Em homenagem aos 351 anos de Manaus, conheça as particularidades do povo manauara

Manaus é a cidade mais influente da Amazônia Ocidental e a sétima mais populosa do Brasil (Reprodução/Internet)

Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium

MANAUS — A capital do Amazonas, banhada pelo rio Negro com um povo gentil e hospitaleiro, tem a natureza a seu favor e a maior floresta tropical do mundo aos seus pés, quer dizer ao seu dispor. Neste sábado, 24, Manaus está de ‘cueiro’ — como se diz por essas bandas para quem está de aniversário —, e comemora 351 anos de existência. A cidade também é a sétima mais populosa e detém o oitavo Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil graças à força e ao suor de seu povo.

Para homenagear essa terra linda e abençoada, conhecida desde o século XX como a ‘Paris dos Trópicos’, devido a sua intensa modernização durante o ciclo da borracha, a equipe da REVISTA CENARIUM percorreu diversas áreas, onde a cidade nasceu e foi se desenvolvendo para saber as particularidades da cidade mais influente da Amazônia Ocidental.

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Ao longo desta reportagem você vai saber o que diz e pensa o povo manauara sobre a cidade.

O impacto que a economia exerce na cidade vai muito além do Polo Industrial de Manaus (PIM). De acordo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o PIB da cidade é dividido entre indústria, que detém 69,9%, seguido da Prestação de Serviços, com 26,5%, e agropecuária com seus 3,6%.

Converse com qualquer manauara e logo ele vai querer te apresentar o Teatro Amazonas, a Ponta Negra, o Largo São Sebastião, o Musa, a variedade de peixes e pratos regionais e, por aí vai. Parafraseando o violonista concertista, pianista, compositor e poeta, natural de Maués, Júlio Hatchwell – ‘Quem vem passear em Manaus quer ficar, quem vive em Manaus ama esse lugar’.

O clima, modéstia à parte, é outra característica peculiar da cidade. Há quem diga que em pleno verão amazônico – período que vai de junho a novembro, 30 graus na sombra, é frio. O calor é tanto que Manaus é apresentada pelos moradores como a Capital do Mormaço.    

Seu povo

A partir desta sessão os manauaras anônimos e conhecidos prestam sua homenagem à cidade mais influente da Amazônia Ocidental, Manaus.

São 13 casas unidas,
são 13 casas nascidas
no mesmo lance de rua,
com as mesmas paredes-meias,
os mesmos oitões de taipa,
a mesma fachada nua
e as mesmas janelas tristes
de 13 casas na rua

Diz o poeta Luiz Bacellar sobre a cidade

Manaus de meias soquetes, do poeta Aldisio Filgueiras

Jamais entendi porque em todo aniversário de sua fundação, Manaus é referida como “a minha doce menina morena” ou a “virgem verde”. Talvez, se deva a algum surto periódico de pedofilia. Mulheres adultas não têm nenhum encanto? “Uma doce menina” com mais de 300 anos, só mesmo uma balzaquiana de meias soquetes, cantando baladas pop.

Manaus tem ao menos duas idades, digamos, notáveis: o período áureo da borracha e o capítulo sem definição da Zona Franca. O nosso distrito industrial tem uma presença tão discreta na cidade parece um seringal sem luz elétrica do Juruá ou do Purus. E Manaus, nessa similitude, surge na margem esquerda do rio Negro, como a Vila de Remate dos Males, soberba e pávula, que o rio Solimões engoliu inteirinha.

É preciso repensar essa efeméride. Muita coisa mudou e está mudando. Quem ouve disparos de fogos de artifício, sabe que não é mais o aniversário de Gilberto Mestrinho, mas a comemoração de mais uma vitória das facções criminosas sobre os o Estado de Direito. Nossa indiferença é inominável.

João Paulo de Lima Barreto, antropólogo indígena da etnia Tucano, inaugura o restaurante Biatu, neste sábado, 24. (Foto: Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

O antropólogo indígena João Paulo de Lima Barreto, de 48 anos, da etnia Tucano, do Alto Solimões, decidiu ousar e inaugura neste sábado, 24, o restaurante Biatu, que visa resgatar a ancestralidade do Centro Histórico da cidade.

