Em áudio vazado, Bi Garcia age com misoginia contra Brena Dianná: ‘Querem essa moça prefeita’


26 de julho de 2024
Bi Garcia e Brena Dianná: prefeito de Parintins e as falas misóginas contra sua opositora política (Composição: Weslley Santos/Cenarium)
Bi Garcia e Brena Dianná: prefeito de Parintins e as falas misóginas contra sua opositora política (Composição: Weslley Santos/Cenarium)

Paula Litaiff – Da Cenarium

MANAUS (AM) – Em um áudio ao qual a CENARIUM teve acesso, o prefeito de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus), Frank Bi Garcia (PSD), tenta desqualificar o potencial eleitoral da pré-candidata à prefeitura da cidade, a vereadora Brena Dianná (União Brasil), criando teorias sem fundamentação de que uma possível vitória de Brena nas urnas poderia “gerar uma crise” no município.

Sem poder buscar a reeleição, Bi Garcia apoia o pré-candidato do PSD, vereador Mateus Assayag, à Prefeitura de Parintins, que tem o apoio do Partido dos Trabalhadores (PT), anunciado pela presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann, no dia 17 de julho. Brena Dianná conta com a aliança junto ao governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil).

A gravação envolvendo falas misóginas de Bi Garcia contra Brena Dianná ocorreu no dia 17 de julho, durante um encontro com dirigentes de associações culturais de Parintins. Na ocasião, Bi Garcia também recusou o investimento do governador Wilson Lima para o Festival da Comunidade Mocambo do Arari, tradicional evento do município, que acontece entre os dias 9 e 11 de agosto este ano. 

“Esses caras, eles estão querendo, agora, fazer essa moça prefeita […] Vai gerar uma crise muito grande na cidade se tiver esse problema aqui, de que se essa moça ganhar. Apesar do que as pesquisas dela não tão batendo, porque eles podem contratar essas pesquisas ‘fanta’ deles”, disse Bi Garcia. A expressão “fanta”, no popular, pode ser interpretada como algo “sem credibilidade”.

Em outro momento do áudio, Bi Garcia afirma, ainda, que “trabalha” com pesquisas de intenções de voto no período eleitoral e ressalta, também, que busca contratar institutos de outros Estados para realizar a sondagem de opinião em Parintins.

“Eu sou um cara que trabalho com muitas pesquisas, não é pouca, não. E não trabalho com pesquisas dentro do Estado, tudo é de fora. Então, para mim, não tem problema tanto como todos tiveram”, diz Bi Garcia, que continua: “Se ele está ajudando o pessoal, não tem problema. Agora, querer mandar no festival?”, afirma, se referindo ao apoio do governador Wilson Lima ao Festival do Mocambo.

Misoginia não tem partido

A tentativa de deslegitimação da atuação feminina na política institucional não tem partido nem corrente ideológica, apontou a professora da Universidade de São Paulo (USP) Daniela Oswald Ramos, que ressalta a manifestação desse tipo de opressão masculina em diversas formas, no Jornal da USP.

“Seja em forma de desqualificação da potencialidade administrativa da mulher seja em forma de gerar um meio de desacreditá-la em sua honra. As narrativas podem ter formas diferentes, mas o objetivo é o mesmo, reduzir a mulher a um ser incapaz de realizar as mesmas tarefas de um homem”, observa.  

Para a professora Giovana Xavier, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dar visibilidade a política de gênero contribui na prevenção e combate para que outras mulheres não passem pelos mesmos processos em sistemas de naturalização da violência de gênero.

“A violência é tão forte e especialmente na política, que muitas vezes ela está mascarada, disfarçada, invisibilidade, porque a cultura da opressão, do patriarcado e do machismo é muito forte e muitas vezes naturalizada neste meio”, pontua.

Os últimos dois processos eleitorais no Brasil foram marcados por um ínfimo aumento de parlamentares mulheres. Nas eleições de 2018, a bancada feminina passou de 9% para 15% do montante de parlamentares. Nas eleições de 2022, houve um crescimento de 3,2%, passando para 18,2% a representatividade feminina no Congresso. O Amazonas não elegeu nenhuma mulher para sua bancada.

Pesquisa em Parintins

A vereadora e advogada Brena Dianná (UB) é favorita dos eleitores de Parintins (AM) para assumir a prefeitura do município em 2025. É o que aponta a pesquisa eleitoral, divulgada em junho, e registrada na Justiça Eleitoral sob o número AM-01769/2024.

Dianná aparece com 46,52% das intenções de voto, no cenário “estimulado”, quando os entrevistadores apresentam uma lista com o nome dos candidatos, seguida de Mateus Assayag (PSD), com 27,88%, e Michele Valadares (Novo), com 13,06%. A pesquisa, com amostra de 582 entrevistados, teve margem de erro de 4,05% e nível de confiança de 95%.

Misoginia como crime

Está em tramitação no Congresso, o Projeto de Lei 872/23 que criminaliza a misoginia, definida como a manifestação que inferiorize, degrade ou desumanize a mulher, baseada em preconceito contra pessoas do sexo feminino ou argumentos de supremacia masculina.

Apresentado pela deputada federal Dandara Tonantzin (PT-MG), o texto em análise na Câmara dos Deputados insere a tipificação na Lei 7.716/89, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Pela proposta, praticar, induzir ou incitar a misoginia terá pena prevista de reclusão de um a três anos e multa.

Se o crime for cometido por intermédio dos meios de comunicação social, de publicação em redes sociais, da internet ou de publicação de qualquer natureza, ou praticado com intuito de lucro ou de proveito econômico, a pena será de reclusão de dois a cinco anos e multa.

Leia mais:

Vaza áudio de Bi Garcia recusando investimento do Governo do Amazonas em Parintins

Editado por Jefferson Ramos

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