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Em meio à pandemia, os Wajãpi buscam manter formação escolar de crianças indígenas no Amapá
Escola Indígena Karapijuty, na Terra Indígena Waiãpi (Kauri Waiãpi/Divulgação/Coiab)
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15 de fevereiro de 2021
Com informações da Coiab Amazônia
AMAPÁ – A pandemia de Covid-19 impôs inúmeras dificuldades aos brasileiros. Além da doença em si, a crise econômica vem provocando desabastecimento, aumento de preços e do desemprego no País. Para muitos, no entanto, parar tudo não é uma possibilidade – é preciso trabalhar com o que se tem e avançar nas condições possíveis. É isso que fazem hoje os alunos e professores da Escola Indígena Karapijuty.
Situada na região conhecida como Triângulo do Amapari, formada por três municípios do Amapá (Laranjal do Jari, Mazagão e Pedra Branca do Amapari), no extremo norte do Brasil, os vinte alunos e dois professores daquela escola buscam manter a rotina e o cotidiano das aulas mesmo durante a maior crise sanitária do século.
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“Continuar trabalhando é, de certa maneira, fortalecer a nossa cultura, valorizar a transmissão de conhecimento dos Wajãpi. O nosso conhecimento vem em primeiro lugar para nós, ele tem muito valor para o nosso povo. A nossa cultura é muito importante porque ela surgiu no começo do tempo, junto com nosso próprio povo”, disse o professor Aikyry Wajãpi.
Os vinte estudantes da Escola Karapijuty têm entre 6 e 18 anos e passam por uma formação dividida em doze etapas. Primeiramente eles são instruídos na cultura Wajãpi, para que possam aprender a língua, a escrita e a cosmovisão do seu povo. Em seguida, eles passam para um currículo não indígena e começam a aprender coisas como português e matemática.
Problemas
A escola vive uma situação de precariedade. Hoje os professores trabalham sem contrato, não há cadeiras para todos, não há lousa e a merenda escolar vem com frequência irregular. Dali até o município mais próximo são 315 quilômetros de distância. A escola recebe, por meio do Conselho das Escolas Indígenas Wajãpi, recursos públicos do programa CAIXA Escolar, mantido pelo banco público para o fomento do ensino.
Outro grande problema, segundo o professor Aikyry, são os missionários que querem converter os Wajãpi ao cristianismo e que não respeitam a cosmologia deste povo. “Ainda assim, procuramos manter viva nossa escola e a formação das crianças. É a cultura que alimenta nossa habilidade, nossa capacidade e a nossa competência”, salienta.
“Por isso não esperamos e as aulas não pararam. Ensinamos nossos jovens a fazer os vários tipos de festas que temos, a fazer a limpeza das trilhas e picadas do nosso território, ensinamos a fazer artesanato. Isso tudo faz parte da educação que oferecemos”, continua Aikyry.
Autonomia
O professor conta também que eles aproveitam o fato de que a escola fica dentro da aldeia para trabalhar com alguma independência (“As crianças nasceram, cresceram e moram por aqui”, declarou) e que a abundância dos recursos naturais faz com que eles não sintam tanta falta da merenda escolar – cujo fornecimento foi bastante prejudicado pelo coronavírus.
“Temos muitas roças, caças e pegamos peixe com facilidade”, explicou. Por conta da pandemia, hoje é proibido entrar ou sair da Terra Indígena Wajãpi. Uma das maiores demandas daquela região, no entanto, é por mais autonomia para as escolas indígenas.
Aikiry lembra que existem várias aldeias Wajãpi que não possuem escolas, que os colégios da região precisam de manutenção constante e a própria Escola Karapijuty precisa de mais independência – hoje, ela funciona como anexo de uma das escolas daquela área.
Sobre a Terra Indígena
A língua Wajãpi é uma das famílias linguísticas do Tupi Guarani – Tronco Tupi. A Terra Indígena Wajãpi, situada no Amapá, conta com 607 mil hectares e foi demarcada e homologada em 1996. Ela reúne 1,6 mil pessoas, divididas em 100 aldeias. Existem por ali oito escolas.
Atualmente, 69 professores Wajãpi estão em processo de formação junto à Secretaria de Estado de Educação do Amapá (Seed-AP). Dez professores são formados em magistério indígena e seis Wajãpi possuem formação universitária.
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