Segundo Barreto, quando Manaus nasceu — na rua Bernardo Ramos —, a área era dominada por diversos povos indígenas e a culinária típica da época era a quinhapira, um prato com pimentas verdes cozido com peixe biatu.

“A ideia é resgatar a cultura existente em Manaus nesta área do Centro Histórico, onde tudo começou. As pessoas perderam o interesse pelo centro da cidade. Por isso, estou inaugurando o Biatu, como mais uma opção gastronômica da cidade que tanto amo e de tanta miscigenação”, diz o antropólogo.

Diane Alves de Souza é uma manauara que busca melhorias para a cidade, principalmente, na área da Educação (Luciana Bezerra/ Revista Cenarium)

A amazonense e serviço gerais, Diane Alves de Souza, de 24 anos, mãe de três meninas, de 4 anos, 6 anos e um ano e nove meses, se diz uma típica manauara e adora tomar açaí, comer peixe com farinha do Uarini e passear na Ponta Negra com a família. Diane aponta a culinária entre as peculiaridades da cidade.

No entanto, neste 351 anos de vida de Manaus, Diane deseja nesta eleição que os políticos pensem em propostas de Educação para pessoas assim como ela, que saem de casa cedo trabalhar e depois vão estudar, pensando com uma vida melhor.

“Aproveito a minha hora de intervalo para estudar. Eu saio de casa todos os dias às 5h30 e só retorno às 23h. É um esforço, sem dúvida, mas quero ter uma vida melhor. Estou finalizando meu curso supletivo e, posteriormente, vou fazer faculdade de Gastronomia. Como mensagem de aniversário para cidade, desejo propostas mais justas para todos, principalmente sobre Educação”, enfatiza Diane.

Adriana Arcos, escolhe o jeitinho acolhedor do povo manauara como uma das peculiaridades da cidade (Luciana Bezerra/ Revista Cenarium)

A contadora Adriana Arcos, recebeu de herança da família duas casas na região do Centro Histórico da cidade, próximo à praça Dom Pedro II, em frente à sede da primeira Prefeitura de Manaus. Segundo ela, morou no local até seus filhos nascerem, no entanto, por falta de segurança, mudou para outro bairro da cidade.

“Hoje a área esta abandonada, sem sinalização e segurança. Cresci brincando nessa praça do Passo e vendo como a cidade foi crescendo. A peculiaridade do povo está no jeitinho manauara de ser. Acredito que somos o povo mais caloroso do Brasil”, diz Adriana, pedindo mais atenção do poder público para o Centro Histórico da capital do Amazonas.

Os garis Paulo Ribeiro e Jander Oliveira, que trabalham na área do Adrianópolis, Zona Centro-Sul de Manaus, definem o linguajar e a forma de dormir em redes do manauara a maneira de maior peculiaridade do povo daqui.

“Quem não gosta de dormir em rede, mana”, diz Paulo que trabalha limpando as ruas do bairro há 4,5 anos. “Eu gosto mesmo é de ficar de bubuia, comer quando estou brocado, égua moça, a gente precisa trabalhar”, brinca Jander, com o jeito de falar do povo manauara.

A chef paulista Debora Shornik é uma amante da culinária manauara

A paulista de alma amazonense, a chef Debora Shornik, 43 anos, mudou para Manaus em 2015 para comandar a versão manauara do restaurante Caxiri, localizado ao lado de um dos mais imponentes pontos turísticos da cidade, o Teatro Amazonas.

Segundo a chef paulista, quando desembarcou no Amazonas, em 2013 foi direto para o município de Novo Airão comandar o restaurante Camu Camu, dentro do Mirante do Gavião, luxuoso hotel de selva da localidade. Mas foi com as cozinheiras ribeirinhas que Debora aprendeu as receitas simples do povo manauara.

“O que mais me aproxima dessa cidade é a forma simples como o seu povo lida com a gastronomia. Aprendo a cada dia com eles. São receitas simples, porém, milenares que mistura temperos de várias etnias e que resguarda a culinária mais antiga e mais original do Brasil”, conclui a chef paulista.

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