Em achado raro, esqueleto com 13 pregos indica crucificação na Inglaterra

Especula-se que o achado é o mais preservado do mundo, quando o assunto é a torturante pena de morte utilizada na Roma Antiga.(Divulgação/Albion Archaeology)

Com informações da Folhapress

SÃO PAULO (SP) – Arqueólogos da Inglaterra encontraram, em 2017, na pequena vila de Fenstanton, um cemitério romano cheio de restos mortais de pessoas que podem ter vivido entre o primeiro e o quarto século depois de Cristo. Um dos esqueletos, contudo, carregava um detalhe que passou quase despercebido: um prego cravado no calcanhar, o que o torna o único exemplo de crucificação romana descoberto em território britânico, conforme concluído pelos pesquisadores.

Ele foi encontrado rodeado por 12 pregos, mas só uma lavagem de ossos, mais tarde, revelou o 13º. Especula-se que o achado é o mais preservado do mundo quando o assunto é a torturante pena de morte utilizada na Roma Antiga. Segundo análise feita pelos arqueólogos, o esqueleto é masculino e teria entre 25 e 35 anos quando morreu, por volta dos anos 130 a 360 depois de Cristo.

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Prego cravado no calcanhar de esqueleto é forte indício de crucificação romana. (Divulgação/Albion Archaeology)

“A combinação de boa preservação e o prego sendo deixado no osso me permitiu examinar este exemplo quase único quando tantos milhares foram perdidos”, disse a Dr. Corinne Duhig, osteoarqueologista da Universidade de Cambridge, em entrevista ao site da instituição. “Isso mostra que mesmo os habitantes deste pequeno assentamento no limite do Império não puderam evitar o castigo mais bárbaro de Roma”.

No mesmo local onde acharam o homem, chamado de Esqueleto 4926 pelos pesquisadores, foram encontrados restos mortais de 40 adultos e cinco crianças. Muitos deles mostravam sinais de saúde precária, inclusive doenças dentárias, malária e lesões físicas, como fraturas.

O cemitério está localizado no terreno onde funcionava uma fábrica de engarrafamento de leite. O Esqueleto 4926 estava enterrado ao lado de 12 pregos de ferro e de uma estrutura de madeira, que pode ser um esquife, espécie de caixão utilizado na época, no qual seu corpo pode ter sido colocado após ser removido da cruz.

Os restos mortais também mostraram sinais de traumas antes da morte, tais como infecção ou inflamações nas pernas. Isso indica que ele pode ter sido amarrado ou acorrentado. O prego no calcanhar, por sua vez, só foi descoberto no laboratório, quando os ossos foram lavados. Também encontraram um buraco menor perto do principal, sugerindo uma tentativa inicial falha de pregá-lo na cruz.

Como se sabe, a crucificação era uma punição comum na Roma Antiga, porém as evidências são raras, uma vez que nem sempre se usava pregos para a prática. Normalmente, os torturadores amarravam a vítima a uma barra transversal. Além disso, era padrão não dar enterros formais aos mortos submetidos a essa pena. Já os pregos, quando utilizados, podiam ser reaproveitados como amuletos ou descartados.

Os resultados completos da escavação, liderada por David Ingham, da Albion Archeology, devem ser publicados formalmente apenas no próximo ano. Os primeiros detalhes foram divulgados no site oficial da Universidade de Cambridge e na revista British Archeology.

O Conselho do Condado de Cambridgeshire, do qual a vila Fenstanton faz parte, pretende organizar uma exposição com os restos mortais. “As práticas de sepultamento são muitas e variadas no período romano. Evidências de mutilação antes ou depois da morte são vistas, ocasionalmente, mas nunca uma crucificação,” disse Kasia Gdaniec, da Equipe de Meio Ambiente Histórico do Conselho.

Além dos restos humanos, os arqueólogos descobriram uma série de artefatos romanos, entre eles broches esmaltados, moedas, cerâmica decorada e até ossos de animais que indicam métodos de açougue.

Tudo isso, junto a um grande edifício e um pátio, aponta para a antiga existência de um assentamento romano com sinais de comércio e riqueza. Uma das hipóteses é de que o local teria sido utilizado como um ponto de parada para viajantes ao longo da estrada.

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