Em RO, 21 cidades receberam doses de AztraZeneca vencidas; governo e prefeituras negam
03 de julho de 2021

Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – Reportagem do Jornal A Folha de São Paulo dessa sexta-feira, 02, revelou que aproximadamente 26 mil pessoas, em todo o País, foram imunizadas com vacinas AstraZeneca, dentre elas, 777 no Estado de Rondônia. A informação, porém, foi negada pelo Governo de Rondônia e as prefeituras dos 21 municípios onde as irregularidades teriam ocorrido.
Ainda na noite de sexta-feira, a Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa), por meio de nota, defendeu as prefeituras e informou que não há possibilidade de que as aplicações tenham ocorrido de maneira inadequada, uma vez que o Ministério da Saúde destina, em lotes, quantidades muito abaixo do necessário para seguir de forma mais célere com o plano de imunização.

Municípios afetados
Das 1.532 cidades brasileiras afetadas pelo suposto erro, 21 estão em Rondônia, de acordo com o Jornal A Folha de São Paulo, que divulgou o levantamento com base no cruzamento de dados do governo federal. Esse número é quase a metade dos 52 municípios rondonienses, onde a vacinação com a segunda dose para quase 800 pessoas pode ficar comprometida.
Cacoal, a 480 quilômetros de Porto Velho, com quase 90 mil habitantes, é a 10ª cidade que mais imunizou cidadãos contra a doença, atingindo 41,14% de sua população vacinada com pelo menos a primeira dose de algum dos imunizantes utilizados, até o dia 1º de julho. No entanto, também é a cidade de Rondônia que mais aplicou doses supostamente vencidas: foram 510 unidades.
Veja as cidades e unidades de saúde onde as doses foram aplicadas, em Rondônia
| Cidade | Doses vencidas aplicadas | Locais de aplicação |
| Cacoal | 510 | Unidade Básica de Saúde São Marcos/ Hospital Municipal Materno Infantil / Unidade de Saúde da Família Edmur José Marchioli |
| Porto Velho | 170 | Central de Rede de Frio |
| Ariquemes | 32 | Secretaria Municipal de Saúde/ Hospital Regional de Ariquemes |
| Jaru | 15 | Unidade de Saúde da Família Rute de Oliveira |
| Seringueiras | 14 | Unidade de Saúde da Família Nova Vida |
| Ji-Paraná | 9 | Hospital Dr. Claudionor Couto Roriz |
| Chupinguaia | 5 | Unidade Mista de Saúde José Ivaldo de Souza |
| Ouro Preto do Oeste | 3 | Centro de Saúde Ouro preto do Oeste |
| Teixeirópolis | 3 | Unidade Básica de Saúde Ester da Silva Zotesso |
| Vilhena | 4 | Unidade Básica de Saúde Leonardo Alves de Souza/ Unidade Básica de Saúde Setor 19 – Carlos Roberto Mazala |
| Urupá | 2 | Unidade Básica de Saúde Francisco Ramires |
| Cerejeiras | 1 | Unidade de Saúde da Família Fundação Nascimento de Saúde Setor B |
| Itapuã do Oeste | 1 | Unidade Básica de Saúde Setor 01 |
| Alto Alegre dos Parecis | 1 | Hospital de Pequeno Porte Enfermeira Ana Neri |
| Nova Mamoré | 1 | Centro de Saúde Eleniza Félix do Carmo |
| Costa Marques | 1 | Unidade Mista de Saúde |
| Nova União | 1 | Hospital Municipal Expedito Gonçalves Ferreira |
| Alto Paraíso | 1 | Hospital de Pequeno Porte Osvaldo Cruz |
| Theobroma | 1 | Hospital de Pequeno Porte de Theobroma |
| Pimenteiras do Oeste | 1 | Unidade Básica de Saúde Justino Maciel leite |
| Cujubim | 1 | Unidade Básica de Saúde Vanildo Chagas Hadman |
O que diz o governo?
O Governo de Rondônia, por meio da Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa), informou que o Estado não enviou doses vencidas para os municípios e que as cidades também não aplicam imunizantes fora do prazo de validade.
