Em ano marcado por queimadas, terras indígenas foram devastadas pelo fogo


28 de outubro de 2020
Em ano marcado por queimadas, terras indígenas foram devastadas pelo fogo
Taxas de desmatamento em Terras Indígenas tiveram alta nos últimos anos (Ahmad Jarrah)

Da Revista Cenarium*

MANAUS – As terras indígenas foram diretamente afetadas por essa intensa temporada de fogo. Em 2019, os focos de incêndio nesses territórios aumentaram 87% em relação ao registrado no ano anterior.

Em 2019, foram 16.680 queimadas identificadas, pelo Inpe, em terras indígenas de todo o país. Em 2018, o instituto havia registrado 8.942 focos nestas áreas. Os dados, obtidos junto ao Inpe, são do satélite de referência utilizado para o registro e o monitoramento das queimadas no Brasil, o Aqua M-T, de propriedade da Nasa, a agência aeroespacial estadunidense.

“Os dados indicam que, no total, 345 terras indígenas foram afetadas pelas queimadas no Brasil em 2019”.

Segundo o Inpe, este satélite passa diariamente pelo território brasileiro, durante a parte da tarde, e identifica focos de calor ativos, que são indicativos da ocorrência de queimadas. Com resolução espacial de 1 km x 1 km, o sensor utilizado por este instrumento consegue captar frentes de fogo a partir de algumas dezenas de metros quadrados.

Os dados indicam que, no total, 345 terras indígenas foram afetadas pelas queimadas no Brasil em 2019. Assim como nos anos anteriores, a grande maioria delas, 272, são terras indígenas já regularizadas, que deveriam estar plenamente protegidas pela fiscalização do Estado. No ano de 2019, o Inpe registrou, ao todo, 197.632 focos de incêndio no país – 49% a mais do que em 2018, quando haviam sido registrados 132.872 focos.

Em relação às terras indígenas, a quantidade de focos de incêndio identificados em 2019 foi 19% maior do que a média dos dez anos anteriores e a quarta maior desde 2009. Números maiores foram registrados apenas em 2010 (26.331 focos), 2017 (18.668 focos) e 2012 (17.795 focos).

O pico de queimadas ocorrido em agosto também se refletiu nas terras indígenas, que tiveram 4.753 focos de incêndio naquele mês – 134% a mais do que o registrado no mesmo mês de 2018.

Biomas

O bioma mais afetado pelas queimadas no Brasil durante o primeiro ano do governo Bolsonaro foi a Amazônia, com 89.176 focos de incêndio ao todo – 30% a mais do que havia sido registrado no ano anterior.

Após a impressionante alta no mês de agosto, os focos de incêndio na Amazônia diminuíram a partir de setembro e outubro. A redução pode indicar que a pressão da sociedade civil e da comunidade internacional provavelmente evitaram um cenário ainda mais catastrófico – já que, como aponta nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), a estação seca na região se estende de maio a outubro e o pico das queimadas historicamente ocorre em setembro.

“O que alimentou o fogo naquele ano foi a quantidade expressiva de material combustível oriundo da derrubada da floresta, somada à necessidade de limpeza dos terrenos”

Com um período de seca menor do que nos dois anos anteriores, aponta a nota, o aumento das queimadas na Amazônia, cujas florestas são naturalmente úmidas, esteve diretamente ligado ao desmatamento.

“O que alimentou o fogo naquele ano foi a quantidade expressiva de material combustível oriundo da derrubada da floresta, somada à necessidade de limpeza dos terrenos”, destaca o Ipam.

Em 2019, a Amazônia concentrou 38% das queimadas em terras indígenas, com 6.293 focos de incêndio. A quantidade foi 67% maior do que o registrado em 2018 e 17% maior do que a média dos dez anos anteriores.

Apesar disso, o bioma que registrou o maior número de queimadas em terras indígenas no ano de 2019, como ocorre historicamente, foi o Cerrado. Os 9.543 focos de incêndio em 2019 foram quase o dobro do registrado em 2018 e, assim como na Amazônia, estiveram 17% acima da média registrada a partir de 2009.

O bioma que teve o maior aumento de focos de incêndio em terras indígenas em 2019 foi o Pantanal. Com 499 registros, as terras indígenas neste bioma queimaram quase sete vezes mais do que no ano anterior. O número também é 3,7 vezes maior do que a média registrada entre 2009 e 2018.

O Mato Grosso do Sul, estado que abrange a maior parte do Pantanal, registrou em 2019 um aumento de 452% nos focos de incêndio em terras indígenas. A Terra Indígena (TI) mais afetada no estado – e a segunda mais atingida por queimadas no país – foi a Kadiwéu, que fica localizada na transição entre o Pantanal e Cerrado e registrou 1.268 focos de incêndio. Há alguns anos, os Kadiwéu vêm denunciando a apropriação privada do território por fazendeiros e cobrando do Estado a desintrusão da área, que é regularizada.

(*) Com informações da CIMI

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