Em reunião com Zelensky, Lula defende cessar-fogo da guerra na Ucrânia
Por: Fred Santana
24 de setembro de 2025
MANAUS (AM) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se reuniram nesta quarta-feira, 24, em Nova York, a pedido do líder ucraniano. O encontro aconteceu durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) e teve como principal pauta a busca por alternativas diplomáticas para encerrar o conflito com a Rússia, que já ultrapassa três anos.
Durante a reunião, Lula lamentou o sofrimento humano causado pela guerra e reiterou sua convicção de que não existe solução militar para a crise. O presidente brasileiro defendeu maior envolvimento das Nações Unidas na mediação entre as partes e destacou que um acordo sobre as condições para um cessar-fogo deve ser o primeiro passo para qualquer processo de negociação.
O líder ucraniano compartilhou impressões sobre a situação no campo de batalha e sobre seus contatos com outros chefes de Estado. Zelensky agradeceu os esforços de Lula em explorar caminhos diplomáticos para a paz e ressaltou a importância do diálogo com o Brasil. Também manifestou interesse em dar continuidade às conversas bilaterais, incluindo temas econômicos e comerciais.

Lula recordou a criação do chamado Grupo de Amigos da Paz, iniciativa conjunta de Brasil e China para articular esforços multilaterais em favor de uma saída pacífica. O presidente reafirmou sua disposição em seguir contribuindo para a resolução do conflito por meio do diálogo.
Cessar fogo ainda não está em discussão
Para Héctor Luis Saint-Pierre, professor Titular de Segurança Internacional da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o Brasil está em boas condições para atuar como mediador. “Putin aceitaria a diplomacia brasileira, e se Zelensky também concordar – algo possível já que sua situação estratégica mudou, com o enfraquecimento do apoio dos Estados Unidos e a limitação dos estoques militares da Europa -, o país poderia desempenhar um papel importante”, avalia.
Apesar da mudança na relação entre Lula e Zelensky, Saint-Pierre afirma que não se trata de discutir cessar-fogo. “Nenhum lado que se vê em vantagem no campo de batalha aceita essa proposta, e a Rússia está avançando de maneira lenta, mas consistente, em uma guerra de desgaste com objetivos estratégicos mais amplos”, explica.
Caso isso venha acontecer, porém, o professor acredita que o Brasil poderia desempenhar papel relevante. “Caso o Brasil venha a ser convocado para integrar as negociações, certamente se reposicionará ainda mais no cenário diplomático mundial”, acredita.
Tensões na relação
A relação entre os dois líderes tem sido marcada por encontros ocasionais e também por momentos de tensão diplomática. Em 2023, Lula e Zelensky se encontraram pela primeira vez durante outra Assembleia Geral da ONU, mas desde então divergências políticas dificultaram uma agenda comum.
No início de 2025, críticas surgiram quando o presidente brasileiro confirmou presença em cerimônia militar em Moscou, vista por Kiev como gesto delicado no contexto da guerra. Tentativas de reunião em fóruns internacionais, como o G7, chegaram a fracassar por questões de agenda. Ainda assim, o Brasil manteve a posição de que a guerra deve ser resolvida por meio de negociações, com envolvimento direto da ONU e iniciativas coletivas.
Situação atual do conflito
A guerra entre Rússia e Ucrânia segue sem perspectiva imediata de resolução. Combates continuam intensos em regiões estratégicas do leste, como Donetsk e Zaporíjia, e também em áreas limítrofes, com relatos de ofensivas russas e contraofensivas ucranianas. Ataques a civis e destruição de infraestrutura vital, como hospitais e redes de energia, têm agravado a crise humanitária.
Apesar de iniciativas de diálogo recentes, como as negociações em Istambul, no Alasca e em Washington, ainda não foi estabelecido um cessar-fogo formal. Moscou insiste no reconhecimento de territórios ocupados e em garantias de segurança, enquanto Kiev rejeita concessões territoriais sem garantias sólidas.