Nos EUA, associação diz que Brasil ‘esconde a verdade’ sobre drama vivido por Yanomamis

Yanomamis têm sido alvos de ataque de garimpeiros ilegais na busca incessante por ouro. (Christian Braga/Greenpeace)

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS – Em uma carta enviada ao deputado norte-americano Raul Grijalva, do partido Democrata, o presidente da Hutukara Associação Yanomami, Davi Kopenawa Yanomami, afirmou nessa sexta-feira, 23, que a embaixada do Brasil nos Estados Unidos (EUA) esconde a verdade sobre o drama vivido pelo povo Yanomami e Ye’kwana, que tem sido alvo de ataque de garimpeiros ilegais na busca incessante por ouro.

A carta responde a um documento assinado pelo embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster Jr., reafirmando o compromisso do País com a proteção dos indígenas e desmentindo uma reportagem da BBC News, que denuncia a atuação do garimpo contra os povos indígenas na Amazônia, na região de Palimiú, e a falta de atuação por parte do Governo Bolsonaro. A matéria foi compartilhada na conta do Twitter do deputado dos EUA, que disse ser solidário ao movimento indígena brasileiro.

PUBLICIDADE

“Sou solidário ao movimento indígena brasileiro, pois as máfias do ouro estão invadindo terras indígenas na Amazônia. Esses guardiões da floresta são a última linha de defesa da floresta amazônica. #LevantePelaTerra # MarcoTemporalNão”, publicou Grijalva, na rede social.

Para Davi Kopenawa Yanomami, a comunicação oficial da embaixada faz entender falsamente que a atuação do governo brasileiro tem sido exemplar em coibir a atividade de extração de ouro ilegal e assegurar a segurança dos povos indígenas nas Terras Indígenas do País, em particular, na Terra Indígena Yanomami. “As afirmações ali descritas, no entanto, escondem a verdade dramática vivida pelo povo Yanomami”, afirma o presidente da associação, na carta.

Expansão

No documento enviado ao congressista, o Yanomami destaca que, desde 2018, é observado um aumento significativo da atividade garimpeira no interior da Terra Indígena Yanomami o que, para ele, coincide com o desmonte de órgãos públicos responsáveis pela proteção aos direitos indígenas e ao meio ambiente, como a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).

“A atividade garimpeira ilegal na TIY está se expandindo ano a ano e ameaçando a integridade da Terra Indígena Yanomami. Dados obtidos a partir de análises de imagens de satélite de alta resolução indicam que o total da área florestal degradada pela atividade garimpeira ilegal teve um acréscimo de 21% entre dezembro de 2020 e junho de 2021, atingindo um total de 2.702 hectares. O incremento de 463 hectares observado nos primeiros meses de 2021 já soma quase o total de 500 hectares acumulado em todo o ano de 2020. A atividade garimpeira ilegal na TIY ainda segue, portanto, em franca expansão”, reafirmou Davi Yanomami.

O líder indígena escreve, também, que as operações descritas no documento assinado pelo embaixador Nestor Forster se resumem a “incursões pontuais” e que, até o momento, não compreenderam todas as regiões e comunidades afetadas. Segundo ele, uma vez encerradas as ações, o garimpo volta a funcionar normalmente.

Ao final, Davi Kopenawa salienta que, ao contrário do que afirma oficialmente o governo brasileiro, não é exagerado dizer que o povo Yanomami e Ye’kwana do Brasil, ao lado de demais etnias originárias no País, estão atualmente vivendo sob graves violações de direitos humanos.

“Sem que o governo atue em conformidade com seus deveres constitucionais e compromissos assumidos internacionalmente para proteger, respeitar, e realizá-los. A reiterada retórica anti-indígena do presidente Jair Bolsonaro revela suas intenções”, concluiu o Yanomami, em carta.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.