“Os profissionais destacados pelos municípios para aplicação das vacinas, adotam as boas práticas de vacinação, que entre vários itens observados, os lotes são devidamente verificados quanto ao prazo de validade e existe triagem rigorosa nesse processo”, destaca o posicionamento divulgado pelo executivo estadual na noite de sexta-feira, 2.
O documento ainda rebateu a denúncia, alegando que o Ministério da Saúde envia quantidades de vacinas abaixo do que é necessário para Rondônia, e que, por isso, seria impossível aplicar doses vencidas, uma vez que não sobram.
“O número de doses de vacina para Covid-19 adquiridas e distribuídas pelo Ministério da Saúde (MS) sempre foi muito aquém da necessidade para cumprir com o plano de vacinação, ou seja, na realidade, assim que chegaram nos municípios foram imediatamente aplicadas, não havendo a possibilidade de expirar seu prazo de validade”, diz um trecho.
A nota também diz que o governo “antecipou o problema”, determinando por meio do decreto n° 26.134, de calamidade pública, em vigor no Estado, que os imunizantes destinados a 1ª dose, devem ser aplicados em até 72 horas após o recebimento em cada município, “já os destinados para a 2ª dose devem ser aplicados de acordo com o agendamento prévio realizado na primeira aplicação”.
“A Agevisa informa e reafirma que os municípios do Estado de Rondônia não aplicam vacinas com prazo de validade expirado”,
enfatiza o documento.
Municípios também negam
A prefeitura de Cacoal, cidade que mais aplicou doses apontadas como vencidas, portanto inadequadas para a imunização, fugiu de esclarecimentos detalhados à imprensa. Em uma primeira nota, de apenas três linhas, disse que “a Secretária Municipal de Saúde está trabalhando na análise dos lotes, considerando que Cacoal nunca guardou doses em estoque por mais de 30 dias”.
Mais tarde, por meio das redes sociais, a pasta informou que não aplicou qualquer dose de vacina vencida. “O município nunca deixou as vacinas em estoque por longos períodos e adotou como regra disponibilizar as doses para vacinar a população imediatamente após o seu recebimento”, completou o pronunciamento.
A nota ainda classificou o episódio como indício de uma disputa político-ideológica: “por fim, que a briga política nacional não interfira nos trabalhos das prefeituras municipais no Brasil”, finalizou.
Em Porto Velho, a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) justificou que desde o início da vacinação contra a doença na capital, “não houve registro de lotes vencidos pela Divisão de Imunização da Sesau”. “Dessa forma, não houve aplicação de vacina fora do prazo de validade”, destaca a nota de esclarecimento.
“A Semusa pontualmente identificou em uma unidade de imunizante, como exemplo de lote, a expiração da data de vencimento. Ao entrar em contato com os órgãos responsáveis pelo envio, recebeu a informação de que se tratava da inversão do padrão de impressão de datas, ou seja, o mês vindo à frente do dia. A exemplo: 12/03/21, quando no padrão brasileiro, seria 03/12/21”, detalhou. Na capital, 170 doses foram aplicadas indevidamente.
Já em Vilhena, a 705 quilômetros de Porto Velho, onde 4 doses vencidas também podem ter sido aplicadas, em duas Unidades Básicas de Saúde, a administração alegou que o setor de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde (Semus) apurou e identificou que nenhuma dose foi aplicada fora da validade, na cidade.
“O erro é de inserção de dados no sistema, a partir da digitação dos números das planilhas em papel para o computador. Estamos nos aproximando de 40 mil doses aplicadas, cada uma exigindo 16 campos de informação diferentes, o que dará mais de 600 mil dados inseridos manualmente. Inconformidades pontuais são corrigidas tão logo identificadas”, declarou a Semus em nota.
Investigação
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) também se posicionaram.
Em nota conjunta, as entidades afirmaram que todos os casos (representando 0,0026% de todas as doses aplicadas no País) serão investigados e que não descartam a possibilidade de erro no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, “que desde o início da Campanha de Vacinação apresenta instabilidade no registro dos dados”.