Em nove anos, emissão de gases do efeito estufa cresceu quase 100% na Amazônia Legal, diz estudo

Em 2019, foram emitidos mais de um bilhão de toneladas de poluentes (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – A Amazônia Legal registrou um aumento na emissão de gases do efeito estufa em 2019. Segundo o estudo “Fatos da Amazônia 2021”, os nove Estados da região emitiram 1.137,13 megatons de CO2e somente em 2019, ou seja, mais de um bilhão de toneladas dos poluentes, o que corresponde a um aumento de 99,8% no comparativo com 2010, quando foram registrados 656,1 megatons CO2e.

De acordo com o doutor em clima e ambiente, professor e pesquisador Rogério Marinho, os gases do efeito estufa podem ser contabilizados como uma unidade de medida de peso, como o megaton. Dessa forma, segundo Marinho, uma medida de megaton significa um milhão de toneladas.

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“Um megaton é uma unidade de medida muito utilizada por cientistas para quantificar um milhão de toneladas. Por exemplo, o valor de 656 megatons corresponde aos milhões de toneladas de CO2equivalente e o CO2 é o dióxido de carbono, um dos principais gases do aquecimento global, o efeito estufa”, destacou.

A pesquisa, publicada na última segunda-feira, 12, em coautoria com o Instituto Imazon, leva em consideração as emissões brutas de gases na mudança de uso da terra, na energia, na agropecuária e nos resíduos e processos industriais. Segundo o estudo, o Estado do Pará foi o maior emissor em 2019, seguido de Mato Grosso e do Amazonas.

“Os dados foram coletados diretamente do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoção de Gases de Efeito Estufa (Seeg Brasil), uma iniciativa do Observatório do Clima. Posteriormente os dados foram analisados e verificados por nós da equipe responsável pela publicação”, disse nesta quarta-feira, 14, Daniel Santos, responsável pela pesquisa e consultor do Centro de Empreendedorismo da Amazônia.

À REVISTA CENARIUM, Daniel destacou que o aumento da emissão de gases do efeito estufa foi influenciado, principalmente, por conta da mudança no uso da terra. “Setor esse composto principalmente por desmatamento e queimadas de florestas na região”, destacou.

Risco

Esse crescimento, na avaliação do consultor Daniel Santos, representa um risco para as atividades econômicas das cidades em meio as temperaturas elevadas. “As mudanças climáticas causadas por esse aumento das emissões podem alterar o regime de chuvas, ocasionando grande risco seja para atividades econômicas como a agropecuária e sistema agroflorestais, piora na qualidade de vida nas cidades amazônicas com o aumento das temperatura e maior impacto ambiental sob as florestas”, frisou.

O pesquisador Rogério Marinho destacou o risco que o aumento da emissão desses gases leva ao meio ambiente. “Quanto maior a emissão desses gases na atmosfera, maior o efeito estufa. E isso ocasiona uma tendência de aquecimento da atmosfera que leva ao aquecimento global”, salientou.

O crescimento registrado nos Estados do Pará, Mato Grosso e Amazonas, conforme Marinho, está relacionado à dinâmica de uso da terra da região, ou seja, as mudanças de áreas com cobertura florestal para outro meio de uso, como a pecuária, áreas com reflorestamento e frentes de garimpo sobre a floresta, por exemplo.

“Tudo isso você desmata da floresta, você queima. E essa floresta entra em decomposição e acaba emitindo gases do efeito estufa. Esses são os Estados que mais desmataram. Rondônia ficou para trás devido ao pouco estoque de área florestal remanescente, mas também relacionado à frente de expansão do arco do desmatamento avançando no Sul do Estado do Amazonas”, pontuou.

Desmatamento e queimada

O levantamento mostra ainda que 76% do total da emissão de gases do efeito estufa de 2019 foi relacionada à mudança no uso da terra, principalmente, ao desmatamento e queimadas na região. Apesar do aumento, o estudo mostra ainda que, em relação à remoção de GEE, foram removidos 455,08 megatons CO2e da Amazônia para o mesmo ano.

Segundo a pesquisa, o ano de menor emissão de gases do efeito estufa foi 2010, quando iniciou a série histórica, isto é, quando o índice começou a ser calculado. Naquele ano, foram emitidos 656,1 megatons de CO2e, chegando a quase o dobro em 2019.

“A melhor forma de se contabilizar esses impactos do desmatamento é a relação sobre o carbono que está armazenado na biomassa da floresta, que é desmatada e passa a se decompor por meio das queimadas e outros processos de decomposição”, explicou Marinho.

Segundo o especialista, quando o carbono chega à atmosfera, ele interage com os raios solares e acaba absorvendo mais poluente. “Essa absorção aumenta a temperatura da atmosfera que, por sua vez, influencia a temperatura da superfície, causando toda essa cadeia de eventos que conhecemos como aquecimento global”, finalizou.

Fatos da Amazônia 2021

O estudo “Fatos da Amazônia 2021” faz parte da iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano de ações para a Amazônia brasileira. Ele tem o objetivo de levar condições à região para o maior desenvolvimento econômico e humano, além de atingir o uso sustentável dos recursos naturais em 2030.  

Uma das contribuições da pesquisa mostra a divisão da Amazônia com base no desmatamento total da região, garantindo análise das fronteiras que mais sofrem com pressão. Segundo o levantamento, em 2019, havia cerca de 229 municípios pertencentes à fronteira desmatada, sendo 68 sob pressão e 118 na fronteira da floresta.

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