Em Manaus, indígenas reivindicam vila sustentável e vacinação contra a Covid-19

O cacique China, presidente da Associação dos Artesãos e Agricultores Indígenas Urbanos e Rurais do Amazonas (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um grupo de indígenas formado por 240 famílias de diversas etnias está vivendo em condições precárias, em Manaus, e reivindica por um espaço para construir uma “vila sustentável” na capital amazonense. Organizadas pela Associação dos Artesãos e Agricultores Indígenas Urbanos e Rurais do Amazonas (Aaaiuram), as famílias acampam há 35 dias na área externa da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), na zona Norte, e também denunciam a falta de vacinação contra a Covid-19.

Além das moradias, o projeto elaborado pela Aaaiuram pede ainda que a área destinada sirva também para a construção de barracas e eventual comercialização de artesanatos, comidas típicas, medicina tradicional e turismo, como trilhas e danças culturais.

Cerca de 240 famílias estão morando em um espaço de 28 m² (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

De acordo com o presidente da Associação, cacique China, já foi solicitado ao Governo do Amazonas uma área para construção da “vila sustentável”. “Estamos aqui há 35 dias e elaboramos um miniprojeto, que é uma vila sustentável indígena. Nós solicitamos essa área para implantarmos o nosso projeto. Nós queremos um espaço para nossa moradia e também para fazer nossas barracas, como comidas típicas”, disse o indígena da etnia Kokama.

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China lembrou ainda que aguarda um retorno das autoridades estaduais e que deseja sair do local apenas para ser realocado em um lugar mais digno. “Não somos invasores, estamos aqui com 240 famílias. Talvez, se nós tivéssemos o sonho de invadir, nós estaríamos invadindo, mas nós não temos esse sonho. Estamos com um movimento indígena diferente. Hoje as nossas armas são o documento, nosso diálogo com o governo e qualquer autoridade que chega aqui”, pontuou ele.

Pandemia afeta renda

Das etnias Tikuna, Kokama e Tukano, os indígenas são originários de Tapauá, Fonte Boa, Tefé, Codajás, Benjamim Constant, São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga, no interior do Estado.

Atualmente, morando aglomerados em um espaço de cerca de 28 m² e vivendo de doações, vieram a Manaus buscando condições mais dignas de sobrevivência após passarem dificuldades devido à pandemia.

Condições precárias são a realidade dos indígenas desde 18 de abril (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

“A pandemia começou em 2020 e a gente não podia chegar à cidade para buscar um recurso, não chegava uma cesta básica, principalmente os filhos que nós temos para estudar não têm internet. E se nós virmos aqui, aparecer e dizer o que está faltando, também é uma política pública que a gente está construindo e levando para os parentes que está lá. A gente não tem para quem vender a nossa produção. Hoje sem o nosso artesanato, nas cidades pequenas, a gente não sobrevive”, disse China.

Vacinação

Junto à reinvindicação da “vila sustentável”, os indígenas também pedem mais orientação quanto ao plano de vacinação e aos direitos garantidos de imunização dos povos originários. Eles questionam principalmente a burocracia para obter a imunização.

À CENARIUM, a conselheira fiscal da Aaaiuram, Lídia Kokama, indicou que os indígenas aldeados do movimento têm dificuldades para serem vacinados. O Distrito Sanitário Especial Indigena (Dsei) teria orientado a Associação a incluir os indígenas em outros grupos prioritários como faixa etária ou comorbidades.

Idosos, adultos e crianças pedem “vila sustentável” em Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

“A nossa maior dificuldade na verdade é por questões de nós não sermos de base [aldeados], então não estamos sendo atendidos nessa questão da vacina. Mas a gente vem também pedir que olhem para nosso lado, nós estamos aglomerados e não estamos recebendo essa vacinação. Estamos de certa forma vulneráveis a doenças”, disse Lídia.

Esclarecimentos

De acordo com o coordenador do Dsei Manaus, Januário Neto, houve uma reunião com os indígenas nessa segunda-feira, 24, onde ficou acordado que o Distrito vai orientá-los no processo de vacinação, junto à Secretaria Municipal de Saúde (Semsa). Por não serem de comunidades da capital amazonense, eles não são cadastrados nas comunidades atendidas pelo Dsei Manaus e esse seria o motivo da dificuldade em imunizá-los.

A reportagem entrou em contato também com o Governo do Amazonas sobre a reivindicação da “vila sustentável”, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

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