Em março, desmatamento na Amazônia bate recorde dos últimos cinco anos, diz Inpe

Desmatamento na Amazônia subiu 12,6% do ano de 2020 para 2021.(Alan Assis/Semas)

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – Dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) apontam que em março deste ano foram registrados 367 km² de áreas desmatadas na Amazônia. O número é o maior desde o começo da série histórica em 2016. As informações foram divulgadas nessa sexta-feira, 9, pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O Deter tem a função de auxiliar órgãos de fiscalização ambiental em ações de combate a crimes. Os dados da plataforma, porém, podem ser usados para observar o avanço do desmatamento no bioma. A destruição da floresta em março teve crescimento de 12,6% em relação a março de 2020, quando foi registrado 326 km² de áreas desmatadas.

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No mesmo ano, o desmatamento atingiu os níveis mais elevados dos últimos 12 anos, mesmo em meio à pandemia da Covid-19. A série histórica levantada pelo Deter vem sendo feita desde 2016 quando o nível do desmatamento em março atingiu 300 km² de mata derrubada. Em 2017, foi o menor nível, apenas 74 km² de área desmatada.

Série histórica do desmatamento desenvolvido por meio de dados fornecidos pelo Deter. (Guilhereme Oliveia/Revista Cenarium)

Críticas

Em nota, o Greenpeace alerta que o aumento de 12,5% nas medições em relação a março do ano passado ocorreu mesmo com uma cobertura de nuvens superior, que pode ter dificultado a leitura dos radares do Deter. “O que já é ruim pode piorar, com Ricardo Salles trabalhando contra o meio ambiente e o Congresso Nacional trabalhando para legalizar grilagem, flexibilizar o licenciamento ambiental e abrir terras indígenas para mineração, o desmatamento tende a continuar em alta”, diz.

O Greenpeace afirma que o governo Bolsonaro é responsável por um “aumento histórico do desmatamento com taxas anuais não observadas desde 2008, com 9% de aumento em 2020 comparado ao ano de 2019”. A organização ainda lembra a paralisação do Fundo Amazônia e corte de recursos para a proteção do meio ambiente, como verificado no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2021.

Carta a Biden

Desde que assumiu a Presidência, Jair Bolsonaro (sem partido) e sua equipe ambiental são alvos de diversas críticas de líderes mundiais e de entidades ligadas à proteção da Amazônia. Nesta semana, diversas instituições que representam a sociedade civil pediram ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que interfira na política ambiental do Governo Bolsonaro.

Em um dos trechos da carta, as associações alegam que a política antiambiental desmontou órgãos de fiscalização como o  Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

“Sua política antiambiental desmontou órgãos de fiscalização, promoveu o enfraquecimento da legislação e incentiva invasões de territórios indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e áreas protegidas. A presença de invasores leva ao aumento da violência e de doenças como a Covid-19 junto aos habitantes da floresta. Recentemente, Bolsonaro foi denunciado por indígenas ao Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade”, afirmam as entidades em um dos trechos.

Internacionalmente, o País tem sido pressionado para colocar ações no combate ao desmatamento, cobrança que deve ser intensificada durante a gestão do presidente americano Joe Biden.

“Negociações e acordos que não respeitem tais pré-requisitos representam um endosso à tragédia humanitária e ao retrocesso ambiental e civilizatório imposto por Bolsonaro. A eleição de Joe Biden representou a vontade dos Estados Unidos de estar do lado certo da história. Fazer a coisa certa pelos brasileiros seria uma grande demonstração disso”, finaliza carta assinada por 199 instituições.

Cúpula do Clima

Nos dias 22 e 23 de abril, acontecerá a Cúpula do Clima, evento online convocado pelo governo dos Estados Unidos para discutir o combate à crise climática, reunindo líderes mundiais.

A atividade faz parte dos esforços do presidente norte-americano Joe Biden para reposicionar seu País como articulador internacional e liderança no combate às mudanças climáticas. No entanto, negociações nos bastidores entre os Estados Unidos e o governo de Jair Bolsonaro podem colocar em cheque essa posição pretendida por Biden.

Acompanhe a carta na íntegra:

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