Em RO, PRF chama manifestantes de criminosos e diz que vai usar força contra atos antidemocráticos

Última atualização da polícia rodoviária revela que, pelo menos, sete pessoas foram presas nesta segunda-feira (Thiago Alencar/CENARIUM)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Contra uma nova onda de atos antidemocráticos orquestrados por eleitores da extrema-direita ainda inconformados com a derrota de Jair Messias Bolsonaro (PL) na eleição presidencial, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Rondônia anunciou, nesta segunda-feira, 12, que vai utilizar policiamento de choque para desobstruir pontos interditados nas rodovias do Estado. “São pessoas criminosas e não manifestantes”, afirmou a polícia. 

Pontos da BR-364 e da BR-435 voltaram a ser fechados no último domingo, 11, e os bloqueios aumentaram nesta segunda-feira. Pelo menos quatro locais permanecem nessa situação em dois municípios do interior: Cacoal e Colorado do Oeste. Pela manhã, a PRF chegou a registrar oito interdições em seis cidades. 

Além de equipes da polícia rodoviária, agentes da Polícia Federal (PF), do batalhão de choque da Polícia Militar (PM) e militares do Corpo de Bombeiros estão em deslocamento rumo a esses locais, visando liberar todos os pontos de interdição.

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“A PRF não tolerará mais nenhum ato de vandalismo e ato criminoso de pessoas que se dizem ser manifestantes e que, na verdade, são criminosas”, disse o policial e assessor de imprensa da PRF, Antony Montenegro, em comunicado feito por vídeo.

“Não iremos tolerar ônibus sendo incendiados, pessoas querendo tratamento em um hospital e tendo seu direito de ir e vir sendo cerceado, assim como pessoas da sociedade que, independentemente dos motivos, querem se descolar. Não iremos tolerar, também, pessoas da sociedade e integrantes da nossa força e de forças coirmãs, sendo agredidas (…) dentro do possível e dentro da legalidade, nós iremos agir e, se necessário for, aplicaremos o uso da força”, continuou o agente.

Polícia prendeu manifestantes e recolheu “aparato, normalmente, apreendido com organizações criminosas” (PRF/Reprodução)

Extremismo

A interdição realizada em Colorado do Oeste, distante mais de 700 quilômetros de Porto Velho, é o único local a permitir o fluxo para veículos de pequeno porte, no sistema de pare e siga. Nas demais localidades, só passam ambulâncias e viaturas, gerando revolta em motoristas e passageiros.

Nesses locais, onde os ânimos entre motoristas e manifestantes ficam exaltados, as forças policiais têm agido contra atos de vandalismo. Em um ponto de bloqueio na BR-364, entre os municípios de Jaru e Ouro Preto do Oeste, a PM flagrou três homens tentando incendiar um ônibus de viagem interestadual. Um deles foi baleado na perna pelos agentes e foi preso.

Criminosos tentaram fugir com uma caminhonete durante troca de tiros com a polícia (PM/Reprodução)

A polícia informou que os suspeitos estacionaram uma caminhonete às margens da rodovia e abordaram o motorista do veículo. Um deles estava armado e um outro comparsa segurava um recipiente com combustível. Todos eles estavam com os rostos cobertos e pediram para os passageiros evacuarem os ônibus. 

Ao checar a movimentação estranha, os PMs foram recebidos a tiros. Os homens tentaram fugir com a caminhonete, durante a troca de disparos, mas não conseguiram. Por isso, eles abandonaram o carro e correram em direção à vegetação. Os dois que conseguiram fugir ainda não foram localizados.

Vandalismo

Um dia antes, na noite do último domingo, 11, outro ônibus de transporte coletivo foi alvo de ataques, em uma concentração de manifestantes extremistas. Este, no entanto, foi totalmente incendiado. O caso ocorreu em Ji-Paraná, a 372 quilômetros da capital.

“O condutor, de 29 anos, assumiu a direção do veículo em Cacoal (RO) e iria até Porto Velho. No entanto, ao chegar em Ji-Paraná, os manifestantes o impediram de prosseguir a viagem. Durante a ação, o ônibus seguia o itinerário com 22 passageiros que foram ameaçados, com pedaços de pau e barras de ferro a descerem do veículo com todas as bagagens. Em seguida, os criminosos furaram os pneus e atearam fogo”, detalhou a Polícia Rodoviária Federal.

Ônibus de transporte coletivo foi incendiado por oito homens encapuzados (PRF/Reprodução)

Os manifestantes fugiram logo após o crime e ainda não foram localizados pela PRF e pela PM, que realizaram buscas. Nenhum dos 22 passageiros ficou ferido.

Em um vídeo gravado no local, um homem afirma que o incêndio não teve relação com o bloqueio e diz que “o povo de direita faz manifestações ordeiras”. Já a Eucatur, empresa responsável pelo veículo, alega que o ônibus foi invadido por oito homens encapuzados.

Em vídeo, homem tenta desvincular ata de manifestações antidemocráticas, em Rondônia (Redes Sociais/Reprodução)

“Você, da sociedade de bem, eu te faço uma pergunta”, diz o policial Antony Montenegro. “De qual lado você está? Do lado da polícia, que está tentando desbloquear e fazer com que o direito de ir e vir das pessoas seja mantido ou do lado de pessoas que se dizem ser manifestantes mas, na verdade, são criminosas e estão realizando atos de vandalismo e atentando contra a sociedade e também contra os agentes de segurança pública? Te faço esse questionamento“, ironizou o agente.

Prisões

Última atualização da polícia rodoviária revela que pelo menos sete pessoas foram presas nesta segunda-feira. Um homem de 39 anos, que estava com uma caminhonete, foi um dos alvos, em Ji-Paraná. No interior do veículo, os policiais encontraram uma pistola calibre 40, acompanhada de cinco carregadores e 44 munições, além de uma espingarda calibre 12 acompanhada de 15 munições; quatro celulares; um par de algemas; três balaclavas (capuzes) e quatro rádios comunicadores, que, inclusive, estavam sendo utilizados para obter informação dos órgãos de Segurança Pública.

“Esse aparato, normalmente, é apreendido com organizações criminosas”, afirma a polícia.

Sete pessoas envolvidas nos ataques realizados am atos antidemocráticos foram presas nesta segunda-feira (PRF/Reprodução)

Sem dar detalhes, a PRF também informou à CENARIUM que seis pessoas foram presas, na tarde desta segunda, em Vilhena (RO), a 705 quilômetros de Porto Velho, durante desobstrução do bloqueio realizado na cidade.

Motoristas e passageiros parados entre os municípios de Pimenta Bueno (RO) e Vilhena (RO) comemoram liberação da BR-364 (Maison Bertoncello/Reprodução)

O que diz o governo

Por meio de nota, o governo de Rondônia manifestou repúdio aos atos antidemocráticos e diz que se empenha, disponibilizando equipes policiais para dar apoio às ações de repressão. 

“O Governo de Rondônia repudia qualquer movimento que atente contra o direito constitucional de ir e vir das pessoas, considerando os prejuízos causados para a economia, bem como aos demais serviços públicos de saúde, como o transporte de pacientes, por exemplo, que afeta a coletividade e o bem-estar social”, consta no pronunciamento.

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