Em áudios divulgados, garimpeiros citam ataque de ‘facção’ contra yanomami e falam em ao menos oito índios mortos
10 de maio de 2021
Em um dos áudios, um garimpeiro chega a dizer que há muitas pessoas baleadas no local e que "oito indígenas" estariam mortos e mais de "dez baleados" (Daniel Marenco/Agência O Globo)
Com informações do O Globo
RIO DE JANEIRO – Áudios de conversas entre garimpeiros que atuam na Terra Indígena Yanomami citam um ataque organizado de ”facção” contra os indígenas na comunidade de Palimiú, em Roraima, nesta segunda-feira. As gravações obtidas pelo GLOBO falam em duas canoas com “mais de 20 homens armados de fuzil e metralhadora” para enfrentar os “americanos”, termo usado pelo garimpo para se referir aos índios. Em um dos áudios, um garimpeiro chega a dizer que há muitas pessoas baleadas no local e que “oito indígenas” estariam mortos e mais de “dez baleados”.
De acordo com a Hutukara Associação Yanomami, um ataque armado de garimpeiros contra indígenas deixou ao menos cinco pessoas feridas na comunidade de Palimiú. A entidade não confirmou se há vítimas.
O confronto se deu quando, por volta das 11h30 desta segunda-feira, sete embarcações de garimpeiros atracaram na comunidade e deram início ao ataque contra os índios. Quatro garimpeiros e um indígena, de raspão, foram baleados. O GLOBO confirmou o ataque com o vice-presidente da Hutukara, Dario Kopenawa Yanomami.
O GLOBO apurou que foi solicitada a retirada da equipe de saúde da Terra Indígena “para resguardar a integridade física dos servidores”.
“Dada a gravidade dos fatos e o perigo iminente de novos conflitos, não será possível que a Funai diligencie até a comunidade para colher maiores informações sem que haja escolta das forças de segurança pública”, diz comunicado assinado pela coordenadora da Frente de Proteção Etnoambietal Yanomami da Funai, Elayne Rodrigues Maciel.
Procurada, a Funai ainda não se manifestou. Em oficio enviado ao Exército, à Polícia Federal, à Funai e ao Ministério Público de Roraima, a entidade pede aos órgãos que atuem “com urgência para impedir a continuidade da espiral de violência no local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiu”.
A Hutukara já havia enviado um ofício no último dia 30 de abril para os órgãos federais sobre a ocorrência de tiroteios entre indígenas e garimpeiros no Palimiú, na subida do rio em direção à base de Korekorema, no rio Uraricoera. Cinco garimpeiros foram expulsos pelos índios após o tiroteio. Mas, conforme o GLOBO apurou, a entidade não obteve retorno.
No final de março, O GLOBO mostrou que o garimpo ignorou a pandemia e avançou 30% na Terra Indígena Yanomami em 2020, com 500 hectares devastados de janeiro a dezembro. No total, o garimpo ilegal já destruiu o equivalente a 2,4 mil campos de futebol em todo o território. Pouco ou quase nada se fez para conter os invasores, que já beiram os 20 mil na região. Os dados constam do relatório “Cicatrizes na Floresta: a evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami”.
A TI Yanomami é um das sete terras indígenas com a presença de povos isolados à espera de um plano do governo para a retirada de invasores. O Supremo Tribunal Federal (STF) já deu prazo para que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal apresentem um plano de desintrusão, o que, segundo o ministro Luis Roberto Barroso, já foi apresentado. Completam a lista as terras Karipuna, Uru-EuWau-Wau, Kayapó, Araribóia, Munduruku e Trincheira Bacajá.
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