Em lançamento de pré-candidatura, Bolsonaro insiste em discurso anticorrupção em meio a suspeitas no MEC

O presidente Jair Bolsonaro participa de evento organizado pelo PL Foto: Cristiano Mariz/Agência o Globo

Com informações Infoglobo

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro lançou neste domingo, 27, sua pré-candidatura à reeleição reciclando estratégia da campanha de 2018 ao insistir no discurso do antipetismo e contra a corrupção, no momento em que enfrenta suspeitas sobre pagamento de propina no Ministério da Educação. No evento, também contestou a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas e afirmou que a disputa não será da esquerda contra a direita, mas “do bem contra o mal”. Provável vice na chapa, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, era esperado no ato, mas não compareceu.

“O nosso inimigo não é externo, é interno. Não é uma luta da esquerda contra a direita, é uma luta do bem contra o mal. E nós vamos vencer essa luta. Porque estarei sempre na frente de vocês”.

PUBLICIDADE

O evento em Brasília, realizado em um centro de convenções, ocorreu no mesmo dia em que o PL, partido do presidente, conseguiu barrar manifestações políticas de artistas no Lollapalooza. Depois de divulgar o evento como lançamento da pré-candidatura, o PL passou a dizer que seria um evento de filiação, para evitar infringir a lei eleitoral. Entretanto, o próprio Bolsonaro disse no sábado que seria a divulgação de sua pré-candidatura.

Na cerimônia, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também não escondeu o tom eleitoral do evento ao tratar Bolsonaro como “futuro presidente pelo segundo mandato”. Já o presidente disse que quer deixar o governo “bem lá na frente”.

Bolsonaro não mencionou a suspeita de cobrança de propina por pastores que atuam como lobistas no MEC e disse que seu governo não tem casos de corrupção. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, era um dos convidados do evento, mas também não compareceu.

“Acabou a farra com dinheiro público. Buscam qualquer coisa, qualquer gota d’água para transformar em um tsunami. Todos sabem como nos portamos. Três anos e três meses em paz nessas questões. Se aparecer, nós colaboraremos para que os fatos sejam elucidados”.

Ao mesmo tempo, no entanto, afirmou que todos podem errar e merecem uma segunda chance.

“Todos nós somos humanos. Podemos errar. Quem nunca errou, que está nessa plataforma no momento? E devemos ter e podemos ter uma segunda chance para voltarmos a ser úteis para a sociedade”.

Ao lado de Bolsonaro, estavam Valdemar Costa Netto e o senador Fernando Collor (Pros-AL). Valdemar já foi condenado em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão e chegou a ficar preso. Collor sofreu impeachment em 1992, quando era presidente da República, após um escândalo de corrupção. Atualmente é réu em uma ação da Lava-Jato no STF.

Próximo de Bolsonaro e de Valdemar estava o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. Em 2018, Heleno ironizou o Centrão, bloco de partidos do qual o PL faz parte, ao cantar “se grita pega Centrão, não fica um, meu irmão” durante o lançamento da candidatura de Bolsonaro.

Ataques ao PT

Bolsonaro criticou o governo da Venezuela e disse que o Brasil estava “à beira do abismo” antes do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

“Os mais jovens podem não conhecer. Seus pais e avós tem a obrigação de mostrar para eles para onde o País estava indo, bem como, como vivem os jovens em outros países, como, por exemplo, a Venezuela. Há pouco, estávamos à beira do abismo”.

O presidente questionou como Dilma pode ter tido tantos votos “dentro do TSE”. Ele tem um histórico de ataques ao sistema eleitoral. 

“As coisas foram aparecendo, o que me moveu a buscar aquele objetivo (eleição) foi reeleição de uma pessoa que não tinha qualquer carisma, que a gente não consegue entender como teve dentro do TSE tanto voto. Quis o destino que viesse um impeachment”.

Bolsonaro também volto a afirmar que espera entregar o governo por meio de um sistema “democrático e transparente”.

