Em meio à crise com Ucrânia, Rússia lança mísseis balísticos e de cruzeiro em exercícios militares

O presidente russo Vladimir Putin (D), e o presidente da Belarus, Alexander Lukashenko, assistem a exercícios militares por videoconferência em Moscou, em 19 de fevereiro (Foto: Alexei Nikolsky, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP)

Com informações do Estadão

MOSCOU — O Kremlin informou que os exercícios estratégicos russos realizados neste sábado, 19, sob a supervisão de Vladimir Putin, em meio a uma crise com o Ocidente sobre a Ucrânia, envolveram disparos de mísseis balísticos e de cruzeiro.  Na Ucrânia, líderes de dois territórios separatistas no leste assinaram neste sábado decretos de “mobilização geral” para preparação para a guerra, reforçando temores de que a Rússia possa invadir o país em breve.

“Os objetivos planejados durante os exercícios das forças estratégicas de dissuasão foram totalmente cumpridos. Todos os mísseis atingiram os alvos estabelecidos”, informou a presidência russa em comunicado. Esses mísseis, segundo o Kremlin, são capazes de transportar cargas nucleares. As agências de notícias russas RIA Novosti e Interfax disseram que os exercícios foram monitorados por Putin e pelo líder da BelarusAlexander Lukashenko, da sala de situação no Kremlin.

Anunciados na sexta-feira, 18, os exercícios militares em larga escala tiveram início horas depois de os Estados Unidos alertarem que estavam certos de uma invasão iminente da Ucrânia, onde os confrontos entre Kiev e separatistas pró-Rússia no leste estão aumentando.

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Rússia - Vladimir Putin - Alexander Lukashenko
O presidente russo Vladimir Putin (D), e o presidente da Belarus, Alexander Lukashenko, assistem a exercícios militares por videoconferência em Moscou, em 19 de fevereiro Foto: Alexei Nikolsky, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

Apesar dessa situação cada vez mais tensa no front, que custou a vida de um soldado ucraniano neste sábado, 19, seu presidente Volodimir Zelensky viaja para a Alemanha para participar da Conferência de Segurança de Munique e receber apoio do Ocidente. 

As forças armadas da Ucrânia e os separatistas pró-Rússia mais uma vez acusaram-se mutuamente de novos ataques e de violação do cessar-fogo naquela região. O Exército de Kiev relatou 66 incidentes armados até as 7h de sábado (1h de Brasília), um número particularmente alto, enquanto os rebeldes no reduto separatista de Donetsk chamaram a situação de “crítica”.

“Como resultado do bombardeio, um soldado ucraniano foi ferido fatalmente por estilhaços”, disseram autoridades militares no leste da Ucrânia.

Observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) que monitoram este conflito aberto desde 2014 alertaram no sábado para um “aumento drástico” nas violações do cessar-fogo.

Segundo Kiev, “as forças armadas controlam a situação e continuam a cumprir sua missão de repelir e conter a agressão armada da Federação Russa”.

Por sua vez, os líderes das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, onde está localizada a linha de frente que divide a Ucrânia, ordenaram uma mobilização geral neste sábado, 19, depois de anunciar a retirada de civis na sexta-feira.

O chefe da autoproclamada República Popular de Donetsk disse em um discurso em vídeo no sábado, 19, que assinou um decreto mobilizando reservas militares e instou todos os homens sãos a pegar em armas. Leonid Pasechnik, líder da autoproclamada República Popular de Luhansk, também assinou uma ordem semelhante, segundo a mídia estatal russa.

A RIA Novosti disse que a ordem proibia homens adultos com menos de 55 anos de deixar o território e permitia que as autoridades confiscassem propriedades para fins de defesa. Entenda a crise entre Rússia e Otan na Ucrânia. O que começou como uma troca de acusações, em novembro do ano passado, evoluiu para uma crise internacional com mobilização de tropas e de esforços diplomáticos

A ordem de Pushlin, que ele disse ter como objetivo combater a “agressão de Kiev”, foi o mais recente sinal de que a Rússia estava pronta para atacar a Ucrânia. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou na sexta-feira a mídia estatal russa de fazer “alegações falsas” de um genocídio em Donbass e alegar que Kiev poderia estar preparando uma ofensiva própria para justificar um ataque à Ucrânia.

A Rússia nega qualquer envolvimento no conflito no leste da Ucrânia, chamando-o de um assunto interno ucraniano. Moscou também garante que não tem intenção de atacar seu vizinho pró-ocidente, mas exige garantias de segurança como a retirada da Otan do Leste Europeu e um freio em seu expansão, que o Ocidente rejeita.

Apesar dos anúncios de retirada de tropas russas da fronteira, Biden disse na sexta-feira estar “convencido” de que Putin decidiu invadir a Ucrânia e que a multiplicação de incidentes no leste daquele país busca criar uma “falsa justificativa” para lançar seu ataque na próxima semana ou dias.

Mas enquanto uma invasão não ocorrer, “a diplomacia é sempre uma possibilidade”, disse Biden, anunciando uma reunião entre seu secretário de Estado, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, na próxima quinta-feira.

‘Campanha de desestabilização’ 

Os exercícios militares estratégicos da Rússia mobilizaram forças do distrito militar do Sul, as forças aeroespaciais, as frotas do Norte e do Mar Negro, bem como “forças estratégicas”, segundo o Kremlin. Esses últimos estão equipados com mísseis de alcance intercontinental, bombardeiros estratégicos, submarinos, navios e aviação naval equipados com mísseis submarinos convencionais.

Washington estima que a Rússia tenha 190 mil soldados nas fronteiras e território da Ucrânia, incluindo forças rebeldes separatistas. O Pentágono afirmou na sexta-feira que 40-50% das tropas russas estão “em posição de ataque” e que os incidentes na linha de frente são parte de “uma campanha para desestabilizar a Ucrânia” antes de uma invasão. 

A Rússia não divulgou o número de soldados destacados nas fronteiras com a Ucrânia ou em exercícios conjuntos com a Belarus. 

‘Reescrever as regras’ 

O Ocidente prometeu por unanimidade sanções econômicas devastadoras contra a Rússia se ela atacar a Ucrânia. Eles tornariam a Rússia um “pária”, disse uma autoridade dos EUA na sexta-feira, 18. 

Mas Putin minimizou esses avisos: “Sanções serão introduzidas não importa o que aconteça. Se houver uma razão ou não, eles encontrarão uma porque seu objetivo é conter o desenvolvimento da Rússia”, disse ele.

Na mesma linha, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a Rússia se propôs a “minar” a arquitetura de segurança europeia e está tentando “reescrever as regras da ordem internacional”. Em meio aos contatos frenéticos para buscar uma desescalada, Putin manterá uma conversa por telefone no domingo com seu colega francês Emmanuel Macron.

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