Em reality show, participante insinua que a amazonense Ruivinha de Marte não é ‘civilizada’
26 de outubro de 2022
Participante está envolvido em polêmicas de 'body shaming' e xenofobia dentro de reality show (Arte: Mateus Moura)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS – Durante formação da ‘roça’ na noite dessa terça-feira, 25, o participante do reality show ‘A Fazenda’, da Record TV, Vini Büttel discutiu com a participante amazonense Anny Bergatin, conhecida como “Ruivinha de Marte“, dizendo que “aqui, na civilização, a gente fica em silêncio quando o outro está falando“. A frase foi interpretada como xenofóbica nas redes sociais.
Vini e Ruivinha já tiveram outros desentendimentos dentro do reality show, envolvendo comentários do participante sobre o corpo da manauara. Ruivinha declarou voto no participante para que ele fosse eliminado do programa, rebatida por Vini, que comentou sobre o voto e a chamou de “planta”.
“É o voto da pessoa que nada fala, nada faz, nada age, nada opina. Eu vou falar o quê?“, disse o participante. Ruivinha retruca falando “É igual a você“, daí então Vini solta a frase que viralizou: “Você falou, eu fiquei em silêncio, eu sei que você diz que não teve educação e você não sabe quantos minutos tem uma hora, mas aqui, na civilização, a gente fica em silêncio quando o outro está falando“.
Veja vídeo:
(Créditos: Record TV)
Histórico
Narrativas em torno dos moradores do Norte e Nordeste não são novidades dentro do Brasil, o desconhecimento social e geográfico sobre as regiões é o principal motivo que levam a piadas e expressões xenofóbicas.
Mestra em Sociedade e Cultura na Amazônia, Aline Ribeiro acredita que os estereótipos sobre a região Amazônica foram por muito tempo validadas por conta do desconhecimento sobre a região. “Essa ideia pode ser válida, mas não é suficiente para entender a constância com que o Amazonas é facilmente confundido com ‘Amazônia’, por exemplo, ou a reprodução de uma noção de falta de civilidade, de cultura“, avalia.
Ela entende que as narrativas em torno da Amazônia são baseadas em estereótipos produzidos pelo pensamento colonizador, mesmo na atualidade. “Nos comerciais da própria região, vemos sempre uma natureza gigante que apequena as populações que aqui habitam“, afirma Aline.
“A Amazônia ainda é representada por um enorme vazio demográfico“, para a especialista, isso colabora com a despersonalização da região, sendo resumida à floresta, o que acaba colaborando para a noção de que não há civilidade.
Para a socióloga, as expressões culturais, sotaque e gastronomia amazonenses são sempre colocadas em um patamar abaixo e pouquíssimo relacionado a uma identidade nacional. “Esses e outros elementos contribuem para que a fala deste participante de reality seja carrega de sentidos xenófobos, pois é parte do pensamento nacional pensar a Amazônia como um vazio ou de gente pouco, ou nada civilizada“, diz.
Xenofobia
Amiga de Ruivinha de Marte, a manauara Yona Branches declarou que ficou desconfortável enquanto assistia às falas de Vini. “Um cara branco, de olhos azuis, brota com uma fala completamente xenofóbica em rede nacional dizendo que Manaus não é civilização, é muito desrespeitoso“, afirma.
“Nós ficamos muito desconfortáveis com esse tipo de comentário e só mostra que quem não teve educação é ele, que não procura um livro de geografia para pesquisar sobre nossa cidade“, afirma Yona.
Essa não é a primeira acusação de xenofobia contra o participante. Em setembro, Vini discutiu com outro participante, o iraniano Shayan Haghbin. Após insultar o participante com palavrões, Vini chamou o iraniano de “príncipe da Pérsia paraguaio“. A apresentadora do reality, Adriane Galisteu, advertiu o participante.
Shayan exigiu respeito e afirmou que as falas de Vini eram xenofóbicas e não agrediam somente ele, como toda a cultura iraniana e paraguaia. O iraniano foi expulso do programa após se envolver em uma briga, mas em entrevistas fora da casa afirmou que vai processar Vini por xenofobia.
A xenofobia, ou seja, o preconceito com pessoa de outro Estado, cidade ou País, é crime previsto na Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997, que diz: “Serão punidos os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”, e tem como pena a reclusão de dois a cinco anos e multa.
Nas redes sociais, manauaras que assistiam ao reality show reagiram às falas de Vini e após a confirmação do participante na “roça”, mutirões foram montados para garantir sua eliminação. “Manaus é uma terra incrível e vai mostrar para esse *** e calar a boca dele”, escreveu um telespectador.
(Reprodução/Twitter)
Outro defensor da Ruivinha também comentou: “Vamos te mostrar como se faz aqui na nossa civilização“, veja:
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