“O que nós queremos, juntamente com muitos que estão aqui, é entregar o comando desse pais lá na frente, bem lá na frente, por um critério democrático e transparente”.

O presidente também ressaltou o seu voto a favor do impeachment de Dilma. Na ocasião, em seu discurso ao votar, Bolsonaro homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e disse que ele foi “o pavor” da ex-presidente. Ustra foi condenado por tortura na ditadura militar. Neste domingo, 27, o atual chefe do Planalto relembrou a menção ao coronel, a quem chamou de “amigo”.

“O meu voto, como praticamente todos os parlamentares falaram, foi o que mais marcou. Não podia deixar um velho amigo, que lutou por democracia, que teve reputação quase destruída, deixar de ser citado naquele momento. A história não se pode mudar, a história é uma só”.

Bolsonaro estava acompanhado de ao menos 12 ministros do governo federal, além do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, de parlamentares aliados, da primeira-dama Michelle Bolsonaro e de personalidades como o ex-piloto Nelson Piquet e o jogador de vôlei Mauricio Souza. O evento foi conduzido pelo locutor de rodeios Cuiabano Lima.

Neste domingo, o ministro Raul Araújo, do TSE, atendeu ao pedido feito pelo PL para que sejam proibidas manifestações políticas durante as apresentações do festival Lollapalooza. A legenda acionou a Corte neste sábado, após a cantora Pabllo Vittar levantar, durante o show que fez no evento, uma bandeira com a foto do ex-presidente Lula.

Michelle e ministros discursam

Durante a cerimônia, Valdemar Costa Neto anunciou a filiação ao PL dos ministros João Roma (Cidadania) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e do líder do governo do Congresso, senador Eduardo Gomes (TO). Roma é pré-candidato ao governo da Bahia, enquanto Pontes deve ser candidato a deputado federal por São Paulo.

Havia a expectativa de que Braga Netto comparecesse e também se filiasse, mas isso não ocorreu. Na semana passada, Bolsonaro indicou que ele será o escolhido como companheiro de chapa.

Alguns dos poucos ministros a discursarem foram Roma e Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), que deve se filiar ao Republicanos e será candidato ao governo de São Paulo. Roma enalteceu as ações da Bahia, por onde sairá como candidato ao governo do estado.

“Com o presidente Bolsonaro nós estaremos cada vez mais seguindo firme, todos juntos lá na Bahia, todo esse time, porque a Bahia também ama o presidente Bolsonaro e quer um futuro glorioso para o povo altivo. Estaremos com o PL 22 avançando para que o nosso Brasil seja sempre para nós motivo de orgulho”.

“Em seu discurso, Bolsonaro também chamou a ministra Tereza Cristina (Agricultura) para falar. Tereza foi defendida como possível vice do presidente por nomes do Centrão, mas deve concorrer ao Senado.”

Michelle Bolsonaro também fez um breve discurso. Existe a intenção de aliados do presidente de explorar a imagem da primeira-dama durante a campanha.

Flávio diz que presidente não protege filhos

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também discursou no evento, tendo sido anunciado como o “homem que fez a realidade desse evento”. Flávio teve papel importante na negociação para a entrada de Bolsonaro no PL.

O senador disse que o presidente, que é seu pai, defende o instituto da família, mas não um filho ou um parente. Há um inquérito aberto no STF para apurar uma possível interferência do presidente na Polícia Federal (PF) a fim de proteger sua família. Seus filhos foram alvos de investigação, incluindo Flávio. A apuração que trata do suposto esquema de “rachadinha” envolvendo o senador quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro foi praticamente enterrada por decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

“Quando ele vem defender a família, o instituto da família, não é defender um filho, um parente, um amigo, de nada de errado que fez, porque não fizemos nada de errado. É defender o instituto da família, coloca de verdade Deus em primeiro lugar”,  disse Flávio.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.