Em que sentido a força popular deu o tom à COP30
Por: Iraildes Caldas
22 de novembro de 2025Em trinta anos de realização da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – COP, nunca se viu tanta participação popular como vimos nesta última COP30 que está ocorrendo em Belém, no Brasil. A união dos povos e o levante das forças da sociedade civil, matizadas por inúmeras entidades,redes, ONGs e o conjunto de movimentos sociais de todos os países, mostraram para os chefes de Estado os caminhos promissores para a promoção de mudanças efetivas nos rumos do Planeta.
Discutir e negociar medidas para combater o aquecimento global, a redução de emissão de gases de efeito estufa; debater soluções para a crise climática, entre outras questões, não se constituíram em ações inócuas, num país multiculturalista e de existência de uma cidadania consolidada como é o caso dos movimentos feministas do campo e da cidade, e dos movimentos indígenas.
Os governos e as forças do capital não realizarão as mudanças que o Planeta necessita se não forem confrontados pelas forças políticas da cidadania mundial. Uma correlação de forças que, segundo Antonio Gramsci (1993), é capaz de reposicionar o bloco histórico. O desafio posto às forças populares na COP30 foi a construção da unidade em meio aos idiomas diferentes, com vozes potentes que exigiram mudança de estratégias no trato da crise climática,como única solução sustentável. Os movimentos indígenas, as entidades dos povos tradicionais e os movimentos sociais de modo geral, invadiram o local onde se realizava a reunião de cúpula ou a Conferência das Partes. Uma investida necessária como única forma de os indígenas se fazerem ouvir num evento de tamanha magnitude,no qual eles não estão representados. O confronto deu a tônica à COP30,assim como a marcha mundial que reuniu em torno de setenta mil pessoas, deu o ultimato ao capitalismo global.

É a união dos povos pela justiça socioambiental que vai forçar a tomada de decisão daqui para frente. Mudanças profundas podem acontecer se esta união se mantiver. Movimentos sociais e políticos do mundo inteiro uni-vos. Este foi o grito civilizatório feito por Karl Marx, em 1848, convocando o proletariado a construírem a união revolucionária. A História já mostrou que a luta política é a única arma contra a opressão e a exploração. A Cúpula dos Povos instalada na COP30 denunciou a ausência de um projeto civilizatório voltado para assegurar a continuidade da vida humana, vegetal e animal na Terra. Um projeto político que pudesse ouvir os povos para firmar acordos colaborativos.
É preciso criar uma outra lógica de desenvolvimento que supere a dicotomia das fronteiras, construindo um projeto político que assuma e promova a perspectiva policêntrica que a Amazônia representa para o Planeta, a partir da qual seja possível a concretização de uma estreita cooperação entre atores, sujeitos e poderes. Torna-se mister a construção de instrumentos de solidariedade que remetam para o horizonte de um pacto político entre os povos. Neste horizonte, as alternativas de desenvolvimento, como sugere Alfredo Wagner Berno de Almeida (2005), podem ser atendidas como abrangendo o conjunto de medidas adotadas para colocar em execução projetos de reconhecimento do saber nativo e de suas práticas tradicionais.
A Cúpula dos Povos, espaço que reuniu em Belém movimentos sociais e populares de todos os martizes e categorias sociais, coalizões, redes e organizações da sociedade civil do Brasil e do mundo, não consistiu somente num evento paralelo à COP30, mas revestiu-se de uma potência gigantesca contra o capitalismo global. Esta potência coletiva mostrou-se poderosa e, isto, sinalizou para o fato de que a COP30 foi vitoriosa, a despeito dos discursos pessimistas de que nada valeu. Valeu sim. Os povos se levantaram, deram o grito civilizatório, exortaram os poderes constituídos, “invadiram” a cúpula dos chefes de Estado e mostraram a sua força, admoestando o grande capital. Uma força que brotou das bases, mobilizou os feminismos, os pretos e pretas, indígenas, a agroecologia, a ecologia, os saberes ancestrais, os direitos territoriais, a justiça social,enfim,exigiu equidade e os direitos da natureza. Uma potência planetária que não deve ser desmobilizada. As vozes da floresta ecoaram trazendo consigo o curupira, a mãe dos rios e igarapés, o boitatá, a saracura e todos os encantados que anseiam viver dias melhores nos braços da Mãe-Terra.