre a banhos e benzimento contra a Covid-19 e outras doenças

“Temos vários tipo tratamentos, pois uma planta não serve para todos. O uso de uma planta que serve para um, não serve para tratar outro. As que mais usamos são a Saracura e Carapanaúba”, finaliza o líder indígena Boni Baniwa.

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